Em meio ao debate sobre segurança pública, Elmano endurece discurso de combate às facções
Falas de Elmano mostram um tom mais firme no debate sobre a segurança pública do Estado. Petista, porém, afirma que o discurso é o mesmo desde quando assumiu o governo
Com as disputas entre facções criminosas e o número de homicídios no Ceará em outubro, a segurança pública virou tema central da discussão política no Estado. O tópico tem sido trabalhado pela gestão do governador Elmano de Freitas (PT) que, além de promover ações na área, subiu o tom contra as organizações criminosas.
No último dia 9, o governador utilizou as redes sociais para destacar que a determinação à polícia é de “ir cada vez mais para cima das facções com a força que for necessária” para combater as ações criminosas. "Quem ameaçar nossa população deve receber resposta à altura, dentro da lei. Nossas tropas terão sempre meu apoio nessa luta”, escreveu.
Leia mais
O posicionamento ocorreu dias após uma operação policial em Canindé realizada no final de outubro. A ação resultou na morte de sete suspeitos de ligação com a facção criminosa Comando Vermelho. Entre os mortos estavam dois adolescentes, de 15 e 16 anos de idade.
Horas após a ação, Elmano parabenizou a Polícia Militar do Ceará (PMCE) e destacou que, apesar da troca de tiros registrada, nenhum policial morreu e nenhum “inocente” foi atingido durante a operação. “Nenhum policial morto. Nenhum inocente alvejado. A população protegida. Parabéns à nossa Polícia Militar do Ceará!”, pontuou na ocasião.
A operação em Canindé ocorreu três dias depois da operação registrada no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos e é considerada a mais letal já registrada no estado. Cláudio Castro (PL), governador do RJ, avaliou a ação como um “sucesso”, apesar das críticas relacionadas ao uso da força e ao número de mortes.
Castro, inclusive, parabenizou Elmano e elogiou a atuação das forças de segurança cearenses pela operação em Canindé. O governador do Rio é do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tem adotado postura de linha dura no combate ao crime organizado. Já Elmano, do PT, tem forte ligação pessoal e política com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Que morra o bandido"
No último dia 4, em coletiva de imprensa realizada depois da reunião da bancada federal do Ceará em Brasília, Elmano voltou a comentar a ação em Canindé e considerou que, em um confronto com polícias, torce para que os bandidos levem a pior.
“Recentemente, tivemos um confronto com a morte de sete faccionados no Ceará em um horário que, penso eu, foi a maneira correta. Não tem um policial morto, não tem uma pessoa inocente que foi morta ou foi colocada em risco. É necessário, muitas vezes, fazer o confronto. E eu já disse algumas vezes, em confronto da polícia militar com o bandido, que morra o bandido e o policial militar possa ter sua vida preservada", declarou.
O petista reforçou o posicionamento: "Essa é a nossa posição e nós vamos continuar a fortalecer as forças de segurança para fazer os confrontos que forem necessários, mas sempre com o cuidado de não deixar a população civil no meio de um conflito armado, que às vezes é necessário ser feito entre a polícia e uma facção”, pontuou.
Essa não foi a primeira vez que afirmação do gênero foi feita por Elmano. Em março deste ano, uma ação policial foi realizada no município de Parambu, localizado a 405 quilômetros de Fortaleza, resultou na apreensão de fuzis e drogas, além da morte de dois homens suspeitos de assalto a banco.
Novamente pelas redes sociais, Elmano comentou sobre a “determinação de sempre agir dentro da lei, mas com a força que for necessária”.
“Entre um policial ser vítima e bandidos tombarem, que eles levem sempre a pior. Minha determinação será sempre agir dentro da lei, mas com a força que for necessária para combater firme o crime e dar mais paz para nossa população. Nossas Forças de Segurança têm meu apoio”, destacou o governador sobre o caso.
Discurso em 2022
Em 2022, quando Elmano foi candidato ao Governo do Ceará ao lado da vice Jade Romero (MDB), as propostas sobre segurança pública incluíam a integração das forças no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), a aquisição de mais armas e equipamentos de última geração, a ampliação do Raio, a contratação de agentes de segurança e a implantação de bases de segurança.
A proteção da juventude, com a qualificação dos jovens e mais oportunidades de lazer, cultura e esporte, também foi destacada como proposta pelo petista.
Além disso, havia um destaque do que foi feito durante a gestão do ex-governador Camilo Santana (PT) e do que seria expandido por Elmano a partir do ano seguinte. O slogan da campanha era de um “Ceará três vezes mais forte”, com o presidente Lula e o senador Camilo, atualmente ministro da Educação.
Em entrevista ao podcast Jogo Político em agosto de 2022, Elmano defendeu a união de esforços para o combate do avanço das facções criminosas.
