Rita Lee: os figurinos da mulher ícone do rock e também da moda

A personalidade autêntica e ousada de Rita Lee ultrapassa as letras das músicas e eram expostas também em figurinos

Cabelos vermelhos, óculos redondos e figurinos extravagantes: pensou em Rita Lee? São três características marcantes da estética da “rainha do rock”, que soube desde cedo que roupa também é comunicação. Falecida na segunda, 8 de maio, aos 75 anos, a cantora deixa seu legado não somente na música, mas também na moda.

“Ela me ensinou que (o palco) é um lugar sagrado. Não dá para chegar com a mesma roupa que você usa no dia a dia. Ela sabe montar um visual como ninguém”, contou Beto Lee, filho da cantora, em entrevista ao Estado de S. Paulo no ano 2000. Autêntica e ousada, Rita transmitia a personalidade nos looks e se tornou inspiração para artistas e público através das décadas, eternizando peças de roupa que são reproduzidas até os dias atuais.

Início da carreira

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De 1966 a 1972, Rita fez parte da banda Os Mutantes. Mesmo no início da carreira, o estilo da cantora já era tema de matéria, sendo comentado em uma edição da Revista Contigo! dos anos 1960. Um dos trajes marcantes usado por ela nesse período foi um vestido de noiva, o mesmo usado pela atriz Leila Diniz usou na novela "O Sheik de Agadir", da TV Globo. Rita conseguiu a peça emprestada, usou no Festival Internacional da Canção (1968) e estampou a capa do álbum "Os Mutantes" (1969) com o traje. Ela nunca devolveu a peça aos Estúdios Globo, mas esse seria apenas um dos “crimes fashion” que ela cometeria, literalmente falando.

Rita Lee usando a bota prateada em foto com a banda Tutti Fruti
Rita Lee usando a bota prateada em foto com a banda Tutti Fruti Crédito: Reprodução

Crime fashion

Termo usado na moda, “crime fashion” se refere ao uso errado, equivocado ou cafona, como queira designar, de peças de roupas. No caso de Rita, quando falamos de “crime fashion” é literalmente crime.

Em uma viagem para Londres, a cantora entrou em uma loja, experimentou uma bota prateada e pediu para que uma vendedora pegasse um número maior. Quando a funcionária entrou no estoque, Rita saiu da loja calçando as botas e sem pagar por elas. A peça se tornou um marco na sua era com a banda Tutti Frutti, já que era frequentemente utilizada por ela.

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Figurinos

Foi na turnê “Babilônia”, em 1978, que o estilo de Rita se tornou inconfundível. Com direito a diversas trocas de roupa, o show contou com a colaboração da estilista Barbara Hulanicki, polonesa que revolucionou a moda na Inglaterra ao lançar a marca Biba. Para cantar “Eu e Meu Gato”, a cantora usava adereços de pelúcias e se transformava em uma felina no palco. Ao apresentar “Miss Brasil 2000”, Rita ganhava capa, coroa e faixa característica de uma miss.

Nos anos 1980, o argentino Patricio Bisso passou a colaborar na criação de alguns figurinos da cantora. Ele é o responsável pela roupa de Mamãe Noel usada no programa TVLeezão (1990-1991, MTV) e fez parte do figurino do especial "Rita e Roberto" (1985, TV Globo).

Desde então, a artista usou o palco para se transformar no que quisesse: um palhaço, na tour 82/83; Nossa Senhora Aparecida, no Hollywood Rock (1995); uma rainha vampiresca, na turnê "A marca da Zorra" (1995); usou capa de cobra na apresentação de “Erva Venenosa” em diversos shows e até roupa de presidiária no primeiro show após sair da prisão. Rita foi detida aos 28 anos, quando estava grávida do primogênito, Beto, em 1976, durante a ditadura militar.

Rita e as estrelas

No final dos anos 1970, Rita ganhou de presente um body na cor bege, feito com material semelhante ao de meias arrastão. Inicialmente, ela usaria a peça numa sessão de fotos com Vania Toledo, mas ao vestir percebeu que ficaria muito exposta, já que a peça era transparente. Foi então que pediu para a estilista Barbara Hulanicki costurasse estrelas de lantejoulas prateadas para cobrir as partes mais reveladoras.

O traje se tornou um dos mais lembrados da artista e ainda hoje é reproduzido, principalmente no Carnaval. Apesar das estrelas cobrirem partes do corpo, Rita afirmou no livro “FavoRita” que não se sentiu tão bem ao vestir a peça. “Dá para ver minha cara de quem não estava totalmente confortável dentro daquela persona peladona”, declarou.

Lança perfume

Uma das músicas mais conhecidas de Rita é “Lança perfume” (1980). Para a capa do single, a cantora usou figurino criado pela estilista estadunidense Norma Kamali, que já vestiu Miley Cyrus e Jennifer Lopez. Muitos acreditam que a peça usada por Rita é um macacão, mas na verdade é um conjunto de blusa e calça. Quem se encantou pelo traje foi Elis Regina, usou o mesmo modelo na sua última turnê, “Trem Azul”. Trinta e oito anos depois do lançamento de “Lança perfume”, Rita revestiu o figurino e posou para fotos.

“Por que usar bichos mortos?”

Defensora dos animais, Rita Lee usava roupas para manifestar opinião contra o uso de peles, couro e produtos derivados de seres vivos. “Por que usar bichos mortos?”, era uma frase escrita em uma calça da cantora e que representava esse movimento. Uma camisa utilizada pela artista durante uma sessão de fotos tinha escrito: “seja gentil com os animais ou eu matarei você”.

Rita também era adepta ao animal print, tendência que imita a pele de animais em sua composição. Usou a estampa de onça em algumas ocasiões, uma delas foi a sessão de fotos do álbum "Flerte Fatal" (1987), parceria com Roberto de Carvalho, agora viúvo da cantora.

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