Época de maré alta deixa praias cearenses em alerta; entenda o fenômeno
Fenômeno natural, potencializado pela lua cheia e pelas mudanças climáticas, tem deixado o mar mais agitado e causado avanço sobre a faixa de areia em praias do Estado
Nos últimos dias, o mar tem mostrado mais força nas praias do Ceará. Em alguns trechos do litoral, as ondas chegam a avançar sobre a faixa de areia e áreas próximas às calçadas. O fenômeno, comum em determinadas épocas do ano, é resultado do alinhamento entre a Terra, a Lua e o Sol, que intensifica a força gravitacional e provoca marés mais altas.
Marés de sizígia: quando Sol, Terra e Lua se alinham
O doutor em Geografia e professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fábio de Oliveira, explica que o fenômeno é conhecido como marés de sizígia, caracterizado pelos maiores extremos de variação do nível do mar.
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“Sempre que há lua cheia ou lua nova, ocorre o que chamamos de maré de maior amplitude. Nesse momento, Sol, Terra e Lua se alinham, e isso intensifica tanto as marés altas quanto as baixas. Além disso, estamos logo após o equinócio da primavera, o que também contribui para uma maior variação na maré”, detalha o geógrafo.
Segundo o especialista, esse tipo de maré se repete em outras épocas do ano, mas é especialmente forte no segundo semestre: “É mais perceptível entre setembro e outubro. Ainda podemos observar novas marés de sizígia no próximo mês, em novembro, mas de forma mais branda”.
Mudanças climáticas agravam os efeitos
Embora as marés de sizígia sejam fenômenos naturais e recorrentes, as mudanças climáticas vêm agravando seus impactos, especialmente em áreas de ocupação desordenada e com erosão costeira.
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“De forma mais ampla, as mudanças climáticas tendem a tornar essas variações cada vez mais intensas. Os oceanos estão respondendo a transformações globais, e isso se reflete localmente”, acrescenta Fábio de Oliveira.
Comunidades litorâneas já sentem impactos das marés mais fortes
O Ceará tem mais de 573 km de litoral e as comunidades costeiras já percebem essas mudanças no dia a dia. Um exemplo recente é o município de Aquiraz, a 29,07 km de Fortaleza, onde o fenômeno natural tem impedido trabalhadores de abrir seus estabelecimentos há quatro dias.
Barracas de alimentação, pescadores, moradores e turistas da praia da Prainha foram afetados desde a última terça-feira, 7, data que coincidiu com a lua cheia — fator que intensificou o fenômeno na região.
O presidente do Coletivo de Pescadores da Prainha, Bruno Zaranza, relatou que o avanço do mar tem causado prejuízos significativos à infraestrutura costeira, atingindo barracões de pescadores, quiosques e até mesmo campos de futebol e rios locais.
“Nos últimos cinco anos, a maré vem atingindo a comunidade com mais força. Primeiro derrubou quiosques, depois começou a atingir estruturas de alvenaria, empreendimentos com piscina”, contou. “A última maré, de terça, foi a mais intensa até o momento”, completou.
Pescadores relatam prejuízos e pedem atenção às estruturas costeiras
Na praia do Iguape, um muro de pedras foi instalado para conter o avanço do mar e proteger um barracão utilizado por pescadores para reformar embarcações, guardar materiais, limpar peixes e se reunir socialmente. O local havia sido atingido pelas últimas marés.
Eloi Ribeiro, 50, que atua na pesca artesanal há mais de 30 anos na região, relatou que o mar vem avançando de forma preocupante e reduzindo o espaço para manobrar as embarcações.
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“A situação prejudica bastante, fazendo com que a gente não consiga entrar ou sair do mar com os barcos. Está muito crítica”, comentou, ressaltando que os ventos fortes têm contribuído para o aumento das marés.
Além da contenção de pedras, a Prefeitura de Aquiraz informou, em nota ao O POVO, que outras medidas estão sendo adotadas, como a abertura controlada do rio Maceió para permitir o escoamento gradual da água — evitando o alagamento de barracas e áreas próximas.
Importância do acompanhamento das marés
Fábio de Oliveira reforça que é essencial acompanhar os horários das marés, disponíveis no site da Marinha do Brasil ou nas tábuas de maré.
“Quem vive ou trabalha próximo ao mar deve reforçar estruturas como quiosques e barracas, além de ficar atento aos boletins da Defesa Civil e da Funceme, que alertam para situações de ressaca ou avanço do mar. É uma questão de atenção constante”, concluiu.