Por que não basta se vacinar para dispensar máscara e cuidados: entenda a imunidade coletiva

Processo de vacinação deve ser coletivo e não individual, apontam pesquisadores. Imunização de uma pessoa está completa apenas com D2 e com manutenção das medidas sanitárias, pois elas podem continuar transmitindo a doença

Doenças como sarampo e poliomielite só são controladas com uma alta cobertura vacinal. Mas quando há poucas pessoas vacinadas, e a circulação do vírus continua, a tendência é de aumento de casos e perda do controle. Com a pandemia da Covid-19, especialistas cearenses alertam para a importância da vacinação coletiva da população para o controle efetivo da infecção.

As vacinas aplicadas no Ceará até então geram imunização completa contra o novo coronavírus com aplicação de duas doses, com exceção da Janssen, de apenas uma dose e com início previsto de uso no Estado a partir da próxima semana. A imunização junto à continuidade das medidas sanitárias ajudam no controle da doença. Entretanto, se aglomerações e outros desrespeitos às medidas sanitárias seguem acontecendo junto à vacinação em ritmo lento, mais pessoas poderão ficar doentes. 

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Professor do curso de Medicina da UFC, Roberto da Justa recorda a existência de um índice mínimo de pessoas vacinadas para garantir o controle da doença infecciosa. "Por melhor que seja uma vacina, se eu não vacino o entorno da pessoa, e ela continua exposta a um vírus, ela pode ser infectada", destaca o especialista. 

Sem contabilizar variantes, Roberto relembra que os números estipulados por médicos foram de 60% a 70% da população imunizada - contabilizando duas doses - para garantir a segurança e retorno seguro às atividades. Keny Colares, infectologista da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP), reforça que o termo nunca foi utilizado para falar de imunização de rebanho ao ter a própria doença. "Imagina adoecer 70% da população para gerar imunidade?", questiona.

Keny cita como exemplo o Estados Unidos: pessoas completamente imunizadas com D1 e D2 podem circular livremente sem máscaras em respectivos locais. O mesmo ainda não pode ser feito no Brasil, diferentemente do proposto por Bolsonaro na última semana. "A falta de uma coordenação nacional faz com que cada Estado tenha assumido a luta da pandemia com conceitos e métricas diferentes. É difícil imaginarmos o controle da Covid-19 em uma cidade quando temos outros municípios que o vírus continua circulando", lamenta. "O País ficou dessincronizado em toda a pandemia."

O imunologista Edson Teixeira, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC, recorda o lento ritmo de imunização no País. "Nós temos o Brasil quase todo em colapso hospitalar, temos a chegada da variante indiana e temos, ainda, uma taxa alta de circulação viral. É altamente irresponsável falar de não usar máscara", cita. "Sei que há uma angústia em voltar ao normal, tirar a máscara e abraçar, mas é absolutamente diferente quando você tem 70% da população vacinada e quando você tem 12%, como é o Brasil."

Até última atualização da Sesa, um total de 22% da população no Ceará recebeu D1 da vacina. Porém, os médicos consideram completamente imunizados e seguros aqueles que receberam a segunda aplicação. Como ainda são poucos quando comparados a todo o Estado, as medidas sanitárias devem seguir até o alcance mínimo da imunidade de rebanho.

"Existe um movimento que demonstra que as pessoas, após a primeira dose, tendem a aumentar a abertura. Isso fatalmente mostra um aumento da infecção e dos casos graves", cita Edson, exemplificando com Chile, que voltou no último sábado, 12, à quarentena geral - mesmo com vacinação de maior parte da população com D1.

Para Keny, o aumento dos casos no país latino-americano não têm sido observado com aumento dos óbitos. "A vacina protege contra a doença, mas mais contra a forma grave da Covid. O Chile não atingiu o grau de imunização teoricamente necessário para cortar a cadeia de transmissão, junto a um possível descuidado com medidas de distanciamento e a entrada de novas variantes no país", justifica.

Serrana, em São Paulo, demonstra importância da imunização coletiva

A situação é diferente na cidade interiorana de Serrana, em São Paulo. Com a imunização de toda a população adulta com a CoronaVac - com intervalo de 28 dias entre as doses - os casos sintomáticos de Covid-19 despencaram 80%, as internações 86% e as mortes, 95%. Realizada pelo Instituto Butantan, a pesquisa nomeada como "Projeto S" tem o intuito de entender como a vacina se comporta no mundo real.

Além dos resultados positivos, outra conclusão importante do estudo foi a incidência da doença em comparação a outras cidades vizinhas. O município tem cerca de 10 mil moradores que trabalham em Ribeirão Preto diariamente. Mas enquanto Ribeirão e outras cidades apresentaram alta nos casos da Covid, Serrana manteve baixas taxas de incidência graças à vacinação.

Por pelo menos mais um ano, a pesquisa continuará fazendo a avaliação coletiva da eficácia do imunizante na população. Dentre os próximos passos do estudo, está entender quanto tempo dura a imunização após a segunda dose da CoronaVac e se a vacinação precisará ser feita anualmente como a da influenza.

Com a vacinação em massa, aos poucos o município já se prepara para retornar à normalidade. O infectologista Roberto da Justa reforça a importância do aumento de vacinados em todo o País antes de uma possível terceira onda no Ceará. "Essa é a hora de se avançar na vacinação em massa para evitarmos a ocorrência de uma terceira onda. Neste momento de baixa da incidência, devemos vacinar em massa nossa população para que, em dois ou três meses no máximo, consigamos vacinar toda a nossa população com cerca de 70% a 80%."

A previsão da Sesa é vacinar no Estado toda a população de até 18 anos até agosto deste ano. Plano de operacionalização da pasta estadual foi divulgado na última sexta, 11, com o dado. O POVO/CBN adiantou a divulgação em entrevista com o titular da Sesa, Dr. Cabeto, na terça, 8.

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