Passinho do reggae é aprovado como patrimônio cultural do Ceará pela Alece

Passinho do reggae é aprovado como patrimônio cultural do Ceará pela Alece

O Projeto de Lei (PL) 728/2024 é de autoria do deputado estadual Missias Dias (PT). Projeto espera sanção do governador Elmano de Freitas (PT)

Os ritmos dance hall, urbano e reggaeton são dançados, em forma de fila, ao traje de Kenner ou descalços nas praças de Fortaleza, nas vozes de Emiciomar e Má Dame. O cenário, comum do passinho do reggae, foi aprovado para tornar-se patrimônio cultural do Ceará pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) nessa quarta-feira, 11. O Projeto de Lei (PL) 728/2024 é de autoria do deputado estadual Missias Dias (PT). Cabe a sanção do governador Elmano de Freitas (PT).

LEIA MAIS | Reggae em Fortaleza: melhores lugares para curtir o som na Cidade

A cultura foi criada pelos DJs cearenses Tandinho e Regis Dekker. Ao O POVO, o co-autor Tandinho vê como importante a decisão no plenário. "A luta contra o reggae já vem há muito tempo. [...] Muita gente não deixava tocar. [...] Passamos muitos perrengues", lamenta.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

 

Jhessy Marília, 27, estudante de dança da Universidade Federal do Ceará (UFC) e fundadora da escola Educa Reggae, recorda outro nome por trás do passinho: Rita Maranhense.

"Por muito tempo foi dominado pela figura masculina. Mas hoje em dia vemos que está bem misturado, o que eu acho legal", opina.

Jhessy, a única professora atuante da Capital, informa que em setembro será a vez dos moradores de São Paulo conhecerem a cultura exclusiva de Fortaleza.

Sobre a criação do passinho do reggae

Ela conta que o passinho do reggae surgiu nas ruas periféricas do Município, ao adotar músicas de frequência acelerada. Por isso, revela que teve dificuldade no início pela dinâmica rápida dos passos.

"Você explora a sua autoestima, porque eu acho que para dançar sozinho, tem que se sentir bem. Várias alunas já me relataram que o passinho ajudou a aceitar o seu corpo. Cada pessoa tem a sua forma única a ser dançada, então conseguimos acolher”, informa.

De acordo com a bailarina, o ritmo também acessa uma perspectiva de representatividade, ao enxergar pessoas semelhantes, com o mesmo tom de pele e cabelo. Além disso, é um instrumento para abolir estereótipos.

"Sabemos que o reggae ainda é muito recheado de estigma, como o preconceito que as pessoas fazem com apologia a drogas. Na verdade, foge do que realmente é a essência. Vibramos a união, a paz, o amor e a conexão", ressignifica. 

Conforme a estudante, o essencial é produzir uma visão de acolhimento e de liberdade para a criança. Ela acredita que os focos são a positividade do corpo, a felicidade e a diversão.

"O passinho salva vidas de pessoas que não têm uma perspectiva de ser feliz, porque sabemos que a realidade da favela é outra, o crime está ali o tempo inteiro e que tem muitas influências. Então, o passinho chega também como se fosse um lugar de cura", define.

"Fortaleza está sendo referência em aspectos que trazem o reggae para a cultura. [...] Ao mesmo tempo está saindo da periferia para ir para o mundo. [...] Eu acho que de cara vai calar a boca de muita gente que vinha contra e que vai finalmente entender que isso é algo que existe na Cidade e que é muito potente”, comemora sobre o PL.

Projeto de lei foi inspirado por indicação do Levante Popular da Juventude

A proposta, de autoria do deputado Missias, foi construída a partir de uma demanda apresentada pelo movimento social Levante Popular da Juventude.

O projeto dialoga com a valorização das expressões culturais populares e periféricas. "O passinho do reggae é mais do que uma dança: é uma forma de resistência e afirmação da juventude das periferias. Com esse projeto, queremos dar visibilidade a essa cultura viva e incentivar o poder público a apoiar, investir e respeitar essas formas legítimas de expressão", afirma o parlamentar.

Conforme Missias, a dança pode contribuir para a promoção da paz nas periferias por meio do apoio institucional.

"A ocupação dos espaços públicos por meio da dança é, para esses jovens, uma forma de construir novas vivências na Cidade. Em um contexto de exclusão e violência, a cultura torna-se um instrumento de paz, pertencimento e transformação social", discute.

 

Atualizada às 21 horas

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar