Suspensão das linhas de ônibus deixou pelo menos 167 paradas inativas em Fortaleza
Levantamento do O POVO mostra que, das 167 paradas de ônibus que ficaram sem linhas ativas, seis compartilhavam itinerários de mais de uma linha extinta
21:08 | Set. 30, 2025
Um levantamento exclusivo realizado pelo O POVO revela que pelo menos 167 paradas de ônibus ficaram inativas, em Fortaleza, após a suspensão de 25 linhas de transporte coletivo, anunciada na segunda-feira, 29. Desse total, seis paradas eram exclusivamente compartilhadas no itinerário de mais de uma linha extinta.
Ônibus voltam a circular normalmente nesta quarta-feira, 1° de outubro.
Os bairros que mais ficaram com paradas "órfãs" foram: Joaquim Távora (19), Mucuripe (16), Fátima (11), Passaré (11), Dionísio Torres (10), Bom Futuro (9), Engenheiro Luciano Cavalcante (8) e Pici (8).
Essas estruturas perderam o uso a partir do momento em que os ônibus que passavam por elas deixaram de circular, o que trouxe consequências para passageiros e comerciantes. Na rua Rufino de Alencar, no Centro, por exemplo, o vendedor de frutas Arleane Nascimento, 45, viu o fluxo de clientes diminuir.
Há mais de dez anos, o comerciante estaciona seu carrinho de frutas no entorno do Paço Municipal e da Catedral Metropolitana de Fortaleza, antes de seguir para as feiras da região.
A localização era estratégica: em frente à parada de ônibus. Dali desembarcava a maior parte de sua clientela, passageiros das linhas 14 (Aguanambi / Rodoviária II / Centro) e 903 (Papicu / Varjota / Centro), ambas suspensas.
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“Aqui a gente fazia umas vendas, porque ficava um povo ali (na parada). Depois dessa coisa dos ônibus, eu percebi que diminuiu. As pessoas que paravam aqui e vinham para as feiras daqui diminuíram muito. Depois dessas linhas cortadas eu não vi mais ninguém. Eu acho que prejudicou muito mesmo”, lamenta.
Próximo dali, na rua Vinte e Cinco de Março, é possível encontrar outra parada abandonada. O ponto, localizado em frente ao prédio da Secretaria Municipal de Relações Comunitárias, fica em frente à bodega comandada por Dimas Antônio Nascimento, de 68 anos.
Morador da região há mais de 40 anos, o bodegueiro conta que uma única linha circulava pelo local: a 14 (Aguanambi / Rodoviária II / Centro). A exclusividade do coletivo na região fez com que o vendedor chegasse a conhecer as duas motoristas responsáveis por fazer a rota.
“Quando passa, é só uma ou duas vezes por dia. Eu abro aqui às 6 horas da manhã e fecho às 15 horas. Quando o pessoal está ali (na parada), eu digo ‘sente aqui, almoce, e espere o ônibus passar’. Quando passa, porque passava quando eles queriam, a hora em que eles queriam. Então, não faz diferença nenhuma, só faz prejudicar as pessoas”, desabafa.
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Na rua Francisco Lorda, no bairro Vila União, a suspensão da linha 513 (Parangaba / Uece / Luciano Carneiro) atrasou os planos da aposentada Francisca Passos de Moraes, de 79 anos.
Durante uma hora, ela aguardou a passagem do ônibus, sem sucesso. Foi quando resolveu mudar de parada e de ônibus, indo para o ponto localizado próximo ao Hospital Albert Sabin.
“Pela manhã eu peguei foi o 44 (Parangaba / Montese / Papicu), que desce lá na (avenida) Borges de Melo. Aí eu vim andando para cá. Mas eu não consegui nada, porque fiquei ali quase uma hora esperando e nada desse ônibus passar”, lastima.
Veja o mapa com as paradas que ficaram inativas por 48h:
Linhas vão voltar a circular nesta quarta-feira, 1°
Após dois dias de suspensão, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) voltou atrás e vai retomar operação que havia sido reduzida. De acordo com órgão, as 25 linhas que foram suspensas vão voltar a circular normalmente nesta quarta-feira, 1°.
Os coletivos que haviam sido reduzidos em 29 trajetos também voltam ao quantitativo normal.
Em nota encaminhada ao O POVO, órgão destaca que "a decisão é fruto de um esforço adicional envidado pelas empresas de transporte para que o diálogo seja retomado, mesmo diante das dificuldades financeiras que impactam o setor, especialmente no cumprimento dos compromissos salariais com colaboradores".
Entidade reforçou ainda em documento a "urgência em ampliar o diálogo sobre o transporte coletivo, de forma a construir soluções conjuntas que garantam a continuidade e a qualidade da mobilidade urbana".
Sindiônibus também destacou que a decisão de reduzir linhas foi adotada em caráter emergencial, integrando "um conjunto de ações voltadas a viabilizar a manutenção do serviço em meio ao atual cenário de desequilíbrio financeiro", completando que "o estudo que embasou a decisão considerou fatores como dimensionamento da frota, análise de rotas e demanda de passageiros". (Colaborou Gabriela Almeida)