Referências: as personalidades notáveis de Paracuru
Conheça nomes que ajudaram a moldar a identidade cultural de Paracuru em áreas que vão da comunicação ao esporte
A história de um município é construída por sua gente. Em sua maioria anônima, silenciosa, trabalhadora. São 38.691 habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, entre tantos, sempre há aqueles que se destacam em áreas como a cultura popular, a dança, a música, as artes plásticas, o esporte, o humor e a comunicação.
Ciente de que é impossível reunir todos os nomes que contribuíram para a riqueza cultural e social de Paracuru, O POVO apresenta, com base em indicações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do município, uma seleção simbólica que representa a diversidade vibrante e plural que marca a identidade paracuruense.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
A seguir, conheça algumas das figuras que delineiam e seguem marcando a história de Paracuru, tornando-se referências culturais, sociais e artísticas. Gente que, em suas contribuições, orgulha o município, ao passo em que também traduz um pouco da essência de ser cearense.
Cultura popular: Mestra Mariinha da Ló
Dona Maria do Carmo, conhecida como Mestra Mariinha da Ló, é símbolo vivo da cultura popular de Paracuru. Nascida em Trairi, carrega nas veias a tradição de sua família, profundamente ligada às manifestações natalinas, trazendo a Paracuru o seu conhecimento, que ao longo dos anos foi repassado a muitas gerações. Desde 1979, lidera o Pastoril de Paracuru, grupo que celebra o ciclo natalino com danças, cantos e espiritualidade, mantendo viva uma das tradições mais marcantes do município.
O grupo surgiu com o engajamento da Mestra Mariinha da Ló nos movimentos religiosos e desde então se consolidou como referência cultural no Ceará, com registro oficial na Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). As apresentações, que começaram em pátios de escolas e quintais, ganharam os palcos da cidade e do Estado, com o apoio de voluntários e da comunidade local.
Reconhecida como Mestre da Cultura Tradicional Popular do Ceará em 2008, tornando-se um dos tesouros vivos do Ceará, Mariinha também foi diplomada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) com o título de “Notório Saber em Cultura Popular”. Em 2016, foi homenageada no tradicional Ceará Natal de Luz, na Praça do Ferreira, em Fortaleza, onde teve seu legado celebrado publicamente.
Literatura: Antônio Sales
A antiga Vila do Parazinho, berço da cidade de Paracuru, é também a terra natal de Antônio Sales, nascido em 13 de junho de 1868. Ele se tornaria um dos mais proeminentes escritores, poetas e romancistas, deixando uma marca indelével nas letras cearenses.
Iniciou a vida profissional cedo em Fortaleza, passando por comércio, funcionalismo público, política e jornalismo, inclusive no Rio de Janeiro. No Ceará, exerceu cargos como secretário da justiça e do interior, e deputado estadual.
Sua maior contribuição, entretanto, está nas letras. Antônio Sales é lembrado como o principal fundador da Padaria Espiritual, movimento de renascença literária criado em 1892 nos cafés da Praça do Ferreira. A agremiação, ativa entre 1892 e 1898, usava ironia e irreverência para criticar a "provincianidade" fortalezense e revitalizar a cultura. Sales foi redator do jornal "O Pão", “padeiro-mor” da Padaria, e escreveu seu programa de instalação. Ele adotava o pseudônimo de “Moacir Jurema”.
Entre suas obras, destaca-se o romance "Aves de Arribação", publicado em folhetins em 1903 e em livro em 1913. Amigo de Machado de Assis, colaborou na fundação da Academia Brasileira de Letras, embora tenha recusado um assento alegando não discursar bem. É o patrono da Academia Cearense de Letras, da qual foi segundo presidente (1930-1937), e foi designado por Rachel de Queiroz como a "figura suprema das letras na nossa província".
Retornou a Fortaleza em 1920, onde residiu até seu falecimento em 14 de novembro de 1940. Sua memória é honrada em Fortaleza e em Paracuru com avenidas que levam seu nome.
Dança: Flávio Sampaio
Bailarino, professor e pesquisador da dança clássica, Flávio Sampaio tem uma trajetória que une palcos internacionais e raízes fincadas em Paracuru, sua terra natal. “Nasci aqui, minha família mora em Paracuru há mais de cento e cinquenta anos”, conta. Com passagem marcante pelo Theatro Municipal do Rio e autor de três livros sobre técnica do balé, fundou a Escola de Dança de Paracuru em 2003, após retornar ao município com o desejo de ensinar às crianças.
