Em remissão de câncer grave, menino é recebido com festa em escola
Vini foi diagnosticado com leucemia linfocítica aguda em junho de 2021 e ficou distante do colégio desde então; colegas e funcionários da escola prepararam recepção na volta do garoto às aulas
Blusas padronizadas, cartazes, aplausos e choros de alegria. Foi assim que o menino Vinicius Barbosa, de 8 anos, retornou ao colégio onde estuda em Fortaleza, meses depois de ter se ausentado para realizar o tratamento de uma Leucemia Linfocítica Aguda (LLA), descoberta em junho do ano passado.
O momento ocorreu no dia 17 de março e foi compartilhado nas redes sociais e emocionou pela alegria dos envolvidos e a representatividade de dias melhores para Vini. O retorno acontece oito meses após a descoberta do câncer, e a doença está em remissão.
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Vinicius havia acabado de ganhar um skate de seus pais. Muito ativo, inquieto e com grande aptidão para novas descobertas, o garoto, com 7 anos à época, começou a apresentar manchas pelo corpo. Inicialmente, o pai, Charlys Barbosa, 46, atribuiu o aparecimento a possíveis machucados por conta do novo brinquedo do filho, mas a mãe, Rachel Barbosa, 43, considerou a possibilidade de ser algo mais sério, uma leucemia.
Charlys é geriatra e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), já Rachel é enfermeira e também leciona na instituição. Por atuarem na área da saúde, resolveram realizar exames para tirar a prova do que estava acontecendo com o caçula.
No dia 21 de junho do ano passado, o garoto foi diagnosticado com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) e internado às pressas. No dia seguinte, deu entrada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), e um dia depois estava fazendo hemodiálise, procedimento em que uma máquina faz a filtragem do sangue quando os rins não funcionam corretamente.
"A gente ficou completamente sem chão. Foi um momento muito difícil para vida da gente. Foi como se o chão caísse e o céu desabasse", afirmou Charlys em entrevista exclusiva ao O POVO. A velocidade com que tudo aconteceu se deu pelo estado de saúde de Vini. Ele apresentava 610 mil leucócitos, enquanto níveis considerados normais variam de quatro mil a dez mil. Acima de 100 mil, o paciente passa apresentar risco de morte.
Conhecidos como glóbulos brancos, eles são responsáveis pelos mecanismos de defesa do corpo. Em níveis elevados, o sangue fica mais grosso, atrapalhando a circulação pelo corpo. "Imagina uma avenida que foi preparada para andar 11 mil carros e, de repente, tem 600 mil carros", explicou o médico e pai do menino.
Não havia, no momento da descoberta, nenhuma possibilidade de Vini começar a fazer quimioterapia, devido à saúde debilitada. Então, o tratamento inicial foi feito com soro e corticóides. Desta forma, os leucócitos do menino foram reduzidos para três mil e a doença não se manifestou mais. "É como se ele tivesse sido curado”, ponderou Charlys.
A LLA, entretanto, pode apresentar instabilidade, e um paciente só pode ser clinicamente considerado curado após dois anos e meio de tratamento, sendo observado pelo período. Por conta disso, o tratamento de Vini foi continuado, com boa parte dele feito no Instituto de Tratamento de Câncer Infantil (Itaci), hospital ligado à Universidade de São Paulo (USP). Havia possibilidade de transplante de medula óssea, mas a melhora da criança afastou a chance de adoção do procedimento mais invasivo.
Do dia 21 de junho - data da primeira internação - até o começo deste ano, Vinícius precisou ser internado mais duas vezes, uma em dezembro e outra no dia 15 de janeiro. "É uma montanha. Todo dia temos um desafio novo. Vão surgindo novos obstáculos, e a gente vai superando e subindo ainda mais a montanha."
O maior medo dos pais era de que ele perdesse a vontade de viver. Tal problemática passou longe de ser concretizada. Conforme o casal relatou à reportagem, Vini sempre olhou para o processo pelo lado positivo, atitude que motivou e contagiou a todos a prosseguir.
"Ele ama viver, e o amor curou ele. O amor de tantas pessoas", comemorou Charlys. Clinicamente o status de Vini é de "em remissão". A doença não se manifesta desde o dia 25 de junho do ano passado e, atualmente, ele faz quimioterapia. Mas para o menino, a cura já veio.
"Ele disse: 'Mãe, eu já estou curado. Estou tomando esses remédios aqui só por tomar mesmo, mas eu já estou curado'", comentou a mãe, Rachel.
Festa na escola
Desde que o tratamento de Vini começou, um grupo foi criado num aplicativo de mensagens para que as informações sobre o processo fossem repassadas para amigos, colegas e familiares. Fotos e vídeos eram enviados cotidianamente para manter todos informados e matarem um pouco da saudade do menino durante o procedimento.
Quando voltou a Fortaleza, Vini foi recepcionado com festa no aeroporto e na escola onde estuda, na Capital. O momento foi registrado e compartilhado nas redes sociais, viralizando logo em seguida. "Ele ficou se achando. Disse que estava famoso e todos conheciam ele, mas também lembrou que a fama ia acabar em breve", brincou Rachel.
Cartazes, aplausos, camisa comemorativa padronizada e o nome de Vini entoado por todos os alunos e funcionários do local fizeram parte da homenagem. Por onde passou, o menino foi festejado. Entre os colegas, a expectativa para seu retorno era grande.
"O retorno do Vini à escola era aguardado com grande expectativa por todos, alunos, familiares, professores e equipe. A acolhida foi o momento de demonstrar a alegria e a fé pela recuperação do Vini, formando uma grande corrente de amor", disse a diretora de ensino da instituição, Regina Gadelha, ao O POVO.
Apesar de longe da sala de aula, Vini continuou estudando de forma remota e realizou todas as avaliações escolares que lhe foram submetidas. Os resultados não surpreenderam, pois o menino tinha como costume obter boas notas.