Caminhões atolam em via para o Pecém e congestionamento quilométrico se forma 

Situação gera prejuízos financeiros, atraso no abastecimento e fluxo de cargas do principal atrativo econômico do Estado

Na manhã desta quinta-feira, 21, dois caminhões, carregados de mercadoria, atolaram na rodovia CE-155, principal via de acesso ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. O problema de infraestrutura rodoviária tem se agravado com as recentes chuvas no Estado e situação gera temor em trabalhadores, caminhoneiros e empresários que precisam trafegar pela via. 

"Ninguém aguenta mais essa situação", pontua o gerente de logística da Aeris, Rodolfo Nogueira, que encontra-se há cerca de 3 horas no local. "A via sempre teve problemas em diversos pontos, mas a situação tá se agravando demais, todos os dias ocorrem acidentes, atrasamos entregas, pedidos, carros quebram, caminhões atolam e mais do que os impactos financeiros, estamos preocupados com a vida e segurança de quem precisa passar por aqui", complementa. 

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Em relato exclusivo ao O POVO, Rodolfo pontua ainda que o ocorrido na manhã de hoje gera uma fila quilométrica de caminhões e outros veículos que tinham como destino o Complexo do Pecém. "A via tá completamente obstruída, ninguém tem condições de chegar ou sair do Pecém até que os caminhões sejam desatolados, é a única via que permite a passagem de caminhões, o fluxo de cargas para o complexo tá totalmente parado.", revela. 

Caminhões atolados bloqueiam acesso ao Complexo do Pecém; veja fotos:

As imagens mostram que as condições da rodovia que faz entroncamento com a BR-222 pioraram desde a mais recente reportagem que O POVO fez com denúncia das empresas que acessam o Compexo do Pecém sobre a infraestrutura da malha viária, no dia 11 de abril deste ano

"São várias empresas com caminhões parados aqui, eu mesmo estou há horas no local, tá todo mundo no sol aqui, sem a menor previsão de quando isso vai ser resolvido. Estou tentando articular por meios privados maquinário para vir até o local e tentar desatolar os caminhões", comenta Rodolfo sobre a situação no local. 

Procurada pelo O POVO, a Superintendência de Obras Públicas do Estado do Ceará (SOP) afirma que: "As obras de duplicação da CE-155, entre o Porto do Pecém e o entroncamento da BR-222, encontram-se em andamento. As fortes chuvas atrapalham a agilidade dos serviços no momento".

Com relação aos sinistros denunciados pelo O POVO no último dia 11 e nesta quinta, 21 de abril, a SOP acrescenta que "ações emergenciais já estão sendo realizadas no local".

Diante do posicionamento da SOP, Rodolfo revela que diversos empresários têm pressionado o Governo do Estado por uma solução definitiva para o problema em questão. "Todos os funcionários questionam a gente do motivo pelo qual não conseguimos resolver o problema de uma via de apenas 18 quilômetros, ninguém mais se sente seguro e ninguém que passar por aqui", pontua.

Ele detalha ainda uma série de reuniões com o Estado para tratar da situação: "Nas duas últimas semanas o Estado tem tido uma movimentação mais intensa com relação a isso e tem feito alguns reparos paliativos, mas a gente precisa que isso ocorra mais rápido e com reparos constantes e não pontuais. Precisamos também que uma solução definitiva seja tomada de forma urgente".

Sobre essa questão, após ser procurado pelo O POVO, o Complexo do Pecém informou que o assunto é de incumbência do Governo do Estado e que as soluções para as questões denunciadas devem ser promovidas pelo poder público.

Atraso no envio e recebimento de cargas

O POVO também questionou o Complexo com relação aos relatos de atrasos no funcionamento das operações industriais diante dos longos congestionamentos e acidentes frequentes na principal via de acesso ao equipamento, bem como sobre a interrupção no fluxo de cargas por meios terrestres diante do bloqueio da via pelos caminhões atolados.

Em resposta, o Complexo afirma que irá investigar a situação, e, por meio de nota, reforça que todas as operações do equipamento seguem dentro da normalidade, apesar do bloqueio na via de acesso.

"O Complexo do Pecém informa que, nesta quinta-feira (21), seguem dentro da normalidade as operações de carga e descarga nos portões (gates) de acesso do Porto do Pecém e da ZPE Ceará. Reafirmamos ainda o compromisso com a segurança em todas as nossas operações.", destaca o posicionamento enviado ao O POVO.

O presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Ceará (Sindace), Sérgio Amora, porém, destaca que as transportadoras e empresas exportadoras do Estado registram prejuízos com relação às condições da via de acesso ao Complexo desde 2014. 

"Diariamente nós estamos tendo problemas com atraso da entrega das nossas cargas. Os clientes contratam as transportadoras, acertam com os navios o horário para embarque e o navio nos dá um deadline, um tempo limite para que possamos embarcar a carga, mas com os caminhões atolando, muitos clientes perdem esse prazo, perdem a mercadoria e ficam no prejuízo", relata. 