A escola se tornou referência nacional, com metodologia própria e mais de 3.500 alunos formados. “Paracuru é a cidade que, proporcionalmente, mais dança no Brasil”, afirma. A dança transforma vidas porque “dá a eles consciência cidadã, protagonismo e disciplina para serem o que quiserem”, afirma.
Reconhecido como Mestre das Artes pela Funarte, recebeu ainda o Prêmio Notável da Dança e o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Seu maior sonho? “Consolidar a ideia de que a Escola de Dança de Paracuru é um bem público a serviço das crianças e adolescentes da cidade”, declara.
Música: Maestro Madiel
Natural de Belo Jardim (PE), Maestro Madiel chegou a Paracuru em 2001 a convite do então prefeito José Ribeiro para criar a banda de música do município. Desde então, tornou-se figura importante na formação musical e cidadã de centenas de jovens. “Desde 2001 que estou aqui fazendo esse trabalho, que é um trabalho prazeroso e muito bom para a cidade e para os jovens de Paracuru”, relata.
Com início na música ainda na infância, ingressou aos 18 anos na Polícia Militar do Ceará como músico, onde atuou por 30 anos, sendo 21 como instrumentista e 9 como maestro. Foi regente da Banda de Música da PM e acumulou homenagens, como o título de cidadão paracuruense.
À frente da Banda de Música Mestre Pixuna (@mestre_pixuna), desenvolve um projeto social que vai além da arte. “A banda de música tem um papel muito importante além da sua formação artística: tem a formação cultural e a formação cidadã”, reflete. O projeto já revelou talentos que despontaram no Brasil e no exterior, com atuações na França e Suíça e com formação em instituições como a Universidade Estadual do Ceará (Uece), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Conservatório de Tatuí.
Maestro Madiel se realiza ao ver o sucesso de seus alunos. “O meu maior sonho é ver um aluno meu sentado na cadeira onde eu sentei, ou seja, nas fileiras militares”, complementa, enfatizando o impacto da música na juventude: “tira da ociosidade, desperta para a busca por qualidade”.
As apresentações também marcam sua trajetória. “O que me apaixona hoje são as apresentações que a banda de música faz”, como os tradicionais carnavais e os festejos juninos, que mantêm viva a identidade cultural de Paracuru.
Artes: Lindomar Alcântara
A história de Lindomar Gomes de Alcântara com Paracuru começou em 1977, numa romaria em homenagem à padroeira Nossa Senhora dos Remédios. Natural do distrito de Siupé, em São Gonçalo do Amarante, ele fixou residência no município em 1980 para concluir os estudos e, desde então, tornou-se uma das figuras mais atuantes na cena cultural e ambiental local.
Professor de biologia, educador ambiental, fotógrafo e articulador de movimentos sociais, Lindomar carrega consigo uma convicção: "Eu sou porque nós somos." Sua atuação é marcada por projetos construídos coletivamente, que integram cultura, arte, educação e meio ambiente. Nos anos 1990, ajudou a fundar o movimento cultural Encontrarte e o grupo VIP – Voluntários da Iniciativa Popular, além de incentivar expressões artísticas como murais educativos, saraus, exposições e eventos de rua.
Em 2006, criou a ONG Equação, referência em educação ambiental no município. Um dos projetos mais notáveis da entidade é o Pescando Informação, que há 19 anos valoriza o saber ancestral de pescadores e marisqueiras da Barra do Rio Curu, com ações voltadas ao meio ambiente, cultura e identidade local.
Lindomar também liderou a criação do Centro de Arte e Cultura Lúcio Damasceno, o qual gerencia, instalado onde funcionava uma antiga cadeia pública. “Transformamos um espaço de dor num lugar de sonhos e poesia”, resume. A partir dali, consolidou eventos como a exposição O Mar, Mulheres e Homens, o projeto Surfecologia, e a mostra Paracuru 155 Anos, que resgatou “a verdadeira data de fundação do município” e incluiu registros históricos raros, como fotografias do eclipse solar de 1893 feitas por Benjamin Stone. Além disso, idealizou a Sala Literária, dedicada aos escritores de Paracuru, com destaque ao poeta Antônio Sales.
Lotado na Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Lindomar é também produtor de documentários, como o projeto Mestres do Mar, que retrata a pesca artesanal e seus protagonistas. “Sou um sonhador que transforma ideias em ação. Tudo o que fiz até hoje em Paracuru foi com muitas mãos. E deu certo, porque foi feito com o povo”, resume.
Esportes: Bruno Sales
Bruno Salles conheceu o sandboard ainda criança, aos 11 anos, e dali nasceu uma paixão que se transformaria em carreira profissional. “No ano de 2006 eu já iniciei a minha carreira profissional no esporte”, lembra. Natural de Paracuru, o atleta foi moldado pelas dunas da cidade e, ao longo dos anos, se destacou em competições nacionais e internacionais.
