Passageiros contam como foram pegos de surpresa após suspensão de 25 linhas de ônibus em Fortaleza
Manhã foi de usuários sem saber como chegariam aos seus destinos após supressão das linhas; sindionibus diz que corte foi por necessidade financeira e etufor alega fuga ao contrato firmado
A suspensão de 25 linhas de ônibus em Fortaleza pegou boa parte dos passageiros desprevenidos. Ao todo, 9 mil passageiros que usavam os coletivos para ir e voltar de escola, trabalho ou outras atividades, precisaram encontrar uma nova maneira de chegar aos seus destinos, sem qualquer aviso oficial prévio.
O POVO esteve no terminal do Antônio Bezerra nesta manhã, onde por volta das 10 horas, ainda era possível encontrar passageiros que esperavam pelo ônibus que não chegaria. Entre eles estava Silvana Braga, 52, que utilizava a linha 081 - Conjunto Ceará/Antônio Bezerra II (uma das suprimidas), para ir trabalhar todos os dias.
“É o único ônibus que eu pego que dá acesso à minha casa. Só é o 081. E agora? Como eu faço para chegar em casa? Até agora eu estava esperando o ônibus”, conta a doméstica.
Até quem não depende exclusivamente de um único ônibus, como é o caso de Silvana, teme os prejuízos que o corte repentino das linhas pode gerar.
Marcos Paulo, 40, era usuário da linha 091 - Expresso/Antônio Bezerra/Parangaba, mais uma entre as suspensas. O autônomo agora precisará pegar a linha 072 - 072 Antônio Bezerra/Parangaba para buscar e deixar os filhos na escola, e já prevê uma superlotação dos coletivos.
“Já é difícil tendo as linhas funcionando normal, imagine com essa defasagem que eles fizeram hoje. O 072 é a única alternativa agora. Vai ser difícil a gente pegar ele aí de manhã, viu? Tumulto para entrar dentro do ônibus já é grande porque ele é lotado. Agora menos o 091 funcionando, aí pronto…”, afirma.
Funcionários dos terminais orientam passageiros após suspensão de 25 linhas de ônibus
Durante toda a manhã, funcionários dos terminais de ônibus prestaram esclarecimentos para os passageiros que ainda não sabiam da suspensão das linhas na Capital e ainda assim tentaram usá-las.
Para Eliane Silva, 67, a recomendação foi trocar o 200 - Antônio Bezerra/BRT/Centro pelo 086 - Bezerra De Menezes/Santos Dumont. A sugestão, entretanto, não agradou muito, já que ela não conhece o trajeto da nova linha e já se localizava facilmente andando no 200.
“Costumava pegar para levar minha mãe para o hospital da Libânia, fazer curativos. É difícil agora que tiraram. Disseram que eu posso pegar o 086, mas eu nunca fui nele não. Agora vou pegar um ônibus que não conheço para descer lá. E vim saber agora”, conta a dona de casa.
Entenda suspensão de 25 linhas de ônibus de Fortaleza
Desde o início desta segunda-feira, 25 linhas de ônibus foram suspensas, 29 tiveram frota reduzida, sete ganharam 20 novos veículos e duas passaram por ajustes em Fortaleza (confira abaixo).
De acordo com o presidente do Sindicato das Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Sindiônibus), Dimas Barreira, a medida foi necessária para equilibrar as finanças das empresas, que alegam não ter condições financeiras de manter as rotas.
“A gente vem acumulando déficits que têm chegado a patamares totalmente insuportáveis para as empresas e a gente precisa tomar uma medida mitigadora para que a gente consiga garantir o funcionamento do sistema como um todo”, afirmou, Dimas.
Ao todo, 46 veículos foram removidos da frota da Capital e nenhuma demissão realizada, segundo o Sindiônibus. O corte das linhas acontece em meio a negociação entre Prefeitura e Sindicato pelo reajuste do subsídio mensal, que perdura há meses.
Prefeitura de Fortaleza e Sindiônibus divergem sobre valor de subsídio
As partes inclusive divergem sobre o valor pago mensalmente pelo governo municipal, com o Sindiônibus alegando receber R$ 12 milhões por mês e a Prefeitura afirmando pagar R$ 14,5 milhões mensais.
Independente do valor, a negociação tem perdurado devido à indecisão sobre como mitigar esse déficit das empresas, com possibilidade de incremento do subsídio municipal ou aumento das passagens, conforme noticiado pelo O POVO.
Em entrevista à rádio O POVO CBN na manhã desta segunda-feira, o presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), George Dantas, se disse surpreso com a medida do Sindiônibus, já que a data base para reavaliação da tarifa de ônibus é apenas em novembro.
Dantas afirmou que as partes já haviam concordado em prosseguir com a negociação sem alterações nas linhas, e que poderá tentar reverter as suspensões alegando fuga ao contrato firmado.
“Nós vínhamos dialogando para que qualquer medida fosse tomada em novembro. Se a medida eventualmente fosse diminuir o serviço para encontrar o equilíbrio tarifário, a gente comunicaria para a população antes. Tendo em vista que essa medida foi tomada de forma unilateral, sem autorização do órgão gestor, nós vamos estudar, dentro das cláusulas contratuais, quais medidas vamos tomar junto às concessionárias”, pontuou o presidente da Etufor.