Prévia da inflação de 2025 na Grande Fortaleza cresce 4,29%
O IPCA-15 na RMF em 2025 foi marcado pela alta dos serviços essenciais, como saúde e educação, que pressionaram o custo de vida ao longo do ano
A prévia da inflação de 2025 na Região Metropolitana de Fortaleza encerrou o ano com alta acumulada de 4,29%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado nesta terça-feira, 23, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado, apurado a partir do comportamento dos preços observado em dezembro, funciona como uma antecipação do desempenho inflacionário ao longo de todo o ano.
Somente em dezembro, o IPCA-15 da Capital registrou alta de 0,36%, acima do índice nacional no mesmo período, que ficou em 0,25%.
Com isso, a região apresentou aceleração da inflação no último trimestre de 2025, após variações de 0,01% em outubro e 0,23% em novembro, acumulando 0,60% no período.
No acumulado de 12 meses, tanto o IPCA-15 quanto o IPCA-E — indicador especial que consolida os resultados trimestrais do índice — apontaram inflação de 4,29% na Região Metropolitana de Fortaleza, reforçando a tendência de pressão nos preços ao longo do ano.
Alimentação, transportes e habitação concentram maior peso no índice
Entre os grupos de produtos e serviços pesquisados, Alimentação e bebidas foi o de maior peso no orçamento das famílias, representando 24,23% da composição do índice.
Em dezembro, o grupo teve variação de 0,16%, enquanto no acumulado de 2025 registrou alta de 3,66%.
Segundo o economista Alex Araújo, Alimentação, Transportes e Habitação concentram o maior peso no índice porque correspondem a despesas essenciais, recorrentes e de difícil ajuste no curto prazo.
"A alimentação envolve consumo diário e inadiável; a habitação reúne compromissos fixos, como aluguel, energia elétrica, água e esgoto; e os transportes são indispensáveis para o deslocamento ao trabalho, à escola e ao acesso a serviços", explica.
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Apesar do avanço no ano, alguns itens básicos da alimentação apresentaram queda expressiva, como cereais, leguminosas e oleaginosas (-23,34%), com destaque para o arroz (-25,72%).
Para Araújo, esse movimento reflete oscilações pontuais de oferta, mas não reduz o peso estrutural do grupo no orçamento.
"Em contextos urbanos como Fortaleza, essas despesas assumem caráter praticamente obrigatório, o que reduz significativamente a margem de adaptação das famílias diante de variações de preços", afirma.
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Em contrapartida, a alimentação fora do domicílio subiu 6,91%, contribuindo para o resultado positivo do grupo.
O economista destaca que esse tipo de despesa costuma crescer em períodos de maior circulação de pessoas e retomada do consumo de serviços.
O grupo Transportes, segundo maior peso no índice (18,76%), registrou variação mensal de 0,41% em dezembro e acumulou alta de 2,55% em 2025.
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O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento de serviços como o transporte por aplicativo, que acumulou alta de 33,27% no ano, além das passagens aéreas, que subiram 15,16% apenas em dezembro.
De acordo com Alex, o avanço dos Transportes no último mês do ano está ligado a fatores sazonais.
"O fim de ano concentra férias escolares, recesso e festas, o que eleva a demanda por deslocamentos. Esse movimento pressiona especialmente passagens aéreas e serviços de mobilidade, como transporte por aplicativo, que são altamente sensíveis a picos temporários de demanda", analisa.
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Já o grupo Habitação, com peso de 16,38%, apresentou uma das maiores altas mensais em dezembro (1,15%) e acumulou variação de 5,55% no ano.
O avanço foi impulsionado principalmente pelo aluguel residencial, que subiu 4,69%, pela taxa de condomínio (5,08%) e pela taxa de água e esgoto, que registrou alta de 6,73%, refletindo o reajuste tarifário de 9,75% em Fortaleza, em vigor desde 5 de novembro.
Para o economista, o impacto desses grupos tende a ser ainda mais intenso nas faixas de renda mais baixa, onde uma parcela elevada do orçamento já é comprometida com gastos básicos.
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“Esse efeito é amplificado por fatores estruturais, como um mercado de aluguel pressionado, forte dependência do transporte público ou individual e elevada sensibilidade a oscilações nos preços de alimentos”, conclui.
Saúde, educação e despesas pessoais lideram altas no acumulado do ano
No recorte anual, o grupo Saúde e cuidados pessoais foi o que apresentou a maior alta acumulada em 2025, com avanço de 6,56%, influenciado principalmente pelo aumento dos serviços de saúde (7,09%) e dos cuidados pessoais (7,89%).
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"São grupos fortemente intensivos em mão de obra e com baixa sensibilidade às pressões de demanda, já que as famílias dificilmente conseguem reduzir gastos com medicamentos, planos de saúde ou educação formal diante de aumentos de preços", explica Alex.
Na sequência, o grupo Educação registrou variação de 6,48% no ano, apesar de ter apresentado queda em dezembro (-0,02%). O resultado foi puxado pelos cursos regulares (6,27%), com destaque para creche (9,80%) e pré-escola (9,47%).
Segundo Araújo, a dinâmica desses serviços tende a ser pouco influenciada pelas oscilações mensais do índice e responde mais a fatores que se propagam ao longo do ano, como um mercado de trabalho aquecido e reajustes salariais.
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No caso específico da Educação, ele observa que os reajustes costumam se concentrar no início do ano letivo. "Isso ajuda a explicar a inflação elevada ao longo de 2025, mesmo com a variação negativa registrada em dezembro", afirma.
O grupo Despesas pessoais acumulou alta de 6,35% em 2025, com avanço expressivo dos serviços pessoais (8,46%), impulsionados por itens como manicure (24,14%) e cabeleireiro (11,89%).
Em dezembro, o grupo registrou a segunda maior variação mensal (0,42%), influenciado também por serviços como barbeiro (1,05%) e sobrancelha (2,69%).
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Em Saúde e cuidados pessoais, acrescenta o economista, pesam fatores como os reajustes regulados dos planos de saúde e o aumento dos custos de insumos e serviços médicos especializados.
"Esse conjunto de elementos reforça a leitura de que a inflação observada em Fortaleza não foi apenas conjuntural ou sazonal, mas refletiu pressões persistentes sobre serviços essenciais", avalia.
Para ele, o cenário recomenda cautela na análise das perspectivas inflacionárias para 2026.
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Itens com maiores altas percentuais
Entre os itens específicos que mais subiram ao longo de 2025 em Fortaleza, destacam-se a manga, com alta de 43,92%, e o café moído, que registrou aumento de 41,82%.
No setor de transportes, o transporte por aplicativo também figurou entre as maiores altas, com variação de 33,27% no ano.
Apesar das elevações expressivas, os percentuais indicam a variação em relação ao preço inicial de 2025 e não significam, necessariamente, que esses produtos sejam os mais caros da cesta de consumo.
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Grupos com queda em dezembro e no acumulado do ano
Em dezembro, três grupos apresentaram variação negativa: Artigos de residência (-0,30%), Comunicação (-0,16%) e Educação (-0,02%). No acumulado de 2025, Comunicação foi o único grupo a registrar deflação, com queda de 0,36%.