Durante a 6ª edição da Exposorvetes, realizada em Fortaleza, o presidente do Sindsorvetes-CE e diretor-executivo da Frosty, Edgard Segantini Júnior, estimou que o evento deverá gerar cerca de R$ 4 milhões em negócios, envolvendo 24 expositores. O dado ilustra não apenas o potencial do encontro, mas também a relevância do Estado como polo estratégico para o segmento.
Conforme a Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (Abrasorvete), o Ceará já figura como o 5º maior mercado consumidor do país. Essa posição vem sendo consolidada por uma combinação de fatores: consumo incorporado ao cotidiano do cearense, qualidade dos produtos, surgimento de novos sabores e embalagens, além do fortalecimento das empresas locais.
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-09-2025: Edgard Segantini da Sindsorvetes Exposorvetes com setor de sorvetes sobre investimentos no Ceará com novos investimentos, criação de produtos, novos sabores.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) Crédito: Samuel Setubal
O fortalecimento do setor também se reflete no crescimento institucional. Miriam Pereira, ex-presidente do Sindsorvetes, lembra que quando assumiu a entidade o sindicato contava com apenas oito associados.
Hoje, o número chega a 62 empresas filiadas. Nesse período, foram criados programas como o curso de sorveteiro, reconhecido pelo MEC e pelo SENAI, e a própria Exposorvetes, que nasceu em 2018 e já faz parte do calendário anual do setor.
“O sindicato foi estruturado para dar suporte aos fabricantes, especialmente os pequenos e médios, que representam 90% do setor no país. A feira nasceu justamente para aproximar fornecedores e produtores locais que não têm acesso a eventos como a Fispal, em São Paulo”, destacou Miriam.
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-09-2025: Miriam Pereira Exposorvetes com setor de sorvetes sobre investimentos no Ceará com novos investimentos, criação de produtos, novos sabores.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) Crédito: Samuel Setubal
Democratização do consumo
Um dos movimentos recentes é a tentativa de tornar o sorvete ainda mais acessível ao consumidor. Segundo Edgard Júnior, a Frosty tem apostado em estratégias como descontos progressivos em compras em volume. “A missão é democratizar o sorvete. Quando o cliente leva mais unidades, ele consegue preços até 30% menores, o que ajuda a manter o consumo mesmo em períodos de renda mais apertada”, afirmou.
Líder do mercado nordestino desde 2020, a Frosty opera atualmente 137 lojas próprias distribuídas em estados como Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. A empresa investe em automação da produção e novos sabores, como picolé de pistache recheado, picolé de cupuaçu com doce da fruta, além da linha Gold, que inclui combinações como tapioca com leite condensado e Romeu e Julieta (queijo com goiabada).
“A expansão das lojas fortalece a marca e nos aproxima de novos consumidores. Ao mesmo tempo, investimos em qualidade e inovação, com embalagens mais atrativas e sabores ligados à cultura regional”, destacou Edgard.
Inovação e novos nichos
Para além da Frosty, o setor como um todo tem se voltado para novos nichos de consumo, como produtos voltados a intolerantes, alérgicos e ao público fitness. Linhas de picolés com maior teor de fruta, sem adição de açúcar ou com formulações mais saudáveis têm sido incorporadas por diferentes empresas.
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-09-2025: Caio Culau da Milk na Exposorvetes com setor de sorvetes sobre investimentos no Ceará com novos investimentos, criação de produtos, novos sabores.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) Crédito: Samuel Setubal
Segundo Caio Culau, diretor da Milk e Via láctea, a inovação também passa pela forma de produção. “Hoje fornecemos insumos para fábricas do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, incluindo a casquinha de chocolate que reveste picolés, já produzida no Ceará. É um diferencial para as indústrias locais, que antes precisavam importar esse insumo”, afirmou.
O presidente da Abrasorvete, Martin Eckhardt, reforça que o setor vive um momento de crescimento nacional e aposta em metas ousadas. O projeto “50 em 10” busca ampliar em 50% o consumo de sorvete no Brasil nos próximos dez anos, por meio de inovação, qualificação e articulação institucional.
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-09-2025: Martin Eckhardt Exposorvetes com setor de sorvetes sobre investimentos no Ceará com novos investimentos, criação de produtos, novos sabores.. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) Crédito: Samuel Setubal
“O consumo brasileiro ainda é baixo comparado a outros países da América do Sul, da América do Norte e da Europa. O trabalho conjunto das entidades estaduais e nacionais é justamente para criar condições para que esse mercado cresça de forma sustentável”, explicou.
Entre os obstáculos, pesam fatores como logística, sazonalidade e a renda do consumidor. Matérias-primas demoram até dez dias para chegar ao Nordeste, o que eleva custos, enquanto inflação e juros altos reduzem o poder de compra.
Para algumas empresas, a alternativa tem sido parcelar entregas e ajustar o tamanho dos pedidos para evitar descapitalização.
Perspectivas
Apesar dos desafios, o setor se mantém otimista. O crescimento da Exposorvetes — de oito associados em 2018 para 62 em 2025, além de visitantes e expositores vindos de vários estados — sinaliza maturidade e capacidade de adaptação. O Ceará, como quinto maior mercado do país, reforça seu papel estratégico como hub do setor de sorvetes e alimentos gelados no Brasil.
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