Mutirão de exames e cirurgias em Fortaleza dá esperança a usuários do SUS
Para quem aguardava por procedimentos, foi um momento marcante. Iniciativa integra ação nacional organizada pela Ebserh
08:00 | Set. 14, 2025
Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) foram contemplados com cerca de 1.200 atendimentos realizados neste sábado, 13, no Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza.
Mutirão integra ação nacional organizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), juntamente com os ministérios da Educação e da Saúde. O serviço de atenção à saúde foi promovido em todos os hospitais universitários do País gerenciados pela Ebserh.
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Para quem aguardava por exames, cirurgias e outros procedimentos, foi um momento simbólico. A fortalezense Bárbara Marques acompanhava a mãe, Ivanilda, que precisava passar pelo exame de espirometria, que avalia a função pulmonar, e esperava ser chamada desde junho de 2024.
“Ela teve alguns episódios de falta de ar e começou a ser investigado”, relatou a filha. “Agora a gente conseguiu fazer esse exame. Vamos saber se ela está com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) ou se o problema dela é cardíaco. Esse exame é muito importante para identificar isso”.
A espera pelo exame impactou “muito” a vida de Bárbara e da mãe dela, contou: “A gente não sabe o que ela tem de verdade e não pode fazer um tratamento adequado sem saber o que é. Aí, ficamos no ‘se sente isso, toma isso’”.
Mãe solo, Bárbara relatou que a saúde da mãe importa também porque precisa trabalhar e seu filho fica sob os cuidados da avó. “É uma grande vitória, né? Me sinto vitoriosa por isso. É um alívio, demais”, disse ela sobre o exame.
“Não só para mim, mas para todo mundo. Tenho nem palavras para dizer o que isso significa, porque a gente sabe a importância do SUS e que muitas pessoas precisam, mas tem a dificuldade da fila de espera. A demanda é maior do que eles conseguem. Mas, podendo adiantar essa fila, é uma grande conquista”.
Para Edilane Sousa, de 37 anos, passar pelo exame de espirometria — que em seu caso servirá no pré-operatório para realização de cirurgia bariátrica — por meio do mutirão representa “oportunidade”.
Ela aguardava pelos procedimentos desde dezembro último. “Aproveitei que ia ter esse mutirão, aí calhou, porque eu tava com problemas no fígado”, contou Edilane. “O médico pediu para saber se era fígado, porque fígado não dói. E eu tava com dor. Aí ele pediu para fazer o exame logo”.
Na percepção da moradora do Passaré, o mais significativo de ter resolvido essa demanda de saúde é “saber como eu estou”. Apesar da demora, ela enfatizou que “todo o atendimento [do SUS] é bom. Só demora, né? Tem que ter paciência, porque demora tempos”.
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Foco na redução da fila de espera
A redução no tempo de espera por procedimentos é o objetivo da Ebserh, assim como da rede de saúde pública, contou Fábio Landim, chefe do Serviço de Contratualização Hospitalar da empresa.
Segundo ele, o período da pandemia de Covid-19, em que diversos atendimentos foram restringidos, “agravou o problema de procedimentos eletivos, cirurgias, consultas e exames, e fez com que as filas de acesso a esses procedimentos se tornassem muito maiores do que já eram”.
“Ou seja, represou essa demanda”, acrescentou o gestor. “Então, é um esforço concentrado que, por intermédio desses mutirões, tem ajudado a reduzir as filas e até anular”. Os mutirões ocorrem desde 2024.
Neste sábado, quase 30.000 atendimentos são realizados no Brasil, segundo Fábio. Cerca de 3.000 funcionários, residentes e estudantes estão mobilizados para atuar.
“É um trabalho continuado e isso deve seguir por todo esse ano e no próximo ano. O objetivo final com tudo isso é diminuir o tempo de espera dos pacientes que estão em acompanhamento no sistema de saúde”, disse Fábio.
“A gente tem uma população brasileira que, em sua grande maioria, depende do sistema de saúde público. Então, isso significa, na prática, possibilitar melhoria na qualidade de vida”.
Fábio relatou que a realização do mutirão traz “um sentimento de muita gratidão, orgulho, satisfação e alegria, porque a gente tem a certeza de que essa ação permite transformar diretamente a vida de pessoas que só têm no sistema público de saúde a sua única possibilidade de tratamento”.
Gerente de atenção à saúde do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Magda Almeida destacou a utilização das instalações da unidade de saúde e da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) no fim de semana.
“Normalmente a gente subutiliza uma capacidade do hospital. O ambulatório e as ilhas geralmente são fechadas, então fazer isso no fim de semana é importante porque a gente consegue aumentar a capacidade de resolver as coisas, de resolver essa vida e o tempo de espera das pessoas”, pontuou.
A médica e professora sublinhou a melhora no andamento das filas de espera: “A gente tem ideia que a lista de espera é muito longe. A gente conversou com pessoas, por exemplo, que entraram há um mês na fila, há uma semana, e já foram chamadas hoje, porque são filas que estão rodando mais rápido”.
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Ceará terá outro mutirão na próxima semana
Secretária da Saúde do Ceará, Tânia Coelho compareceu ao Complexo da UFC para “apoiar”, vista a importância do momento. “Quando você faz um mutirão, você consegue alcançar um grande número da população ao mesmo tempo, e dar uma vazão na fila de espera”, analisou.
Na visão da titular, o fato do mutirão ocorrer num sábado também “atrai mais pessoas”, porque “no dia a dia, tem um absenteísmo, as pessoas faltam, né? E quando você mobiliza de forma muito enfática, você atrai mais”.
A gestora divulgou ainda que o Estado realizará outro mutirão de procedimentos no próximo sábado, 20 de setembro. “Vamos mobilizar o estado todo. É esforço conjunto do governo federal e do governo estadual”. Mais de 2000 cirurgias são esperadas no próximo mutirão, segundo Tânia.
“Fizemos contratos, credenciamento com prestadores filantrópicos, fora da rede municipal, para que a gente possa dar uma aceleração. Para que a gente possa fazer muita coisa e chamar a atenção da população, dizer que realmente a gente está fazendo esforço para operar, para reduzir o tempo de espera”.