Ceará registra aumento no número de mortes em rodovias federais, aponta estudo
Mesmo com leve redução do número total de ocorrências desde 2021, estado registra aumento de mortes e feridos graves em 2024; levantamento detalha quais rodovias e tipos de acidentes mais preocupam
Uma pesquisa coordenada pela Fundação Dom Cabral (FDC), divulgada nesta quarta-feira, 10, revela que o Ceará registrou 1.433 acidentes em rodovias federais em 2024. Embora o número seja menor que o de 2018, o Estado apresentou um aumento preocupante na severidade das ocorrências ao longo dos últimos anos.
Os resultados, que analisam o período de 2018 a 2024, mostram que, após a queda registrada em 2020 e 2021 — anos marcados pela pandemia —, o número total de acidentes voltou a crescer.
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Evolução dos acidentes no Ceará e Fortaleza
O Ceará somou 1.588 acidentes em 2018, 1.635 em 2019, 1.513 em 2020 e 1.500 em 2021. A partir de 2022, o indicador voltou a subir: foram 1.263 acidentes naquele ano, 1.313 em 2023 e 1.433 em 2024. Apesar de inferior ao registrado em 2018, 2024 apresentou o maior número de vítimas da série, com 179 mortes, e também o maior número de feridos graves, 489. Em contraste, 2022 teve o menor registro de feridos graves: 390.
Em Fortaleza, a tendência também é de crescimento. A Capital passou de 339 acidentes em 2018 para 442 em 2024. O número de vítimas aumentou de 12 para 28 no período, enquanto o total de feridos graves subiu de 93 para 123.
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Cenário nacional segue tendência semelhante
Em 2024, as rodovias federais brasileiras voltaram a registrar os piores índices de segurança viária desde 2018. Naquele ano, foram contabilizados 51.753 acidentes. Em 2020, devido às restrições da pandemia, houve queda para 48.416. A partir de 2021, porém, o total voltou a subir e alcançou o ápice em 2024: 56.117 acidentes — 8% a mais do que em 2018.
“O ponto central desse estudo é a severidade dos acidentes. Observamos que, apesar do volume total de ocorrências se manter relativamente estável, o número de feridos graves e vítimas cresceu consideravelmente entre 2022 e 2024”, destacou Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da FDC.
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Como o estudo foi feito
Para garantir comparabilidade entre trechos com diferentes níveis de tráfego, a pesquisa cruzou dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) — responsável pelo volume de tráfego — com boletins de ocorrência da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O levantamento considera apenas trechos com fluxo a partir de mil veículos por dia.
Duas métricas principais foram utilizadas:
- Taxa de Acidentes (TAc): neutraliza a influência do volume de tráfego, permitindo comparações entre trechos distintos.
- Taxa de Severidade: índice ponderado que atribui peso 1 a acidentes com danos materiais e peso 13 a acidentes com mortes.
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BR-116, BR-222 e BR-020 lideram acidentes no Ceará
As rodovias BR-116, BR-222 e BR-020 concentram a maior parte das ocorrências no Estado, refletindo sua relevância logística, o alto fluxo de veículos e a infraestrutura atual. Apenas em 2024, essas vias somaram aproximadamente 1.313 acidentes.
Entre 2018 e 2024, 55,63% dos acidentes ocorreram durante o dia (5.699 registros), enquanto 35,13% aconteceram à noite (3.599). Apesar de menos numerosos, os acidentes noturnos são mais graves — especialmente atropelamentos de pedestres e colisões frontais.
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Participação de veículos nos acidentes
Motocicletas tiveram participação relevante: representam 31,08% da taxa de severidade, embora os automóveis ainda liderem em volume de acidentes (34,1%) e também concentrem quase 35% da severidade. Caminhões aparecem em terceiro lugar entre os veículos mais envolvidos.
Mais da metade das ocorrências (50,1%) foram registradas em rodovias de pista simples, seguidas por pista dupla (32,2%) e pista múltipla (17,8%). Entre os tipos de acidente, a colisão traseira responde pela maior parcela da severidade (21,4%), seguida por colisões frontais e outros tipos de impacto.
Segundo Ramon Cesar, co-coordenador da pesquisa, “as pistas simples, que representam pouco mais da metade das ocorrências, respondem por dois terços da taxa de severidade. Ou seja, são as responsáveis, em grande parte, pelos acidentes com consequências mais graves, como feridos ou mortos”.
Outro dado relevante reforça o risco noturno. “Embora 54% dos acidentes ocorram durante o dia, à noite a severidade é maior: 38% das ocorrências noturnas resultam em consequências mais negativas, como mortes”, aponta Ramon.
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