Questões anuladas não afetarão notas dos estudantes no Enem, diz presidente do Inep
Pasta anulou três questões no dia 18, após divulgação que um universitário de sobral teria conseguido acesso prévio a elas; Inep considera "muito baixa" chance de memorização de pré-testes
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios afirmou que as três questões anuladas pelo Inep do dia 18, após suspeita de que o cearense Edcley Teixeira havia conseguido acesso prévio a elas, não afetarão as notas dos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025.
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A declaração foi dada por Palácios em entrevista ao portal G1 Educação e ao Jornal Nacional, nesta terça-feira, 25. Segundo o presidente, a decisão de anular as três questões foi tomada em caráter inicial pelo Inep, quando ainda não se sabia o prejuízo real que o caso poderia trazer para o certame.
"Nós tínhamos que lidar com uma situação desconhecida. Não sabíamos o que tinha se passado. Estudamos, pesquisamos, todas as equipes técnicas do INEP foram mobilizadas para ver o que estava sendo oferecido ao público. Hoje, nós temos um diagnóstico claro do que estava acontecendo”, disse Palacios ao G1 e ao Jornal Nacional.
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O gestor também comentou o fato de as questões aplicadas no Enem terem sido usadas por Edcley no curso preparatório que ele ministra para vestibulandos. Segundo Palácios, os estudantes fazendo centenas de questões na preparação para o exame, então é "muito baixa" a chance de terem decorado as que caíram no certame.
"As perguntas que alguém [Edcley] analisou (...) não afetam em nada o estudante que se prepara para o Enem, porque ele tem de fazer vários exercícios e analisar diferentes problemas", disse.
Pré-testes do Enem serão mantidos, diz Palácios
A pasta não deverá fazer alterações nos pré-testes do Enem, conforme Palacios. A justificativa do presidente é de que o Banco Nacional de Itens (BNI) usado na prova é vasto, e que por isso, não há risco de prejuízo ao exame.
"Colocamos em pré-teste entre 4 mil e 5 mil questões nos últimos anos. Essas questões não estão presentes em nenhuma dessas apostilas de forma representativa. Algumas têm itens semelhantes, porque a matéria prevista para compor os exames é conhecida. Outras têm semelhanças mais significativas. Mas não há uma sequer que seja idêntica", pontua.
A segurança dos pré-testes do Enem foi colocada em cheque após o caso de Edcley e levou à especulações sobre a manutenção do prêmio Capes de talento universitário (prova na qual Edcley teve acesso às questões usadas no Enem) no BNI.
"O banco do Inep é renovado constantemente. Não há carência de questões", concluiu.
Relembre o caso
As dúvidas sobre a isonomia do Enem 2025 surgiram após o portal G1 Educação noticiar que Edcley usava questões do prêmio Capes de talento universitário, prova aplicada a estudantes no primeiro ano do ensino superior e da qual o cearense já participou, em seus cursos para vestibulando.
A suspeita é de que Edcley tenha descoberto que a prova era um pré-teste do Enem e que as questões usadas nela teriam maior chance de caírem no Enem.
Mensagens de grupos de Whatsapp mostram Edcley comemorando o uso na prova de matemática do Enem de pelo menos duas questões aplicadas por ele no cursinho. As questões foram enviadas por ele aos vestibulandos em março, oito meses antes do certame.
No domingo passado, 23, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação de busca e apreensão contra Ecley, onde foram apreendidos um notebook, um celular e um caderno de provas do Enem. O material está sendo analisado pela PF.
O que diz Edcley?
Em entrevista ao Fantástico, o estudante negou ter tido acesso antecipado à prova do Enem e disse não saber que as questões do Prêmio Capes seriam usadas no Exame. Edcley classificou a repetição das respostas como "similaridades pontuais" que foram "coincidências".
Questionado sobre ter aplicado as questões do Prêmio nas suas mentorias, o estudante ressaltou que o edital do Capes não proibia o uso posterior dos itens. "Não existia nenhum termo de compromisso, não existia nenhum termo de sigilo, não existia nem um edital", ponderou Edcley ao Fantástico.
Em nota divulgada nas redes sociais, o universitário se disse injustiçado e considerou largar as mentorias para vestibulandos do Enem.
"A dor dessa injustiça é tamanha que me faz cogitar o impensável: abandonar o ensino para o Enem, exame pelo qual nutria uma paixão genuína e transformadora, e buscar refúgio na segurança das minhas aulas para concurseiros. Contudo, não irei ceder. Minha resiliência inabalável é inspirada na maior lição de coragem e perseverança: a do meu mestre, Jesus, que, embora não tivesse diploma, ensinou a dignidade do oprimido", diz parte do texto.
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