Após suspensão de linhas de ônibus, Fortaleza quer recuperar demanda pré-pandemia

Reunião entre Prefeitura de Fortaleza e empresários do setor está prevista para essa quinta-feira, 2, para discussão de "equilíbrio econômico tarifário para 2026"

11:05 | Out. 01, 2025

Por: Sara Oliveira
PASSAGEIROS no primeiro dia de retorno das linhas suspensas (foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)

Após os usuários serem pegos de surpresa sem o funcionamento de 25 linhas de ônibus em Fortaleza na segunda-feira, 29, a Prefeitura afirma que a meta da gestão é recuperar a demanda pré-pandemia para o transporte público na Capital.

"Nossa intenção é recuperar a demanda de transporte coletivo que Fortaleza tinha antes da pandemia. É uma questão nacional", destacou o superintendente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), George Dantas, em entrevista à rádio O POVO CBN na manhã desta quarta-feira.

Uma reunião nessa quinta-feira, 2, entre Prefeitura e as empresas de ônibus deverá discutir "como será o equilíbrio econômico tarifário para 2026".

Ele evitou falar em aumento da passagem de ônibus. "É cedo dizer. Precisamos colocar alguns fatores e rever a demanda de passageiros. Fortaleza é uma das capitais com queda na demanda, e isso preocupa. Vai ser momento de rever dados, calibrar o sistema e ver como atende melhor a população". 

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George garantiu que o fortalezense não deverá ter mais "sustos" como o da última segunda-feira, 30, mas ponderou que pode continuar havendo diminuição da oferta. 

"Susto não vai acontecer. Mas a diminuição do serviço, vale pontuar, não é novidade. Já circulou com 1.700 veículos. O equilíbrio do serviço é ajustado à demanda. Hoje, são 1.200 (ônibus). Mas pegar a população desprevenida, como aconteceu segunda-feira, não deverá ocorrer", afirmou. 

Na segunda-feira, 29, em decisão unilateral, o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Fortaleza (Sindiônibus) suspendeu 25 linhas de ônibus e 29 tiveram redução de frota. Conforme o Sindicato, a medida era indispensável para manter a continuidade do sistema. 

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Na terça-feira, 30, sem dar detalhes, o prefeito Evandro Leitão anunciou que as linhas voltariam a circular.

Em nota, divulgada no fim da tarde de terça, o Sindiônibus afirmou que a nova decisão era "fruto de um esforço adicional envidado pelas empresas de transporte para que o diálogo seja retomado".

Demanda Pré-pandemia

A crise no sistema de transporte público de Fortaleza já vem mostrando seus efeitos. Em agosto, O POVO publicou matéria onde o Sindiônibus antecipou que o sistema poderia deixar de atender áreas deficitárias.

Desde a pandemia, o número de passageiros do transporte coletivo reduziu mais de 50%. Em 2024, O POVO realizou levantamento que revelou que o número de viagens também diminuiu, sendo que mais da metade das linhas tiveram redução - aumentando o tempo de espera.

Empresas alegam déficits acumulados e pedem solução urgente

Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus, também comentou à rádio O POVO CBN sobre o restabelecimento da circulação das linhas suspensas e reduzidas em Fortaleza, além da crise financeira enfrentada pelas empresas de transporte da Capital.

Ele explicou que, embora o serviço tenha sido normalizado por esforço interno das companhias, o diálogo com a Prefeitura ainda está em andamento. Entre os pontos discutidos estão a falta de recursos e os déficits anuais que ameaçam a viabilidade operacional do sistema, já que a maioria das linhas é deficitária e depende de subsídios.

“Das mais de 300 linhas, apenas 80 são superavitárias. Todas as outras são deficitárias e dependem desse superávit para se manter. Se fosse apenas uma operação comercial, só alguns bairros teriam ônibus, porque só eles se viabilizariam”, afirmou.

A Prefeitura de Fortaleza definiu até 31 de outubro o prazo para revisão contratual, enquanto busca soluções para evitar novos cortes. Segundo Dimas, a situação é crítica:

“Já várias empresas ficaram inviáveis operacionalmente, quebraram. As demais enfrentam muita dificuldade. Nenhuma pode ruir, porque se uma quebrar acaba puxando todas para dentro, já que estão muito frágeis dentro desse buraco negro.”

Mesmo diante das reclamações de estudantes que dependem da linha 020, que circula dentro do campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o presidente reforçou que ela exemplifica o cenário de inviabilidade:

“É uma linha totalmente deficitária, porque tem arrecadação zero. Atende justamente a comunidade universitária, mas não traz receita. Entre escolhas muito difíceis, ela acabou entrando na lista de cortes.”

Sindiônibus alerta para risco de colapso no transporte público de Fortaleza

Entre as possíveis soluções, Dimas destacou a ampliação de recursos destinados ao transporte público e a participação efetiva do governo federal. Ele alertou ainda para o risco de um colapso no sistema.

“É uma tragédia anunciada. Se não houver solução, pode haver paralisação total do serviço, o que seria muito mais difícil”, disse.

O dirigente reforçou a necessidade de cooperação entre diferentes esferas do poder público. “É um desafio para todos os níveis de governo. O governo federal precisa participar. O presidente Lula falou recentemente sobre o tema e pediu estudos. Só que precisamos suportar até que essa solução venha.”

Ainda assim, reconheceu falhas: “Tem linhas precisando de reforço. Vamos tentar atender, mas tudo depende de como será feito o encaixe com a Prefeitura. O desafio é sempre o mesmo: oferta, subsídio e tarifa. É cobertor curto — cobre a cabeça, descobre os pés”. (Colaboraram Victor Marvyo e Samuel Pimentel)