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Quanto custa viver 100 anos?

Com o aumento da expectativa de vida da população e a redução do número de filhos por mulher, viver muito pode ser insustentável do ponto de vista das contas públicas e das finanças pessoais; entenda

Com a evolução da medicina, há uma tendência de aumento da população da quarta idade, que compreende pessoas octogenárias em diante. Estima-se que, em 2060, no Brasil, o número de idosos nessa faixa etária ultrapassará 19 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado revela um crescimento de mais de 27 vezes em relação a 1980, quando só havia 684.789 pessoas com mais de 80 anos no País.

A alta é resultado da melhoria da esperança de vida ao nascer do brasileiro, que era de 62,58 anos em 1980, atingindo o ápice de 76,6 anos em 2019, finalizando um período de crescimento contínuo da longevidade desde 1945, quando a média de vida no País era de 45,5 anos.

Em 2020, por causa da pandemia, os brasileiros perderam 1,78 anos de expectativa de vida, de acordo com a pesquisa Reduction in Life Expectancy in Brazil After Covid-19, coordenada por Márcia Castro, do Departamento de Saúde Global e População da Universidade de Harvard.

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Sobre a população centenária do País, o Censo 2010 apurou que existiam 23.760 brasileiros com mais de 100 anos e, apesar do gradativo aumento da expectativa de vida, o número de pessoas com essa idade era de 24.576 em 2000. Com base em projeções da ONU realizadas em 2017, o Brasil terá, em 2100, 1,5 milhão de idosos com 100 anos ou mais.

O mesmo estudo das Nações Unidas sugere ainda que haverá 25 milhões de centenários em todo o mundo daqui a 80 anos. A pesquisa foi realizada com base na realidade de cinco países que catalogam informações cronológicas de alta qualidade sobre a população com 100 anos ou mais: Dinamarca, França, Suécia, Suíça e Japão.

Por um lado, isso é muito bom; a expectativa de vida é um importante indicador de qualidade de vida, compondo o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das nações. Por outro, pode ser muito caro para o idoso, demandando um planejamento financeiro para que seja possível custear uma velhice saudável. Afinal, como alguém pode sustentar um padrão de vida que inclua despesas médicas, cuidados especiais, higiene, alimentação e moradia por tanto tempo?

Mais aniversários para a conta, significa: mais boletos para pagar durante toda a vida.

Além disso, pode sair caro ao Estado, pois com a previdência social em crise e o sistema brasileiro de repartição pública ameaçado pela queda da taxa de natalidade, viver muito pode ser insustentável não somente do ponto de vista das finanças pessoais, mas também das contas públicas.

Quanto custa viver muito?

Prevenir-se de graves problemas de saúde é ideal; mas, com a idade, é inevitável o aparecimento de doenças e o aumento das despesas médicas. Para garantir uma vida longa e um envelhecimento saudável não basta praticar boa nutrição, atividade física e evitar estresse; é necessário economizar e garantir uma renda para o futuro.

Problemas financeiros relacionados à velhice vão desde a diminuição da capacidade cognitiva para lidar com as contas do dia a dia até a dificuldade para custear remédios controlados e cuidados especiais até o fim da vida.

Segundo estudo publicado no The Journal of the Economics of Ageing (Revista da Economia do Envelhecimento, em português), periódico da Universidade de Stanford, metade das pessoas que chegam aos 65 anos precisará de serviços de apoio por longos períodos durante a velhice.

Estima-se que, nos Estados Unidos, essas pessoas gastarão, em média, US$ 130 mil com cuidados especiais até o fim da vida. Descontado a cobertura dos seguros de saúde, isso significa que aproximadamente 86 mil dólares saem do bolso do próprio idoso, que deve arcar, ainda, com os custos de medicamentos, transporte, moradia e alimentação.

No Brasil, a saúde deve ser oferecida à população pelo Estado, mas essa incumbência, apesar de essencial, ainda não atingiu seu funcionamento ótimo, sendo necessária a contratação de serviços privados por parte dos cidadãos, especialmente dos mais velhos.

Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Saúde (ANS), os planos de saúde para idosos chegam a ser 464% mais caros do que para jovens crianças e adolescentes. Para pessoas entre zero e 18 anos, um plano com serviços ambulatoriais e hospitalares custa em média R$ 237,90; para quem tem 59 anos ou mais, o preço médio é de R$ 1.343,78.