“Acho que o melhor é termos união de esforços, a clareza de que as organizações criminosas são um problema no país inteiro, que nós temos que reforçar a inteligência, a Polícia Civil, que temos de ter um comando de policiamento militar nessas áreas mais críticas, que nós temos que continuar valorizando as forças de segurança”, afirmou na época.
Na mesma entrevista, criticou as “torres de segurança” em Fortaleza e defendeu um trabalho de inteligência, além de uma política mais intensa de apoio à juventude.
“É uma política insuficiente. O elemento central [para combater o crime organizado] é fortalecermos a Polícia Civil e a inteligência, integrarmos esforços. As torres podem ajudar, mas temos que entender que o crime se mobiliza. Você colocando uma torre numa área, o criminoso vai para outra área, é isso que acontece. Ela não resolve. Ela ajuda, mas ela não resolve, precisamos ter trabalho de inteligência, trabalho da Polícia Civil, continuar fortalecendo”.
Em setembro de 2022, em entrevista à TV Ceará, Elmano foi questionado sobre uma “lacuna” na segurança que corrigiria e respondeu que gostaria de uma “política de juventude mais ousada”.
“Uma política de juventude que se aproxime desse jovem que já terminou o Ensino Médio, que não conseguiu um emprego, não está tendo oportunidade e eu me aproxime desse jovem e possamos ver as possibilidades de qualificação, capacitação, de ajudar no empreendedorismo para que ele possa ter um projeto de vida e a gente possa ter uma outra canalização da energia dessa juventude. Isso eu acho que é um limite que nós tivemos no nosso projeto e que considero estratégico para nós garantirmos mais tranquilidade e segurança para nossa população”.
Mudança na Secretaria da Segurança
Em maio de 2024, mudança no comando da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) foi anunciada pelo governador. Na época, o ex-secretário Samuel Elânio avaliou que a taxa de homicídios no Estado estava em aumento, mas que ainda se tratava de um número “razoável”.
A fala repercutiu negativamente, principalmente entre nomes da oposição, como o ex-deputado Capitão Wagner (União) e o ex-prefeito José Sarto (PSDB). Pouco tempo depois houve troca.
Desde então, o cargo é ocupado pelo atual secretário Roberto Sá, que já comandou a pasta no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, além de ter sido subsecretário de Planejamento e Integração Operacional do Rio. Sá tomou posse no mês seguinte e a mudança foi considerada pelo governador como uma nova fase para a segurança do Estado, com maior foco em policiamento ostensivo.
O discurso de Elmano durante o evento também foi um dos primeiros em que o governador subiu o tom em relação à segurança pública. Na ocasião, ele enfatizou que “bandido no Ceará será tratado como bandido” e exigiu que aqueles que estão no crime “tratem de ir embora do Ceará”.
Ainda em junho de 2024, Elmano defendeu que a esquerda brasileira precisa se atualizar no debate sobre a segurança pública.
Opinião é a mesma
Em coletiva de imprensa em Brasília no último dia 4, Elmano afirmou que não mudou de opinião sobre o tema da segurança pública e, além de defender força e enfrentamento, destacou a necessidade de políticas sociais e política de prevenção.
“Não mudei nenhuma opinião sobre a questão da segurança. Eu mantenho a mesma opinião que eu sempre tive. Que nós precisamos ter políticas sociais, precisamos ter política de prevenção, que nós precisamos efetivamente ter presença nos bairros, e não apenas ir lá e sair. Agora, precisamos ter força, enfrentamento e é isso que nós estamos fazendo no Ceará”, comentou.
Em seguida, declarou que o discurso é o mesmo desde quando assumiu o cargo: “Nós contratamos mais de 2.000 policiais militares, mais de 400 policiais civis, investimento na perícia forense. Estamos fazendo concurso para fortalecer as forças de segurança, estabelecemos parceria com o Tribunal de Justiça e com o Ministério Público, o que nós temos efetivamente no caso do Ceará é o mesmo discurso desde quando assumi. É ação solidária com a população que mora no bairro e ação firme e dura contra o crime organizado”, completou.
Convite para CPI no Congresso
Elmano também comentou sobre o convite para ir a uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado. O petista considerou a importância da discussão e defendeu a alteração na lei referente às organizações criminosas, mencionando também a PEC da Segurança Pública.
“Eu tenho certeza que todos os governadores vão ficar muito satisfeitos de poder discutir com o Congresso Nacional o enfrentamento ao crime organizado que precisa ser feito no Brasil. Nós precisamos mudar a lei de progressão de regime de pena para as organizações criminosas", defendeu.
Ele continuou: "Precisamos integrar mais as nossas forças com o Governo Federal e é importante que a PEC da Segurança Pública também seja aprovada, mas eu tenho a impressão de que vai ser uma oportunidade muito importante dos governadores do país poderem dialogar com o Congresso Nacional e solicitar medidas legislativas que favoreçam os governos estaduais a enfrentarem o crime”, avaliou.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente