Testamos: Realme C55 se esforça, mas segue aquém da concorrência

Smartphone da Realme destoa do segmento de entrada em especificações e preço, porém não oferece o suficiente para concorrer com intermediários

Ser a repórter especialista em Tecnologia, em um veículo de abrangência ampla como O POVO, significa que, via de regra, todos os reviews de eletrônicos são feitos por mim. Isso me traz a oportunidade de usar produtos topo de linha, como o smartphone Galaxy S23 Ultra, da Samsung, ou os periféricos (teclado e mouse) da linha MX, da Logitech.

Mas nem só da prateleira de cima vive o mercado. Pelo contrário, a imensa maioria dos compradores não faz questão de especificações tão avançadas, especialmente quando isso traz a vantagem de economizar centenas (ou milhares) de reais.

Quando a Realme me enviou o 10 Pro+ (e o antecessor, 9 Pro+, para um comparativo entre gerações), mais recente lançamento da empresa no Brasil, perguntou se eu gostaria de testar também o C55. Mais trabalho para mim, certamente, mas também mais diversão - sou das nerds velha guarda que realmente se anima com eletrônicos.

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Embora seja o modelo mais caro da linha C, de smartphones de entrada, o C55 segue sendo um smartphone de entrada. O preço, porém, chega com bastante folga no segmento de intermediários: embora atualmente em promoção a R$ 1.800, O C55 custa R$ 2.300 normalmente.

Quando automóveis não tinham um preço absolutamente proibitivo, era comum a mídia especializada no setor automotivo fazer análises no estilo "carro popular equipado contra modelo médio sem opcionais". Aqui a reflexão é similar: vale mais pegar um smartphone "básico avançado" ou um "intermediário de entrada"?

Usei o Realme C55 como um dos meus smartphones nas últimas semanas. Abaixo, conto minha resposta a esta pergunta. Confira!

Sobre este review: a Realme me enviou o C55 para análise em 26 de abril. O aparelho foi devolvido após os testes, e a fabricante não teve influência no conteúdo deste texto.

Parâmetros de comparação: no meu período com o C55 usei também os modelos 8 Pro, 9 Pro+ e 10 Pro+, da própria Realme; Reno7, da Oppo, e M54 e S23 Ultra, da Samsung

Realme C55: especificações e disponibilidade

  • Tela: 6,72", Full HD+ (1.080 x 2.400 pixels, proporção 20:9), 90 Hz, IPS LCD, brilho de 680 nits (máximo)
  • Câmeras:
    • 64 MP, f/1.79, 25 mm, sensor de 1/2", autofoco, imagens finais de 16 MP (principal)
    • 2 MP, f/2.4 (profundidade)
    • 8 MP, f/2.0, 26 mm, sensor de 1/4", foco fixo (frontal)
  • Bateria: 5.000 mAh, carregamento cabeado de 33 W
  • Memória: 256 GB; 8 GB de RAM (no Brasil, outros países têm mais variações)
  • Conexões: 4G, Bluetooth 5.2 e WiFi 5 (sem fio); entrada USB-C e 3,5 mm (cabeado)
  • Processador: MediaTek Helio G85 (octa-core, 12 nm)
  • Acabamento: vidro (fabricante não especificado) tela, moldura e traseora em plástico. Disponível nas cores Rainy Night (preto azulado) e Sunshower (prata iridescente) no Brasil.

No momento em que este review era escrito, a versão com 256 GB de armazenamento e 8 GB de memória do Realme C55 (única disponível oficialmente, combinações diferentes são importadas e, portanto, sem garantia) podia ser comprada na loja oficial da Realme por R$ 1.792 à vista ou a prazo.

Na caixa, C55 traz o conjunto generoso da Realme

Sempre lembro que, apesar de uma tendência forte entre muitas fabricantes, vender celulares sem carregador, no Brasil, é uma péssima ideia. O acessório, especialmente nestes tempos de recargas extremamente potentes, não é uma adição de valor agregado e, portanto, dispensável, mas sim um item caro e essencial ao funcionamento do smartphone.

Por isso, o pacote da Realme cumpre o necessário e vai além. A empresa envia uma película (pré-aplicada) e capa para o celular, itens que podem ser difíceis de encontrar para smartphones de marcas menos conhecidas no mercado local. O carregador entrega os 33W de potência que o aparelho consegue receber, e o cabo é USB-C para USB-A.

A caixa em si segue o amarelo chamativo da Realme, em papel cartão de boa qualidade. Tanto em forma quanto em conteúdo, a caixa do C55 se sai melhor que a de concorrentes na mesma faixa de preço - e até um pouco além.

Design: bordas retas do C55 são coesas

Realme C55 tem corpo em plástico, com acabamento que imita aço escovado e efeito furta-cor na traseira
Realme C55 tem corpo em plástico, com acabamento que imita aço escovado e efeito furta-cor na traseira Crédito: Bemfica de Oliva

Embora possa parecer estranho, é bem recorrente que smartphones da mesma empresa tenham semelhanças demais ou excessivamente poucas entre si. A exemplo do Galaxy M54, que analisei recentemente, e foge a esta regra: o aparelho tem uma identidade própria, é bastante similar a outros modelos da linha M, e remete apenas o estritamente necessário a celulares da Samsung como um todo.