Ao final de um século de vida, sem considerar a inflação, um brasileiro que hoje tem 59 anos terá gasto R$ 661.139,76 com plano de saúde.

Como pagar por estas despesas?

Envelhecer com saúde é um anseio de quem quer viver muito e bem, sem se preocupar com a escassez monetária, tendo acesso ao lazer e à medicina de ponta. Portanto, o cidadão adulto deve se preocupar em garantir renda para assegurar uma vida longa e feliz.

Dependendo de quanto a pessoa viverá, uma determinada quantia pode ser insuficiente para levar uma velhice confortável. Suponhamos a seguinte situação: uma pessoa pretende se aposentar aos 65 anos tendo juntado R$ 1 milhão durante sua vida laboral. Se ela viver mais dez anos, a quantia acumulada lhe garantiria uma renda de R$ 8.333,33 mensais.

Mas, se essa pessoa chegar aos 100 anos, a renda prevista após se aposentar seria de R$ 2.380,95 por mês.

Agora, pense o que aconteceria se, passados cinco anos desde a aposentadoria, essa pessoa revisasse seu planejamento por acreditar que viverá mais tempo do que imaginou no início.

Dos 65 aos 70, ela terá gasto aproximadamente R$ 500 mil, restando-lhe mais meio milhão para viver mais trinta anos. Isso significa que, durante suas três últimas décadas, ela teria uma renda mensal de R$ 1.388,88. Esse valor equivaleria a aproximadamente 16,6% da quantia com que se havia planejado viver mês a mês ao se aposentar com 65 anos.

O problema mora na percepção tardia da elevada expectativa de vida , quando já não há como se preparar psicológica e financeiramente para uma considerável diminuição no padrão de vida.

Hoje, mais do que nunca, não vale a pena investir somente em previdência pública. No Brasil, é arriscado depender somente do INSS. Ter, pelo menos, uma reserva de emergência que assegure o pagamento de uma conta imprevisível, como uma cirurgia e cuidados pós-operatórios, por exemplo, é essencial.

Taxa de natalidade x crise previdenciária

A grosso modo, o atual sistema previdenciário é sustentado pela população economicamente ativa que paga os salários dos que estão aposentados hoje. Nessa lógica, quando os trabalhadores do presente se aposentarem, os trabalhadores do futuro vão pagar a conta. Esse sistema é conhecido como sistema de repartição.

Com o aumento da expectativa de vida e a tendência geral de queda do número de filhos por mulher, a conta da repartição pública é ameaçada.

Em 1980, segundo o IBGE, no Brasil havia nove trabalhadores ativos para cada aposentado. Em 2018 a proporção diminuiu de cinco para um e a estimativa é de que, em 2060, sejam dois para um.

Em duas décadas, de acordo com dados lançados em 2018 pelo IBGE, o número de idosos deve superar o de pessoas com até 15 anos.

Conforme a ONU, desde 2019 há mais idosos no mundo do que crianças com até cinco anos, sendo a longevidade, de acordo com o FMI, um dos maiores riscos futuros para a economia dos países.

Não há ainda uma resolução desse dilema, mas o fato é que a aposentadoria como se conhece passará por reformas.

Em artigo de 2018, Jo Ann Jenkins, CEO da fundação estadunidense sem fins lucrativos AARP, que combate a pobreza na terceira idade, comenta ações de nações asiáticas que estão se empenhando para lidar com os desdobramentos decorrentes do envelhecimento da população.

Na China, por exemplo, há uma política de valorização do conhecimento e da experiência de vida de pessoas mais velhas que são consultadas pelo governo para melhorar social e economicamente regiões menos desenvolvidas do país, para onde normalmente os trabalhadores jovens não têm interesse em ir quando estão no auge das suas vidas profissionais.

No Japão, o Silver Human Resource Centers (SHRC), centros financiados pelo governo do país e prefeituras, oferece oportunidades de trabalho de curto prazo para adultos mais velhos que procuram emprego. Nesse modelo, o perfil das pessoas é combinado com o que as empresas e organizações procuram. Além disso, em cooperação com organizações públicas e privadas, o SHRC treina essas pessoas para o mercado de trabalho e as ajudam na preparação para a entrevista com RH.

 

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