Guerra fria de preços no mercado de sorvetes do Ceará

Indústrias alertam para guerra fria de preços no mercado de sorvetes do Ceará

Fabricantes do Ceará e de outros estados denunciam venda de sorvetes abaixo do custo por multinacionais e pedem apuração de autoridades

Indústrias regionais de sorvetes denunciam a adoção de práticas comerciais consideradas predatórias por grandes multinacionais do setor, como a venda de produtos a preços abaixo do custo de produção e a imposição de contratos de exclusividade no varejo.

No Ceará, o alerta é feito pelo Sindicato das Indústrias de Sorvetes do Estado do Ceará (Sindsorvetes Ceará), que aponta riscos à concorrência, à manutenção de empregos e à sustentabilidade do mercado local.

Conforme o presidente da entidade, Edgard Segantini Júnior, empresas como Kibon (Unilever) e Nestlé estariam operando com valores incompatíveis com os custos industriais.

“Eles estão trabalhando com preços abaixo do custo no Brasil inteiro. A estratégia é quebrar o mercado regional para depois ficarem sozinhos e aumentarem os preços”, afirma.

De acordo com o dirigente, o impacto já é sentido no Estado. “Esses preços puxam todo o mercado para baixo, dificultam as vendas e comprometem a capacidade de investimento das empresas locais. As pequenas e médias não conseguem competir”, diz.

Mercado em retração

O Sindsorvetes Ceará aponta que a prática teria começado há cerca de um ano. Apesar das altas temperaturas registradas em 2024, tradicionalmente favoráveis ao setor, o mercado apresentou retração. “Era um ano para crescimento, mas o mercado caiu cerca de 10% em volume. Não houve crescimento, mesmo com o calor”, relata Segantini.

Para ele, o cenário pode resultar em fechamento de empresas, redução de empregos e perda de arrecadação. “As empresas passam dificuldade, deixam de investir e podem fechar. As pequenas não têm condições de competir com grandes grupos internacionais, com acesso a capital externo e priorizam ganhar participação de mercado”, afirma.

Exclusividade e risco de concentração

Além dos preços, o sindicato denuncia práticas de exclusividade no varejo. “Tem casos em que oferecem até R$ 20 mil para um ponto de venda retirar o freezer de um fornecedor regional e ficar exclusivo. Isso já foi analisado pelo Cade no passado e está acontecendo novamente”, afirma o presidente do Sindsorvetes.

Para o setor, o risco é a concentração do mercado. “Se nada for feito, as marcas regionais vão ficando mais fracas, perdem competitividade e desaparecem. Isso leva ao monopólio”, alerta.

Abrasorvete confirma denúncias

Em nota enviada ao O POVO, a Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete) confirmou o recebimento de relatos formais de entidades regionais, incluindo o Sindsorvetes Ceará, sobre políticas de preços praticadas por grandes indústrias e seus impactos na competitividade local.

A entidade informou que enviou ofícios às empresas citadas no início de dezembro, solicitando esclarecimentos, mas ainda não obteve resposta.

A Abrasorvete também criou uma comissão técnica interna para analisar o cenário e avaliar, se necessário, o encaminhamento de ações junto aos órgãos de defesa da concorrência.

“A Abrasorvete reafirma seu compromisso com a defesa de um mercado equilibrado, saudável e justo para empresas de todos os portes”, diz a nota, assinada pelo presidente Martin Eckhardt.

Fiscalização e posição da Sefaz

Procurada, a Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE) informou que realiza monitoramento constante de todos os segmentos econômicos por meio de auditorias, cruzamento de dados e uso de inteligência artificial, visando coibir práticas desleais e a sonegação fiscal.

A fiscalização também ocorre nas divisas estaduais e postos fiscais, com acompanhamento 24 horas das entradas e saídas de notas fiscais.

A Sefaz esclareceu que, até a sexta-feira, 19 de dezembro, não houve formalização de denúncias tributárias ou fiscais por parte do sindicato relacionadas ao tema.

Ainda assim, afirmou manter o compromisso de intensificar ações de fiscalização e auditoria para assegurar a arrecadação e o retorno dos recursos à sociedade cearense.

Debate é nacional

A discussão não se limita ao Ceará. Fabricantes de sorvetes de estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo também vêm relatando situações semelhantes e solicitando apuração das autoridades.

Para o Sindsorvetes Ceará, o objetivo não é aumento de impostos, mas a garantia de concorrência leal. “Defendemos fiscalização, apuração e diálogo. Um mercado saudável é bom para as empresas, para os trabalhadores e para o consumidor”, conclui Segantini.

Procurada pelo O POVO, a Unilever, dona da marca Kibon, não respondeu até o fechamento. Já a Froneri, responsável pela comercialização dos sorvetes da Nestlé no Brasil, informou que não irá comentar o tema. 

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