Fortaleza se encanta com "tapetes de flores": entenda o fenômeno do pé de jambo nas ruas da Capital

Fortaleza se encanta com "tapetes de flores": entenda o fenômeno do pé de jambo nas ruas da Capital

Fenômeno natural das flores marca fim do ciclo reprodutivo e revela tradição afetiva, benefícios urbanos e riscos ambientais da espécie exótica
Atualizado às Autor Victor Marvyo Tipo Notícia

Árvore comum em diversas ruas de Fortaleza, o pé de jambo voltou a chamar atenção nas últimas semanas devido aos "tapetes" formados pela intensa queda de flores rosadas. As estruturas, espalhadas por calçadas e quintais, criam um cenário que tem inspirado registros fotográficos e despertado curiosidade dos moradores.

A fruta vermelha — de casca fina, polpa branca adocicada e levemente ácida — pertence à família Myrtaceae e é bastante popular no Norte e Nordeste. Robusto e marcante, o jambeiro se tornou presença afetiva em bairros tradicionais da Capital.

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Origem asiática e adaptação ao clima do Ceará

O biólogo e professor de Botânica da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Bruno Edson-Chaves, explica que o jambo (Syzygium malaccense) é uma espécie exótica originária do Sudeste Asiático.

Introduzida no Brasil há séculos por colonizadores, a árvore encontrou no clima tropical de Fortaleza condições ideais para se desenvolver, graças à sua resistência e ao sistema de raízes profundas. A espécie pode alcançar quase 20 metros de altura.

O período exato de frutificação não é obrigatório e pode depender das particularidades de cada árvore, como a irrigação, o regime hídrico e a variação de meses; no entanto, como explica o biólogo, o período de frutificação do jambeiro é mais comum de dezembro a maio.

Bruno ainda destaca que a fruta do jambeiro é nutricionalmente bastante interessante para humanos. "Ela é extremamente rica em vitaminas e minerais, especialmente vitamina A, C e algumas do complexo B. Entre os minerais, se destacam cálcio, ferro, fósforo e potássio".

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Por que tantas flores caem ao mesmo tempo

Segundo o professor, o fenômeno observado nas ruas é totalmente natural e corresponde ao final do ciclo reprodutivo da planta. “As flores são rosadas e, no final do período reprodutivo, elas têm muitas anteras. Botanicamente chamamos de polistêm — são essas linhas rosadas que a gente vê, estruturas masculinas da flor”, explica ele.

A intensidade da queda pode variar de acordo com as condições ambientais. Bruno destaca que fatores de estresse climático podem acelerar o processo.

“Estresse hídrico, seca prolongada ou grandes variações de temperatura podem fazer com que a árvore aborte parte das flores para economizar energia”, detalha.

Também contribuem ventos fortes e mudanças bruscas no tempo, comuns nesta época do ano.

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Sombra e conforto, mas também alertas ambientais

Uma das grandes contribuições do jambeiro para a Cidade é sua copa frondosa, que permanece densa o ano inteiro — já que a planta não perde todas as folhas de uma vez, como espécies decíduas. Isso ajuda a amenizar o calor intenso, especialmente em ruas pouco arborizadas.

“O tronco é reto ou levemente tortuoso, o que é muito bom do ponto de vista da arborização, porque não tomba para a rua ou para dentro das casas”, destaca o biólogo.

Entretanto, apesar da beleza e dos benefícios, a espécie é classificada pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) como exótica invasora, e seu plantio é desaconselhado em áreas públicas devido ao risco de se espalhar descontroladamente e aos impactos estruturais das raízes. 

Embora restrição, seu cultivo em propriedades privadas é permitido, desde que sejam tomados cuidados específicos para evitar danos estruturais e gerenciar seu grande porte.

Memória afetiva e presença nos bairros tradicionais

Mesmo com restrições de plantio recente, o jambeiro está profundamente enraizado na memória urbana fortalezense. É comum em bairros tradicionais, quintais, calçadas, escolas e praças.

Segundo o professor, a árvore está associada à infância, brincadeiras, festas, reuniões familiares e ao ato de compartilhar os frutos com vizinhos — um vínculo afetivo transmitido entre gerações.

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Sombra, frutas e memórias: o tesouro do quintal

Plantado há cerca de 25 anos, o pé de jambo que domina o quintal da casa do casal Marise Gomes, 67, e Manoel Nasareno, 70, se tornou muito mais que uma árvore frutífera: virou parte da história da família, motivo de sombra, frescor, brincadeiras e, claro, boa dose de trabalho.

A árvore foi plantada pelo próprio dono da casa, que ainda lembra com exatidão o dia em que trouxe a muda de uma antiga floricultura registrada pelo município. “Fui eu quem plantei. Fui pegar lá na floricultura onde distribuíam pés de frutas, e plantei os dois pés”, conta. Um deles foi retirado anos depois para ampliar a garagem, mas o que ficou tornou-se símbolo afetivo da família.

 

Além das frutas, a árvore deixou no quintal uma marca que se sente mesmo sem olhar para cima: a sombra. “Ajuda muito no verão. Mantém uma boa sombra e ainda traz o canto dos pássaros”, explica o morador.

Se o pé de jambo garante sombra e fruta fresca, também entrega outro “presente”: muita sujeira. Quem confirma é Dona Marise, que menciona que a limpeza exige a coleta diária de três a quatro sacos de lixo cheios desses resíduos.

“Faz bastante sujeira, cai muita folha. Agora é a floração, tá caindo muito, muito. Gruda no chão e dá mais trabalho”, explica.

Apesar do esforço dos adultos, quem mais aproveita a carga de flores é a criançada. “A sujeira se torna agradável para elas. Pegam, jogam uma na outra… quando a gente vê, tá todo mundo rosa. Eles adoram”, explica.

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