Na linha C da Realme, esta coesão vai além. Todos os modelos trazem exatamente as mesmas linhas básicas, e cada um traz seu diferencial. Isso também vale para este caso.

O Realme C55 traz as bordas retas e câmeras traseiras em grandes aberturas circulares, como toda a linha C (e, neste último aspecto, aparentemente como quase todos os smartphones recentes). De identidade própria, o acabamento que imita aço escovado, com a parte próxima às lentes sendo refletiva.

Lá fora, o modelo é oferecido também na tonalidade Rainforest (turquesa). As cores disponíveis no Brasil são Rainy Night, um preto azulado; e Sunshower, um misto de prata e dourado com tons iridescentes - a unidade de testes veio com essa pintura.

A sensação visual da parte fosca é agradável, e o acabamento ajuda na aderência. As bordas retas, por outro lado, me trazem a sensação de não conseguir segurar o aparelho tão firmemente quanto deveria - e, com uso prolongado, incomodam na mão.

A frente abriga a tela de 6,72" e a câmera frontal. A borda superior é mais grossa que as laterais, e a inferior tem espessura maior que todas.

Na parte esquerda da moldura há a bandeja para chips (dois de operadora e um cartão de memória), enquanto a direita traz os botões de volume e liga/desliga (com leitor de digitais integrado). A parte inferior traz as entradas USB-C e 3,5 mm, o microfone e o auto-falante, enquanto a superior é lisa - sem microfones auxiliares aqui.

Realme C55 traz câmera difícil de engolir pelo preço

A última vez que testei um smartphone com apenas uma câmera na traseira foi exatamente um modelo da Realme: o C11, em 2021. No entanto, ele era o aparelho mais barato da marca, e isso foi há dois anos.

Hoje, o C55 traz duas aberturas na traseira, mas a de baixo é um sensor de profundidade. A única lente usável tem 64 MP, ao menos, bem acima dos 8 MP de dois anos atrás.

De dia, o sensor entrega imagens utilizáveis. As cores seguem para um tom mais quente, mas não a ponto de fugirem da realidade. A definição de imagem fica abaixo do esperado para a faixa de preço, mas o C55 lidou muito bem com o contraste entre áreas claras e de sombra, na foto.

À noite... É difícil colocar em palavras. Primeiramente, ative o modo noturno. Não há como conseguir uma imagem decente sem esta opção. Em segundo lugar, evite áreas escuras.

Mesmo no modo noturno, a câmera só consegue algo razoável em ambientes com bastante iluminação artificial. Em qualquer outra situação, não lembro de ter visto fotos feitas por smartphones com qualidade tão baixa quanto as do Realme C55 há cinco ou seis anos, talvez mais.

Estranhando a situação, ao analisar as imagens pelo computador, cheguei a tirar novas fotos da janela de casa, com o aparelho estático, apoiado no batente. O resultado foi similar.

Fechando o assunto, o modo noturno reduz o campo de visão da câmera, o equivalente a um zoom de cerca de 15%. Considerando que mesmo em locais com boa iluminação o Realme leva pelo menos três segundos para capturar as imagens, creio que seja para reduzir o efeito de tremores das mãos.

As selfies conseguem se sair um pouco melhor, durante o dia, que as próprias fotos da câmera principal. Um ponto curioso é que o modo retrato não conseguiu detectar meu rosto com o uso de máscara, algo que não foi problema em nenhum outro aparelho que já testei.

Sem a proteção, as imagens apresentam uma boa separação entre objeto e fundo. As fotos não borram incorretamente em partes do cabelo, por exemplo, nem destacam algo em segundo plano que deveria estar desfocado.

Na bateria, Realme C55 traz boa autonomia e recarga na média

Com 5.000 mAh e especificações de entrada, espera-se que o Realme C55 tenha uma excelente duração de bateria. Quase isso: o processador, de 12 nm, passa longe de ser o mais econômico entre os modelos básicos. A ausência de 5G, porém, ajuda a melhorar um pouco a autonomia.

Ainda assim, o C55 entrega mais que suficiente para um dia inteiro de uso. Com algumas horas de internet (redes sociais, mensagens etc), streaming de música quase o tempo inteiro, e realizando os testes de fotos e performance, cheguei à noite sempre com cerca de 40% restando na bateria.

Na recarga, os 33 W de potência não são o melhor disponível na faixa de preço, mas tampouco se descatam negativamente. Com 15 minutos na tomada (partindo de 0%, com o aparelho desligado), a bateria foi a 26%. Meia hora encheu metade da energia, e o carregamento completo leva pouco mais de uma hora.

