Hub criativo para juventudes das favelas é inaugurado em Fortaleza

Hub criativo para juventudes das favelas é inaugurado em Fortaleza

Favela Hub começa a operar na Praia de Iracema com cursos, mentoria, IA e acesso a crédito para acelerar a inclusão produtiva em 2026
Atualizado às Autor Mariah Salvatore Tipo Notícia

Fortaleza passa a contar com um novo equipamento voltado à formação profissional e ao fomento da economia criativa, nesta sexta-feira, 12: o Favela Hub, instalado na Praia de Iracema.

A iniciativa, construída em parceria pelo Governo do Ceará, Prefeitura de Fortaleza, Central Única das Favelas (Cufa) e Banco do Nordeste, busca transformar talentos de comunidades periféricas em empreendedores, produtores de conteúdo, profissionais de tecnologia e criadores de soluções inovadoras.

O objetivo central, segundo as autoridades e lideranças entrevistadas, é direto: incluir social e produtivamente a juventude, colocando-a no mercado “com dinheiro no bolso”, como sintetizou a vice-prefeita de Fortaleza, Gabriela Aguiar.

O hub começa com investimento inicial de R$ 2,5 milhões, aplicado pela Cufa com apoio dos Ministérios dos Direitos Humanos e da Educação, e já nasce com parcerias estruturadas para formação, crédito, infraestrutura tecnológica e oportunidades reais de geração de renda.

Um ponto de encontro entre juventude, tecnologia e vocação criativa

O secretário-executivo de Esporte, Juventude e Lazer e gestor do FavelaHub, Neto Muniz, explica que a escolha da Praia de Iracema não é acidental. O território, historicamente ocupado por juventudes de vários bairros da Capital, já é ponto de convivência, o que facilita a chegada dos cursos, mentorias e atividades do hub.

“A Praia de Iracema se tornou um point da juventude. Se eles já vêm para cá para se divertir, por que não oferecer também um espaço onde eles aprendam, produzam e se sintam pertencentes?”, afirma Neto Muniz.

Ele destaca que o Favela Hub reúne coworking, estúdios de audiovisual e podcast, oficinas, palestras, estúdio de conteúdos digitais, espaço de empreendedorismo, além de uma agência de comunicação com linguagem das favelas.

O CRIA, Centro de Referência em Inteligência Artificial da UFC, também integrará metodologias formativas.

“Eles vão estruturar metodologias de trabalho baseadas em pesquisas, permitindo que a gente potencialize o uso de inteligência artificial, formação híbrida e processos de mentoria alinhados às demandas reais do mercado”, complementa.

Criatividade como ativo econômico das periferias

Para o presidente global da CUFA, Preto Zezé, o projeto parte do reconhecimento de que a favela já produz economia, ainda que fora dos modelos formais.

“A periferia já tem uma economia que acontece, embora na informalidade. O desafio é captar essa economia e formalizá-la. A gente até brinca que empreendedorismo é uma palavra pouco compreendida — porque na favela a gente sempre fez o nosso corre, nosso se vira, nosso pulo. Isso já acontece naturalmente.”, explica.

Segundo ele, o hub usará o que já é forte nos territórios: a criatividade, amplamente expressa em música, esportes, audiovisual e inovação.

O sistema de funcionamento é comparado a um “condomínio de oportunidades”, com empresas públicas e privadas atuando lado a lado para formação, crédito, mentoria e suporte técnico.

A meta inicial é atender 450 jovens por ciclo, com turmas rápidas renovadas a cada três meses e meio. Há ainda negociações para replicar o modelo em Maricá (RJ) e Maceió (AL).

Crédito acessível e ampliação de editais em 2026

O Banco do Nordeste é um dos parceiros residentes do hub e deverá ofertar microcrédito, linhas de financiamento e apoio ao empreendedorismo.

A diretora de Administração do banco, Ana Teresa Barbosa, explica que não se trata de algo novo, mas da ampliação de políticas que já existem:

“O BNB já faz esse atendimento ao público que é a cara do banco: pessoas que fazem as coisas acontecerem e têm o empreendedorismo na veia. Aqui estamos ampliando e divulgando mais.”

Para 2026, ela antecipa novos editais e programas voltados à economia criativa e tecnologia, não só no Ceará, mas em toda a área de atuação da instituição.

“Vamos ter várias chamadas e muitas apostas novas. Esse é o público que queremos atender”, ressalta.

Cursos que nascem das demandas das próprias favelas

O presidente da Cufa Ceará, Wilton Santos, mais conhecido como Piqqueno, afirma que os cursos foram definidos a partir das sugestões da própria comunidade.

As primeiras formações incluem:

  • fotografia
  • design gráfico
  • produção musical
  • produção de eventos
  • comunicação marginal

“Não fazemos nada para o nosso público; fazemos com eles. Há muita gente produzindo rap, vídeo, marketing digital. O hub junta quem fala a mesma linguagem e busca as mesmas oportunidades”, esclarece.

As inscrições começam na segunda-feira, 15, e as aulas iniciam na segunda quinzena de janeiro, às 10h, com opção presencial e online. Sendo possível acessar através do site da Cufa, e do Favela Lab.

Da vivência no território à demanda real do mercado

A leitura sobre quais áreas devem gerar impacto mais imediato no Favela Hub vem de quem acompanha, há anos, a realidade das comunidades da região.

Felipe Souza, coordenador da UPA do Poço da Draga e atual diretor de Relações Comunitárias do hub, construiu sua trajetória dentro da CUFA desde a adolescência, quando teve os primeiros contatos com os projetos da organização por meio do basquete de rua.

Hoje, atuando diretamente na articulação entre o espaço e o entorno, Felipe avalia que a chegada do hub à Praia de Iracema representa uma mudança concreta para jovens das comunidades próximas.

“Ter um hub criativo desse na área central da Praia de Iracema é de mera importância. É um espaço aberto para a comunidade, para os jovens de Fortaleza e das regiões próximas”, afirma.

Conforme ele, a percepção sobre as áreas prioritárias não é teórica. Vem da experiência prática com o projeto Estação Favela, realizado em 2023 nas unidades da CUFA do Poço da Draga e do Barroso.

“A gente conseguiu ver que a necessidade era grande na parte de tecnologia, de videomakers, de cerimonialista. É uma área que está crescendo muito, e a juventude está querendo aprender, querendo estar dentro desse ramo.”

Para Felipe, entre os setores com impacto mais imediato estão mídias sociais, produção de conteúdo digital, tecnologia e Inteligência Artificial — campos que despertam interesse espontâneo entre os jovens e dialogam diretamente com as exigências atuais do mercado de trabalho.

“É um impacto de grandeza. A garotada já tem uma expertise e quer aprender mais. O hub chega para fortalecer isso.”

Empregabilidade como meta explícita da Prefeitura

A vice-prefeita Gabriela Aguiar afirma que o Favela Hub se encaixa no plano mais amplo de redução das desigualdades sociais da gestão municipal.

“A gente quer que o jovem saia daqui com dinheiro no bolso e oportunidade de trabalho. Isso sim é inclusão social produtiva.”

Ela afirma que Fortaleza e o Ceará trabalham para consolidar o Estado como polo de tecnologia, energias renováveis e criatividade, e que o hub está alinhado a esse movimento.

“É um ponto onde a gente une inovação, tecnologia, tradição e oportunidade. Quero ser embaixadora de ações como essa nos 121 bairros.”

Economia Criativa: geração de renda, inclusão social e pertencimento

Mais notícias de Economia

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar