Para além de Lázaro Barbosa: entenda o que caracteriza o comportamento de um serial killer

Expressão ganhou notoriedade nesta semana com as buscas a Lázaro Barbosa, suspeito de uma sequência de crimes e procurado há dez dias pela Polícia

Eles escolhem suas vítimas, têm um modus operandi similar e matam com frieza. Essas são algumas características em comum entre os serial killers ou assassinos em série, em português. A expressão ganhou notoriedade nesta semana com as buscas a Lázaro Barbosa, suspeito de uma sequência de crimes e procurado há dez dias pela Polícia.

Em geral, esse perfil de criminoso tem um comportamento não empático. A maioria dos assassinos em série estão é psicopata, mas nem todas as pessoas com psicopatia são serial killers. A psicopatia é prevista pelos manuais da Psiquiatria e da Psicologia como um transtorno, inclusive reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o termo oficial para designar psicopatia ou sociopatia é Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). “Geralmente, associamos um psicopata com um assassino frio, como um serial killer, mas não passa de mau uso do termo”, frisa a psiquiatra forense Gisele Serpa.

Quando criança, uma pessoa com TPAS pode apresentar dificuldade de criar vínculos e tendência ao isolamento, irritabilidade, agressividade e baixa tolerância à frustração. O contexto familiar também pode interferir no desenvolvimento desses traços.

“São crianças que sofrem maus tratos, abusos físico, psicológico, social, e são criadas em um contexto social de violência”, comenta Gisele.

Assim como outros transtornos mentais, a psicopatia pode e deve ser tratada, salienta a psicóloga Larissa Siqueira Cavalcante, mestre em Psicologia forense e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor).

“Não é todo psicopata que vai matar ou roubar. São pessoas que precisam de um tratamento”, observa. A especialista acrescenta que os assassinos em série são pessoas de personalidade mais narcisista, ou seja, que precisam ter seus desejos e seus impulsos sanados de qualquer forma.

Conforme a psicóloga, quando uma pessoa tem um impulso de fazer algo socialmente reprovado, como um assassinato, existe uma habilidade social que freia essa ação, considerando em suas consequências. O mesmo não ocorre no caso dos assassinos em série. “A grande diferença de um serial killer, por exemplo, para qualquer outro transtorno, inclusive o narcisista, é esse controle inibitório”, avalia Larissa.

Segundo a psicóloga, outra particularidade dos assassinos em série é sua forma de agir. Não matam apenas por matar, mas de forma planejada. Usualmente, as vítimas estão interligadas de alguma forma: são de idades próximas, do mesmo gênero, com aspectos físicos similares.

Há dez dias, uma força-tarefa com 200 policiais do Distrito Federal e de Goiás tem buscado Lázaro Barbosa, 32, acusado de vários crimes e detentor de uma longa ficha criminal, com homicídios, estupros e posse de arma de fogo. Acusado de uma chacina no último dia 9, em Ceilândia (DF), logo o foragido passou a ser chamado de “serial killer do Distrito Federal”.

O secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, chegou a afirmar em entrevista ao G1 que Lázaro tem um ritual para atacar as vítimas. “Ele leva para a beira do rio, manda tirar as roupas e uns ele acaba matando”, disse. A Polícia acredita que esse seria o destino de uma família resgatada na quinta-feira, 15.

Em 2013, um laudo psicológico feito pela Polícia descreveu Lázaro como “psicopata imprevisível”, com comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio. Para a psiquiatra Luísa Bisol, professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), essa descrição tem equivalências com o Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS).

De acordo com Luísa, o tratamento para esse transtorno inclui psicoterapia e medicamentos. No entanto, o engajamento e a motivação dos pacientes nesse processo é um grande desafio.

“É mais difícil, porque é um transtorno da personalidade. Embora a pessoa tenha consciência que seus atos são ilegais, a capacidade de fazer crítica, de que a conduta deveria ser diferente, é às vezes limitada”, explica.

Nesse sentido, o psiquiatra Nairton Cruz, perito da Justiça Federal desde 2019 e médico psicogeriatra, acrescenta que existem características da formação de personalidade do serial killer que podem ser tratadas.

“Com o cuidado adequado, psicoterapia, e medicações para diminuição da impulsividade, hipersexualidade, transtornos de sono, labilidade emocional. Que são características que podem, sim, ser cuidadas”, reforça.

Além do tratamento para reintegração desse grupo à sociedade, a psiquiatra forense Gisele Serpa diz que quanto mais jovem esse indivíduo for adequadamente penalizado pelos seus crimes, maiores são as possibilidades de reincorporação social. Contudo, ela destaca que para isso seria necessário oferecer as devidas condições de ressocialização para o preso.

“E isso aqui no Brasil é praticamente impossível, com os presídios lotados, com condições sub-humanas como a gente vê. Então a probabilidade de ele ser, nessas condições, reintegrado à sociedade é mínima”, finaliza.

 

 

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