Casarão da Água Verde é iluminado para o Natal em Guaiúba

A programação cultural de Natal em Guaiúba teve início com a presença de artistas locais e autoridades, além da forte participação popular

13:00 | Dez. 06, 2025

Por: Isabella Pascoal
A iniciativa faz parte do Natal com Arte 2025 – A Celebração da Vida da Prefeitura de Guaiúba (foto: Edimilson Coelho/Divulgação)

O brilho das luzes tomou conta do Casarão da Água Verde e anunciou que o Natal já chegou ao município de Guaiúba, a 34 quilômetros de Fortaleza. O acender das luzes abriu oficialmente a programação do Natal 2025 no Município.

A programação passou a integrar oficialmente a época natalina a partir da gestão da prefeita Izabella Fernandes, que tomou posse em 2021.

Segundo ela, a proposta surgiu da necessidade de aproximar a população de sua própria memória.

“A ideia de trazer o Acender das Luzes para o Casarão nasceu do nosso compromisso de valorizar o patrimônio histórico do município. Queremos que a população se reconheça nesse espaço, que é parte viva da nossa memória, e que a cultura esteja cada vez mais presente na rotina das famílias”, comenta.

O Natal com Arte é o principal evento cultural do Município e reúne, ao longo de dezembro, apresentações de teatro, dança, coral e diversas manifestações artísticas.

A partir da abertura com o Acender das Luzes, o casarão permanece iluminado durante todo o mês.

Projeto mira turismo, cultura e desenvolvimento econômico

Além do simbolismo natalino, a Prefeitura de Guaiúba desenvolve projeto com objetivo de transformar o Casarão da Água Verde em polo permanente do turismo cultural do Município.

Entre as propostas está a implantação do Museu Histórico Municipal, que reunirá documentos, peças e registros da trajetória da cidade.

Também está em pauta a criação de um Polo Gastronômico, voltado ao fortalecimento da economia criativa, à valorização de empreendedores locais e à consolidação de Água Verde como destino turístico no Maciço de Baturité.

Atualmente, o Casarão pertence ao Estado. No entanto, a gestão municipal articula a cessão do espaço para viabilizar os projetos de museu e polo gastronômico, garantindo que o equipamento seja utilizado de forma permanente.

Entre a história, a memória e os mistérios

Além da importância arquitetônica e afetiva, o Casarão da Água Verde também carrega narrativas que atravessam o imaginário popular.

Localizado às margens da CE-060, no distrito de Água Verde, o espaço ganhou, ao longo do tempo, a fama de ser "mal-assombrado".

Relatos de fenômenos sobrenaturais fazem parte das histórias contadas por moradores: luzes que se apagam sozinhas, sons de correntes pelos corredores, choros de crianças na madrugada e vultos que atravessariam os salões do imóvel.

Essas lendas transformaram o casarão em personagem da cultura local e também da literatura.

O espaço é protagonista do romance "Progresso Obscuro", escrito pelo historiador e professor Marcos Fábio Oliveira, pelo administrador Leonardo Alves e pelo designer gráfico e graduando em História Leiwilson Silva.

A obra se inspira na atmosfera enigmática do lugar para reconstruir, em forma de ficção histórica, episódios que atravessam a memória da região.

O Casarão da Água Verde pertenceu à antiga fazenda da família Cavalcante e foi erguido em meados da década de 1990 por um dentista da família, Durval, sobre as ruínas de uma construção mais antiga.

Edificado em dois pavimentos, o Casarão da Água Verde apresenta, no primeiro piso, cômodos amplos e bem definidos, enquanto no segundo andar se destacam portas, janelas e longos corredores com aberturas que favorecem a circulação de luz e de ar.

Essa configuração arquitetônica, típica das grandes casas rurais da época, também alimenta questionamentos sobre os usos do espaço ao longo dos anos.

 

Entre as dúvidas que atravessam a história do imóvel está a possibilidade de que parte da área tenha funcionado como senzala. No entanto, não há registros oficiais que comprovem essa utilização.

O que se sabe, a partir de documentos históricos, é que a família proprietária da antiga fazenda possuía pessoas escravizadas.

O que insere o espaço no contexto mais amplo da escravidão no Ceará, ainda que sem confirmação direta sobre o uso específico do casarão para esse fim.

Esse debate histórico ganha ainda mais peso simbólico pelo fato de o Casarão estar situado próximo a Redenção, município cearense conhecido nacionalmente por ter sido o primeiro a abolir oficialmente a escravidão no Brasil.

Entre fatos documentados, memórias orais, mistérios e disputas políticas, o Casarão da Água Verde segue atravessando o tempo como um dos espaços mais simbólicos de Guaiúba — agora também ressignificado como palco de cultura, celebração e encontro.