CV x GDE: saiba como o Comando Vermelho tenta dominar o Ceará

A escalada do CV no Ceará: declínio de rivais, comando à distância e "serviços" do crime

Facção de origem carioca tem seus principais nomes escondidos no Rio de Janeiro, de onde distribuem as ordens e seguem fora do alcance das forças de segurança

A suposta "tomada" de territórios nas comunidades do Lagamar e Vicente Pinzón em Fortaleza, marcada pela longa queima de fogos vista e ouvida durante a noite de segunda-feira, 15, seria mais um passo do Comando Vermelho (CV) na disputa por território protagonizada pelas facções criminosas do Ceará.

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A conquista de regiões anteriormente dominadas por grupos rivais, exposta nas pichações em muros, tem se tornado um dos principais símbolos de poder e expansão da facção de origem carioca no Estado.

Um relatório elaborado pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) mostra que o CV atua hoje em 1.419 territórios cearenses, mais que o dobro da segunda mais atuante, a Guardiões do Estado (GDE), de origem local. Mas como isso aconteceu?

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O êxito das atividades criminosas do CV no Ceará tem como principal motivo o refúgio de seus líderes em comunidades do Rio de Janeiro, conforme explicado pelo promotor de justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Gaeco) Adriano Saraiva, em entrevista à Páginas Azuis do O POVO.

Uma operação do Gaeco em parceria com a Polícia Militar do Rio de Janeiro (Pmerj) e a PC-CE, realizada em maio deste ano, identificou cerca de 200 criminosos cearenses escondidos apenas na Comunidade da Rocinha.

Entre esses refugiados estariam naquele momento José Mário Pires Magalhães, o "ZM", apontado como líder máximo do CV no Ceará, e seus dois braços direitos, "Skidum" (Carlos Mateus da Silva Alencar) e "Doze" (Anastácio Paiva Pereira).

Do Rio, eles estariam coordenando diversas ações criminosas cometidas no Ceará, incluindo as tomadas violentas de territórios.

Outro fator que auxilia a predominância do CV é o enfraquecimento das facções rivais, em especial sua maior concorrente, a GDE, como cita o colunista do O POVO, Ricardo Moura.

A facção cearense tem passado por grande enfraquecimento desde a pandemia da Covid-19, em 2020, resultado de operações conjuntas entre a PC-CE e o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), que geraram prisões e mortes de nomes importantes da organização.

Esse declínio, entretanto, seria mais difícil de ocorrer com o CV. O entendimento das autoridades de segurança e judiciais é que os membros da facção carioca mortos ou presos no Ceará são facilmente substituídos. Tudo a partir de ordens enviadas do Rio de Janeiro.

Outro fator que propiciou a perda de territórios da GDE foram os rachas dentro da facção, fazendo com que membros cruciais "rasgassem a camisa" e migrassem para outros grupos.

Por que o CV tem tanto interesse no Ceará?

Conforme exposto pelo relatório da Polícia Civil, o desejo do Comando Vermelho de dominar o tráfico de drogas no Ceará tem origem mercadológica.

O território cearense tem ótima posição geográfica para o envio de drogas para a Europa e outros continentes, além de dois portos e um aeroporto.

Isso somado à crescente atividade turística, que ajuda a lavar dinheiro, tornou estados como o Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte ambientes estratégicos no jogo do crime carioca.

A facção também já entrou na política, como mostrado em operação do Gaeco em 12 municípios com suspeita de interferência do CV nas eleições do ano passado.

O próximo passo do grupo seria se consolidar no domínio de atividades de serviço, como internet, transporte de passageiros e venda de combustíveis.

A projeção está presente no relatório da PC-CE, que cita a presença do grupo carioca também em golpes virtuais, jogos regulamentados (Bets) e clandestinos, bebidas e cigarros falsificados, além dos serviços prestados dentro e fora dos portos e aeroportos.

Durante o primeiro semestre deste ano, diversos ataques a empresas provedoras de internet foram registrados no Ceará, incluindo um avanço sobre a conexão no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), zona crucial para a economia do Estado.

As prisões foram acontecendo simultaneamente aos ataques no Estado, tendo a mais significativa ocorrida em junho, quando 15 donos de provedoras foram presos suspeitos de ligação com o CV.

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