Sua maior conquista veio em 2014, quando se consagrou campeão mundial de sandboard, título que o levou ao mais alto patamar da modalidade. No ano seguinte, decidiu se aventurar no snowboard, “o primo distante do sandboard”, como define. Representou o Brasil em campeonatos no Chile, Itália e até participou de um comercial nos Emirados Árabes Unidos. “Passei oito dias gravando. Foi uma experiência sensacional”, relembra.
Com a pausa dos campeonatos durante a pandemia, Bruno mergulhou no turismo local. Desde 2018, atua como bugueiro e empresário do setor, oferecendo experiências em Paracuru com jardineira e passeios voltados ao kitesurf. De atleta de elite a empresário apaixonado pela cidade, Bruno segue representando o município, seja nas areias, na neve ou nas trilhas turísticas do litoral cearense.
Comunicação: Hélder Lopes Gurgel
Fortalezense de nascimento, mas paracuruense de coração, Hélder Gurgel chegou à cidade em 1985 como veranista e nunca mais se afastou. Professor universitário e cirurgião-dentista, atuou por décadas na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e na Polícia Militar do Ceará, onde chegou ao posto de coronel. Desde o primeiro momento e, principalmente, depois que fixou residência definitiva ali há 15 anos, tem contribuído com movimentos sociais, conselhos, associações e ações culturais.
Sua trajetória na comunicação começou ainda nos anos 1980, quando integrou a primeira emissora local. Em 1999, fundou a Rádio Mar Azul FM, projeto comunitário que se tornou um fundamento para a cidade. “A Rádio Mar Azul sempre foi um verdadeiro elo entre a comunidade e o poder público”, afirma. À frente da emissora, apresenta programas, promove debates públicos e abre espaço para todas as vozes, das crianças aos artistas, das mulheres às lideranças políticas, religiosas e comunitárias.
“Acredito no poder da coletividade e da ação social como motores de transformação”, opina. Com mais de duas décadas de atuação, Hélder destaca momentos importantes da emissora como as coberturas dos festejos, campanhas como o Natal Sem Fome e os debates eleitorais. “O mais marcante, sem dúvida, é saber que a rádio contribui diariamente para a vida das pessoas”, frisa.
Reconhecido com homenagens da Câmara Municipal e de entidades locais, recebeu também o prêmio Honra ao Mérito no Primeiro Prêmio de Jornalismo Ambiental. Mas o maior retorno “é o carinho e a confiança da população”, reforça.
Hoje, Hélder sonha com uma comunicação ainda mais forte e democrática. “Desejo que a Mar Azul continue crescendo, formando novos comunicadores e contribuindo para que Paracuru seja um exemplo de participação cidadã, cultura e desenvolvimento humano”, encerra.
Humor: Katita
Josias Marques da Costa Filho, ou simplesmente Katita Resenha, tem 38 anos e é figura conhecida em Paracuru. Embora nascido em Fortaleza, vive no município desde os dois anos de idade. Mecânico de motos por décadas, Katita começou sua trajetória pública como Bombeiro Civil Voluntário, prestando serviços à comunidade.
O humor, no entanto, sempre esteve presente. “Sempre me identifiquei com vídeos e resenhas”, diz. Em 2024, durante sua candidatura a vereador, criou o personagem “Babão do Prefeito”, que logo ganhou repercussão nas redes sociais (no Instagram, @katita_resenha_ofc). Desde então, não parou mais. “No momento, eu continuo fazendo vídeos de publicidades para lojas e (performo o) ‘atual babão da Prefeita Gabi’”, afirma, com a irreverência que o consagrou.
O humor de Katita também tem lado crítico. “Minha satisfação era fazer vídeos cobrando o município em determinadas situações e, depois, as vendo serem realizadas, ver a população se identificando com isso”, afirma. “Sigo fazendo o que gosto, levando humor de forma espontânea e criativa pro povo da minha cidade que tanto amo.”
O que é o Destino Ceará?
O projeto “Destino Ceará: Descobrindo as Belezas do Estado” é realizado pelo O POVO e celebra o Ceará como um dos principais destinos turísticos do Pais. Com conteúdos veiculados no portal online, no jornal impresso, na rádio e nas redes sociais, o projeto leva ao público a história das cidades, o cotidiano das comunidades e os personagens reais que dão vida a cada lugar.
Nesta segunda edição, O POVO te convida a explorar as belezas e a cultura de quatro localidades cearenses encantadoras: Paracuru, Serra de Ibiapaba, Icapuí e Quixadá. Vamos embarcar nessa viagem?
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