Discurso de Lula na ONU: recados a Trump e defesa da soberania

Discurso de Lula na ONU: recados a Trump, defesa da soberania e apelo por Gaza

Em discurso, presidente criticou tarifas contra produtos brasileiros, falou em sanções arbitrárias e defendeu a soberania nacional

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluiu críticas à política externa e tarifária adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu discurso durante a Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 23.

Lula deu recados ao líder norte-americano, citando “atentados à soberania, sanções arbitrárias” e a “agressão contra a independência” do Poder Judiciário brasileiro. Trump relatou ter encontrado Lula nos corredores da sede da ONU, em Nova York. “Concordamos em nos encontrar na próxima semana.

Veja como foi o discurso de Lula na ONU

Concessões à política do poder

Sem citar nominalmente o governo de Donald Trump, que falou em seguida ao presidente brasileiro, o presidente brasileiro criticou "sanções arbitrárias" e "intervenções unilaterais". 

“Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra”, afirmou.

Lula se refere a taxação em 50% de produtos brasileiros anunciada por Trump no início de julho, como uma resposta a uma suposta "caça às bruxas" que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sendo submetido na Justiça brasileira.

Ainda sobre o tarifaço, o líder brasileiro acrescentou que o país optou por “resistir e defender sua democracia”. Lula ainda afirmou que “não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra as nossas instituições e nossa economia”.

"Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governo ditatoriais", declarou Lula.

Democracia e soberania inegociáveis

Em seu discurso, o presidente brasileiro considerou que a condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) seria um "recado aos candidatos a autocratas do mundo e àqueles que os apoiam".

O presidente destacou: “Há poucos dias e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de direito, foi investigado, indiciado e julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas”.

Nesta segunda-feira, 22, o Departamento de Estado americano anunciou que a advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, também seria punida pela Lei Magnitsky, umas das punições mais severas contra estrangeiros considerados pelos EUA autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

Moraes, relator da ação penal contra Bolsonaro, já havia sido submetido à Magnitsky no fim de julho.

Arbitrariedade e imprensa

“Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa”, disse ainda o presidente.  

A imprensa norte-americana sofreu retaliações nas últimas semanas. O programa noturno de Jimmy Kimmel, "Jimmy Kimmel Live!", foi suspenso na semana passada após ameaças do governo dos Estados Unidos por comentários do humorista sobre as consequências do assassinato do ativista de direita Charlie Kirk.

As ameaças da Comissão Federal de Comunicações (FCC, que regula o setor nos Estados Unidos) e a saída do ar de "Jimmy Kimmel Live!", onde eram frequentes as críticas ao governo de Trump, foram condenadas por infringir a Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de expressão no país.

 

Genocídio em Gaza

Lula reservou uma parte de seu discurso para denunciar o conflito em Gaza. Segundo o presidente, “absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza”. Ele já tinha feito fala sobre o conflito no dia anterior quando participou da segunda sessão da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados.

“Nenhuma situação é mais emblemática do que o uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina. Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza”, afirmou.

Ele acrescenta: “Ali, sob toneladas de escombros estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o direito internacional humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente”.

O presidente ainda destacou a necessidade da comunidade internacional “rever suas prioridades, reduzir os gastos com guerras e aumentar a ajuda ao desenvolvimento”.

Em contrapartida, o presidente dos EUA afirmou que o reconhecimento de um Estado palestino seria uma recompensa para o Hamas. "Agora, como forma como se para encorajar conflito contínuo, alguns deste órgão querem reconhecer unilateralmente um Estado palestino. A recompensa seria muito grande para os terroristas do Hamas. Isso seria uma recompensa por suas horríveis atrocidades", declarou.

Nesta semana, países como Reino Unido, Canadá, Austrália, Portugal e França reconheceram o Estado da Palestina.

Guerra da Ucrânia

Lula defendeu maior participação dos países do sul global em questões internacionais, como a Guerra da Ucrânia. Sobre o conflito, o presidente defendeu: "Todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alaska despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista".

"Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias", afirmou.

Em contraste, o Trump, sugeriu que a Ucrânia poderia não apenas recuperar todo o território perdido para a Rússia, mas também avançar além das fronteiras originais. Declaração foi publicada na Truth Social nesta terça-feira, ao afirmar que Kiev teria condições de vencer o conflito contra os russos com apoio europeu. "A Ucrânia poderia recuperar seu país em sua forma original e, quem sabe, talvez até ir além disso!", escreveu.

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