Ele destaca que para exportação de mercadoria com tempo estimado em 6 horas, os clientes já contrataram um tempo maior com as transportadoras e com os navios "pois já sabem que vão atrasar devido as condições da via, então se era pra ser 6 horas, a negociação passa para 8 horas, no mínimo".

Veja vídeo do local onde os caminhões atolaram 

O aumento gera uma despesa maior para empresa, que ainda corre o risco de ter um imprevisto de tempo ainda maior, "tempo é dinheiro, e com essa rodovia, ambos estão sendo perdidos", acrescenta.

Ao menos 20 caminhões chegam atrasados todos os dias ao Complexo, e um número ainda maior não consegue chegar a tempo de embarcar a mercadoria, conforme pontua Sérgio. Ele revela que se tratando de uma avaliação temporal, as condições da CE-155 e os constantes atolamentos e incidentes com os veículos de cargas fazem com que as empresas gastem o dobro de tempo necessário para acessar a área de embarque e desembarque de cargas do Pecém.

Percursos que levariam 30 minutos, diante dos recorrentes engarrafamentos, chegam a levar até cinco horas para serem concluídos, conforme avalia Sérgio. O presidente do Sindace destaca que os prejuízos podem ser "muito mais graves" se tal situação se mantiver até o próximo período de safra de frutas, quando aumenta consideravelmente o envio de cargas pelo Pecém. 

A problemática se intensifica diante da concentração do fluxo de cargas na CE-155. Na avaliação de Sérgio, se o Estado implementasse autorizações para que outras vias que também dão acesso ao Pecém recebessem fluxo de veículos pesados, o próprio desempenho do porto seria intensificado.

"O governo ainda não entendeu a importância de melhorar o acesso ao Pecém, continua fazendo propaganda dizendo que o porto do Pecém é maravilhoso, que está batendo recordes, mas nós poderíamos estar muito melhores se houvesse a humildade de reconhecer esse grave problema de acesso", finaliza Sérgio ao mencionar que tal situação é um dos gargalos para atração de novos investimento no Complexo Industrial e Portuário.

Prejuízos econômicos

Os impactos financeiros incluem o aumento do número de manutenções na frota de caminhões das transportadoras, maior tempo com veículos parados, sem contar a insatisfação de clientes e motoristas. "Esse é um problema tão antigo e recorrente que nós já incluímos os gastos com esses reparos extras e incidentes nas despesas fixas do mês", revela Adilson Benega, diretor da Unilink transportes. 

Com frota de 40 caminhões para curta e média distância, cobrindo toda Grande Fortaleza e 20 outros veículos para trajetos de longas distância, a empresa pontua que as condições da via geram problemas graves: "Se o caminhão cair em um dos buracos, ele não vai furar o pneus, vai estourar, sem nenhuma chance de reparo, quebra mola, suspensão, tudo", acrescenta Adilson. 

O gestor destaca ainda que devido as condições da via, a empresa passou a gastar mais com paradas obrigatórias dos caminhões, teve de aumentar o número de revisões preventivas e que quanto maior é a demanda de fluxo de cargas para o Pecém, maiores são os incidentes registrados com a frota. "Passamos dois anos quase parados por causa da pandemia, a demanda agora está voltando, e está bem aquecida, mas a rodovia atrapalha, quanto mais mandamos caminhões pra lá, maior são os problemas que enfrentamos", pontua. 

Além do prejuízo próprio, que gera uma redução do lucro, e se agrava diante do aumento generalizado de preços, em especial dos combustíveis, Adilson pontua que a empresa corre o risco ainda de gerar danos na carga transportada caso o caminhão atole ou caia em algum buraco. A preocupação, conforme o executivo, é constante e trava o processo de retomada econômica das empresas, além de prejudicar o fluxo logístico. 

"Não podemos só culpar a chuva, sempre choveu no mundo todo e em outros locais a infraestrutura rodoviária não é desse jeito. Teve descaso, faltou preocupação e cuidado com toda essa situação. Agora, de fato, estamos vendo uma força-tarefa de obras públicas para minimizar a situação, mas precisamos é que isso não volte a acontecer", argumenta. 

Adilson afirma ter esperança de que o problema seja resolvido, mas lamenta a lentidão com que as obras emergenciais de reparo no local são feitas. "Isso tem nos atrapalhado bastante, feito a gente perder dinheiro e não é de hoje, atrapalha todas as transportadoras e empresas que querem escoar mercadoria pelo Pecém, e não só por lá, saindo do porto e vindo pras cidades as estradas também tem muitos problemas", complementa. 

Com colaboração das jornalistas Beatriz Cavalcante e Karynne Lane 

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