Elmano se desculpa por discussão com ativista na COP 30

Elmano se desculpa por discussão com ativista na COP 30: "Comentário descabido"

Elmano e a ativista discutiram sobre a pulverização de agrotóxicos por drones realizada no Ceará. Medida é defendida pelo governador, porém há críticas sobre os riscos da tecnologia
Atualizado às Autor Taynara Lima Tipo Notícia

O governador Elmano de Freitas (PT) comentou sobre a discussão com uma ativista ambiental registrada durante a sua participação na COP 30, em Belém, no último mês. Em entrevista exclusiva ao O POVO News na manhã desta sexta-feira, 5, o governador se desculpou pela fala e avaliou o próprio comentário como “descabido”.

Assista ao pedido de desculpas do governador:

O bate-boca aconteceu no dia 13 de novembro, quando o governador foi confrontado por uma ativista, representante do Projeto Ecomulheres, da organização Alternativa Terrazul, e marisqueiras do município de Paracuru, no litoral do Ceará. 

Em vídeo publicado na rede social da organização não-governamental, Elmano aparece sendo questionado por uma das ativistas que estava no local sobre algumas questões ambientais, incluindo a pulverização feita por drones: “Vamos falar agora do que é real. A carcinicultura que está impactando os estados. A chuva de drone que você apoia, que é a chuva de veneno, que está tirando um monte de comunidade das suas casas”.

O governador pareceu irritado com a fala da mulher e logo rebateu: “Porque você apoia que o trabalhador use o veneno. Vá você aplicar o veneno, você vai aplicar o veneno?”. Em seguida, a ativista afirma que o governador “não precisa falar assim” e o petista responde para que ela, então, “não mude o tom” e disse estar “tirando o trabalhador de aplicar veneno”.

Assista àdoscissão:

Em entrevista ao O POVO News nesta sexta, Elmano se desculpou pelo momento capturado e contextualizou a situação, afirmando que, antes da discussão, estava conversando com uma marisqueira presente no local.

“Para esclarecer para quem acompanhou, certamente viu o vídeo, eu até peço desculpa pelo comentário que fiz, mas é porque eu não estava falando com aquela moça, eu estava falando com a marisqueira, que veio me pedir para ter muita atenção com a energia eólica no mar e eu, com muito cuidado e muita atenção verdadeira, estava explicando àquela senhora marisqueira que a energia eólica que vai ser produzida dentro do mar ainda vai ter uma lei, uma regulamentação e que a gente tivesse uma atenção juntos para conciliar a produção de energia com a pesca artesanal, com as marisqueiras e com o turismo. E a moça estava a todo tempo me provocar e aí, de fato, eu perdi”, relatou.

Apesar disso, o governador reconheceu que o comentário foi “descabido”: “O meu dever é ser sempre muito educado, então o comentário que fiz é descabido, mas, só para as pessoas entenderem que às vezes você também acaba ficando intranquilo”, finalizou.

A discussão entre o governador e a ativista está relacionada à aprovação e ao apoio do petista ao projeto que permite a pulverização de agrotóxicos por drones no Ceará.

Em entrevista ao O POVO em dezembro de 2024, após o projeto tramitar em urgência na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e ser aprovado, Elmano justificou a posição devido a sua trajetória ligada a trabalhadores rurais, se disse contra os agrotóxicos e argumentou que é preferível que uma máquina faça a função do que um cidadão.

“Minha posição pessoal de apoio ao projeto é pela minha vida de advocacia aos trabalhadores rurais. O Estado do Ceará aprovou uma lei de proibição de pulverização por avião, que continua proibida. Em 2018, o Estado comprava de agrotóxico, algo em torno de R$ 600 milhões; Em 2022, o Estado comprou algo em torno de R$ 1 bilhão. Mesmo com a lei proibindo, aumentou o consumo”, explicou na época. 

“A questão que fica é, quem é que está aplicando esse produto nas plantas? Um trabalhador, um cidadão, com uma família, e que está com um costal pulverizando, inalando o agrotóxico e às vezes com o agrotóxico caindo na sua pele. Eu fui advogado desse povo. Eu sou da opinião que se é de um trabalhador estar inalando, nessas condições, prefiro que seja feito por um drone”.

Críticas ao projeto

medida gerou críticas de ambientalistas, pesquisadores da saúde pública e movimentos sociais, que alertam para os riscos da tecnologia. Conforme publicado pelo O POVO ainda dezembro de 2024, durante a votação do projeto na Alece, alguns deputados estaduais da base governista se mostraram contrários à tecnologia.

O deputado Renato Roseno (Psol) afirmou que os drones agrícolas não são pequenas peças, como os comumente vistos e utilizados para registros fotográficos.

“São drones que hoje carregam 60, 100, 200 litros. Hoje já se comercializam drones de 600 litros e, no Brasil, estão sendo desenvolvidos drones de 900 litros de calda tóxica. A legislação brasileira é extremamente frágil contra isso, porque ela permite que drones cheguem a 20 metros de áreas residenciais, permite que um piloto possa fazer um curso por Ensino à Distância”, considerou.

O deputado Missias Dias (PT), com trajetória ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e preside a comissão de Agropecuária, foi um dos parlamentares da base que também criticaram o projeto.

“Não se trata apenas de um drone, se trata de colocar veneno nos territórios da zona rural. Automaticamente esse veneno, de forma escalonada, vai atingir casas, pessoas, o solo, a biodiversidade, a água. Estamos tratando de um tema complicado que diz respeito à saúde pública [...] É o veneno que realmente mata se não tivermos cuidado e zelo. Se me perguntarem, sou contra a pulverização aérea. Sou contra todo tipo de veneno jogado na natureza, temos que buscar outras alternativas e trabalhar numa transição agroecológica”, disse o colega de partido do governador.

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