Performance: Realme C55 não aguenta tarefas pesadas, mas 8GB de RAM ajudam

Voltando ao processador, o C55 traz o MediaTek Helio G88. Junto à câmera, este componente entrega com facilidade que se trata de um smartphone de entrada.

Apesar dos oito núcleos, eles não têm a mesma potência que modelos mais avançados, ou mesmo intermediários. Para além disso, o G88 foi lançado como processador de entrada há mais de dois anos. Ou seja: qualquer tarefa mais pesada vai fazer o Realme C55 suar.

A situação é levemente atenuada pelos 8 GB de RAM - que podem ser expandidos em mais 8 GB com o uso do armazenamento interno. Este é um diferencial da versão vendida no Brasil: aqui o C55 só está disponível com 8 GB de memória e 256 GB de armazenamento, enquanto globalmente há versões com 4 ou 6 GB na RAM e 64 ou 128 GB para guardar arquivos.

A capacidade, porém - especialmente se a expansão de RAM for usada - não consegue ser utilizada a contento, uma vez que o resto do aparelho não dá conta. Retomando as analogias automotivas, é como abastecer um carro 1.0 com gasolina aditivada e esperar que isso resolva a falta de desempenho do motor básico.

Para uso cotidiano, ao menos não há travamentos constantes. Alguns engasgos, porém, são perceptíveis, e o Realme C55 demora bem mais para executar certas tarefas, como abrir aplicativos mais complexos, do que smartphones da mesma faixa de preço.

A Realme também tenta dar um auxílio, no caso específico de jogos, com otimizações no sistema. Grosso modo, isso significa fechar aplicativos que estejam em segundo plano e priorizar o jogo a outras tarefas que o aparelho realiza.

Há três modos: baixa energia, equilibrado e performance. Testando Asphalt 9 com a configuração mais alta, não notei diferença, e o jogo rodou a aproximadamente 30 FPS o tempo todo. Há de se notar, no entanto, que o título é automaticamente otimizado para a capacidade de cada aparelho.

Após meus testes, o aparelho passará por outro review. Davi Rocha, apresentador do podcast A Semana em Jogo e blogueiro do O POVO, avaliará mais a fundo as capacidades gamers do C55.

Realme C55 é bom? Quais as alternativas?

Em conclusão, posso dizer que o Realme C55 é um bom smartphone de entrada... Se você nunca tirar fotos à noite. Ainda assim, o preço pedido pela fabricante está além do que o celular oferece.

Ao atual valor de R$ 1.800, os principais concorrentes são o Galaxy M54, da Samsung (R$ 1.650 na versão de 128 GB, fones sem fio Galaxy Buds2 de brinde); Edge 30 Neo, da Motorola (R$ 1.780, 256 GB) e Infinix Zero 5G (R$ 1.950, 128 GB). O Samsung traz recarga mais lenta, o Motorola tem tela e bateria menores, e o Infinix tem uma câmera pior no papel (mas que dificilmente é pior na vida real). De resto, todos são melhores, em todas as especificações, que o C55.

No preço cheio de R$ 2.300, a Motorola traz o G200 e o G82, enquanto a Samsung tem o Galaxy S21 FE. Novamente o Samsung pede na recarga - a câmera, embora com 12 MP, tem um sensor maior, entregando fotos melhores. O G200 supera o C55 em todas as especificações, enquanto o G82 perde apenas na memória RAM, com 6 GB.

Entendo que a Realme tenha especial dificuldade de tornar o preço dos seus aparelhos competitivo por fabricá-los fora do Brasil. Isto gera uma carga de impostos muito maior que os modelos montados aqui - se protecionismo alfandegário é bom ou ruim para o País, no entanto, é discussão para outra editoria.

O ponto é: há estratégias para evitar este problema. Infinix e TCL, por exemplo, fecharam parcerias com fabricantes nacionais para que os produtos sejam finalizados em solo brasileiro, reduzindo o imposto de importação.

Outra possibilidade é vender a preço de custo ou mesmo abaixo dele, para ganhar espaço com a marca - como faz a Amazon - enquanto se monta uma estrutura para fabricação nacional. A empresa estadunidense ganha com a venda de seus serviços por assinatura, algo que a BBK Electronics, dona da Realme, não possui.

O que a BBK tem, no entanto, é caixa para investir nesta estratégia - a fabricante já fez algo similar na Índia. Todas as marcas de smartphones da empresa - Oppo, OnePlus, a própria Realme, iQOO e Vivo (que não tem relação com a operadora brasileira) - ganharam espaço no mercado, os aparelhos começaram a ser fabricados naquele país, e hoje dão lucro que compensa com folga o prejuízo inicial.

Trago isso porque é recorrente aparelhos da Realme custarem mais que concorrentes com as mesmas especificações (ou, pela ótica inversa, serem piores que aparelhos na mesma faixa de preço). O C55 deveria custar R$ 1.200, e ainda enfrentaria competição no quesito das câmeras. Enquanto a fabricante insistir no lucro a curto prazo, terá dificuldades em ganhar mercado.

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