Dia do Saci: entenda a origem e semelhanças com o Halloween
Em 31 de outubro, comemoram-se duas datas curiosamente opostas e complementares: o Dia das Bruxas (Halloween) e o Dia do Saci. Afinal, o que essas tradições têm em comum?
Desde 2003, com a Lei n.º 2.762, o Dia do Saci passou a ser celebrado no Brasil na mesma data em que o mundo festeja o Halloween.
Enquanto em diversos países as ruas se enchem de fantasias assustadoras, abóboras iluminadas e a brincadeira “doces ou travessuras?”, por aqui o destaque é o menino travesso de uma perna só, símbolo do folclore nacional.
“Podemos perfeitamente adicionar o Saci à festa de Halloween e vice-versa”, comenta o professor de história e filosofia Caliel Braga. “A gente entende o que vem de fora, mas também faz do nosso jeitinho. É uma convivência que gera lucro e identidade para os dois lados.”
Mas afinal, o que essas duas tradições têm em comum? Entenda a seguir:
Por que o Dia do Saci é celebrado em 31 de outubro?
O Saci-Pererê é uma figura do folclore brasileiro, presente também em países sul-americanos como Uruguai, Paraguai e Argentina.
No Brasil, o personagem leva o nome de Saci, de origem indígena guarani. É retratado como um menino negro, de uma perna só, usando gorro e roupas vermelhas, e fumando um cachimbo.
Segundo Caliel Braga, a criação da data “faz muito sentido com o olhar internacional”. O professor explica que, no século XX, o Brasil vivia um momento de intenso consumo de produtos culturais norte-americanos, como filmes e festas típicas.
Ao mesmo tempo, era uma geração que valorizava as obras nacionais, principalmente as de Monteiro Lobato, que popularizou o Saci no imaginário infantil.
A Sociedade dos Amigos do Saci (Sosaci), grupo paulista dedicado à pesquisa do personagem, foi quem mobilizou a criação da lei. A ideia era valorizar as raízes culturais brasileiras, promovendo um contraponto simbólico ao Halloween e reforçando a identidade nacional.
Saci, símbolo da cultura brasileira
De acordo com Caliel, o Saci é um reflexo direto da formação miscigenada do povo brasileiro, unindo elementos indígenas, africanos e europeus.
Sua origem remonta ao século XVIII, entre as tribos tupi-guarani do Sul e Sudeste do Brasil. No início, alguns cientistas da história, segundo Caliel, falavam que o Saci estava associado a um curumim travesso, ou seja, uma criança indígena.
Com a chegada dos africanos escravizados e dos europeus colonizadores, houve uma fusão de tradições. “De forma violenta, alguns símbolos acabam se transformando pelo contato desses três grupos e o curumim indígena [foi transformado] em um menino negro”, apontou o professor.
A característica de ter uma perna só está ligada a diferentes lendas, como a de que o Saci perdeu a perna durante uma luta de capoeira ou em uma fuga de escravizados. Ja´o cachimbo era um hábito comum entre os africanos.
“Tudo o que vem de fora ganha um novo significado em um país tão misturado como o nosso” comenta Caliel. O Saci é resultado desse encontro de culturas.
Halloween e Saci: travessuras que se encontram
Tanto o Halloween quanto o Dia do Saci têm algo em comum: influências europeias e o espírito brincalhão.
O característico gorro vermelho do Saci foi herdado do folclore europeu, no qual criaturas travessas e até bruxas usavam o acessório.
“No Halloween, há a ideia das travessuras e dos truques, e o Saci é justamente o mestre das travessuras”, adiciona o professor.
No fim das contas, ambas as celebrações compartilham o espírito de brincadeira, mistério e imaginação. E, para Caliel, o Saci é a melhor representação brasileira dessa energia.