Acquario Ceará: setor turístico critica espaço virar Labomar

A decisão do governo do Estado de tornar o Acquario a nova sede do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar-UFC) não satisfez o trade turístico cearense. Lideranças do setor criticaram a decisão e apontam que é preciso substituir o projeto original por outro que gere impacto positivo para o turismo cearense.

“Passamos muito tempo com a expectativa de que viria algo bom para o turismo e decidem por algo que poderia ser em qualquer outro lugar da cidade. Pior notícia eu não poderia ter recebido. Para o turismo, isso não foi nada legal”, lamentou Ivana Bezerra, presidente do Visite Ceará.

Ela comentou que a conversão do equipamento turístico em um espaço de pesquisa surpreendeu negativamente o setor e foi o assunto da reunião de hoje da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE).

Régis Medeiros, presidente da ABIH-CE, endossa as críticas de Ivana e diz que há inúmeras outras possibilidades para a área relacionadas à vocação daquela parte da cidade, onde o turismo se faz mais coerente, segundo ele.

Outras opções para a estrutura do Acquario

“Nós sabemos que manter a proposta de um Acquario nos moldes do projeto inicial é complicado por ser caro, por receber muitas críticas de ambientalistas, mas o espaço pode ser transformado em um local de entretenimento como existe em vários lugares no mundo”, sugeriu a presidente do Visite Ceará.

Ela cita o Porto Madero - bairro de Buenos Aires que abriga um complexo de restaurantes à beira do Rio da Plata, além de hotéis e um cassino flutuante - e a Estação das Docas - complexo de lojas localizado em Belém, à margem da Baía do Guajurá.

Reunir bares, restaurantes, lojas e mais opções de entretenimento é a sugestão dos líderes. Medeiros dá como exemplo mais próximo os espigões da Beira Mar, que foram concedidos para a iniciativa privada e devem abrigar negócios de vocação turística.

“Infelizmente, há um abandono desse Acquario e dessa região há mais de dez anos. Isso acabou repelindo turistas que visitavam a Praia de Iracema. Então, a decisão é positiva por trazer algo melhor ali. Mas infelizmente não é um equipamento turístico. Poderia ser algo que atraísse mais o público, mas vai ficar restrito a estudantes e professores”, comentou Taiene Righetto, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE).

Modelo de concessão fez a diferença

Ivana comenta que as outras tentativas de conceder o projeto do Acquario para a iniciativa privada não deram certo porque era um projeto muito caro e complexo. Mudar para uma estrutura de maior conversa com os demais já facilita o interesse dos investidores.

“A ideia não vingou,não deu certo, tudo bem. Mas tem que se pensar em muita coisa. Seja uma privatização, concessão, algum modelo mais adequado. Agora, um equipamento daquele para se transformar no Labomar, que é uma coisa para dentro…Localizado ali, no Pici ou no Passaré não faz diferença”, critica o presidente da ABIH-CE.

Ele reforça que “o foco para aquela região é o movimento turístico da Beira Mar” e classifica a decisão do governo como “um desperdício de um equipamento muito rico para o turismo”.

“A nossa vocação é essa”, arremata Ivana, apontando a necessidade de o governador rever a decisão, que é esperada para o dia 29 de dezembro de 2023.

O que se sabe até agora?

O acordo entre o governador Elmano de Freitas (PT) e a UFC foi revelado pelo O POVO. Os detalhes serão revelados pelo governador Elmano de Freitas (PT) no próximo dia 29 de dezembro.

Toda a estrutura do projeto original, datado de 2009, será aproveitada. No entanto, segundo O POVO apurou, será necessário construir até duas lajes a mais para atender as necessidades dos pesquisadores.

Haverá peixes, mas não como seria na concepção original do Acquario. Os espécimes serão apenas para estudo, e não para visitação. De todo modo, o desenho do futuro Labomar incluirá áreas de interação com o público.

Campus Iracema

Custódio Almeida, reitor da UFC, já havia mencionado à rádio O POVO CBN que a instituição planejava ter um novo campus na Praia de Iracema.

Hoje, os cursos de graduação em Oceanografia e em Ciências Ambientais e uma pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais são abrigadas pelo Laboratório, além de pelo menos dez projetos de extensão.

Mas o novo campus, disse o reitor, terá ainda um novo teatro universitário e até uma nova unidade de residência estudantil.

Hoje, o Labomar ocupa prédio na avenida da Abolição, no bairro Meireles, em Fortaleza. Já o Aquário está com obras paralisadas desde 2015, sem nenhum projeto efetivo de retomada até agora.

Acquario tem quase 15 anos de projeto

De histórico polêmico desde o lançamento pelo então governador Cid Gomes (na época, PSB), o equipamento tinha como objetivo impulsionar o turismo na capital cearense. Era projetado, quando pronto, como o terceiro maior do mundo há 14 anos.

A estrutura desenhada para o equipamento trazia 21,5 mil metros quadrados de área construída e 38 tanques-recinto de exibição com capacidade para 15 milhões de litros de água.

No total, eram quatro pavimentos nos quais seriam distribuídos áreas de lazer, dois cinemas 4D, simuladores de submarino, equipamentos que proporcionam interação entre público e aquário e túneis submersos que levariam os visitantes ao interior do tanque de animais marinhos.

Sem sequência

Orçado em US$ 150 milhões e com financiamento do Ex Im Bank em 2012, o Acquario Ceará passou por revisões de projeto e custos ao longo desse período. Após a saída de Cid Gomes do Palácio da Abolição, Camilo Santana (PT) tentou dar sequência ao projeto sem sucesso.

De início, o então novo governador optou por buscar parcerias público-privadas para a obra e operação do equipamento, mas não encontrou interessados. Críticas sobre o robusto investimento, que havia perdido o financiamento, em meio a um período de estiagem e, na sequência, uma pandemia, acabaram por inviabilizar o andamento do projeto por Camilo. 

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