5 histórias de arrepiar no folclore do Nordeste brasileiro
Com a chegada do Dia das Bruxas, celebrado em 31 de outubro, lendas e histórias de terror voltam a ser populares em rodas de conversa. Conheça algumas do Nordeste
O Dia das Bruxas, celebrado no dia 31 de outubro, é uma tradição norte-americana popularizada no Brasil nos últimos anos. Sendo um país com um folclore tão rico, diversas regiões possuem suas próprias lendas e mitos, transmitidos muitas vezes de forma oral em rodas de conversa.
Essas histórias de arrepiar carregam em seu cerne características locais de cada cultura, podendo se modificar de região para região justamente por não terem um cânone fixo.
Famosas por serem contadas normalmente por pessoas mais velhas, as lendas constituem o folclore local e são importantes ferramentas culturais.
A seguir, conheça cinco histórias do folclore do Nordeste que vão desde criaturas assustadoras até contos de advertência:
Quibungo
Originário da Bahia, o Quibungo é uma variação da Cuca e do Homem do Saco, sendo uma lenda contada para disciplinar as crianças pelo medo e conseguir fazê-las dormir cedo.
Sua origem é incerta, mas acredita-se que o mito do Quibungo chegou ao Brasil por meio de escravos bantus, cuja tradição oral espalhou a história entre Bahia, Sergipe e Pernambuco.
Descrito como uma figura que é, ao mesmo tempo, homem e animal, o Quibungo é uma espécie de lobo ou velho negro maltrapilho e faminto, dependendo da versão. Ele arrasta-se pelo mundo como um devorador de crianças distantes dos pais, engolindo-as com uma boca gigantesca localizada nas costas.
Apesar da feiura e da brutalidade, a lenda diz que o Quibungo pode ser morto por qualquer arma branca ou de fogo. Quando atingido, morre gritando apavorado como a “mais inocente das criaturas”.
Cabra Cabriola
Categorizada como um monstro de Recife, a Cabra Cabriola também pertence ao conjunto de lendas de criaturas “papões”, ou seja, devoradoras de crianças. Sua história foi primeiro registrada no livro Folclore Pernambucano, escrito por Pereira da Costa em 1908.
Nele, ela é descrita como uma cabra de tamanho gigantesco, com presas compridas e uma feição assustadora. A cabra se movimenta com saltos, daí o nome “Cabra Cabriola”, do verbo “cabriolar”, e solta fogos pelos olhos.
Diz a lenda que uma mulher com três filhos de tenra idade saiu à noite para conseguir dinheiro e pediu às crianças que não abrissem a porta para ninguém além dela. Eles deveriam reconhecê-la pela voz e só então abrir a porta, para evitar desconhecidos com más intenções.
A cabra chegou àquela casa e pediu que a deixassem entrar, se passando pela mãe. Porém, com sua voz forte e grossa, foi reconhecida como um monstro e as crianças não abriram a porta.
Na noite seguinte, a mãe das crianças saiu novamente. A Cabra Cabriola foi à casa de um ferreiro e bateu sua língua numa bigorna e conseguiu mudar sua voz, fazendo-a igual à da mãe das crianças.
Ao bater na porta, pediu para entrar e enganou os meninos, devorados por ela de uma vez só. Quando a mãe voltou para casa, no alvorecer do dia, não encontrou nada além dos restos de seus filhos, vítimas da Cabra Cabriola.
Papa Figo
Também de Recife, o Papa Figo é uma figura análoga ao Quibungo, mas com origens diferentes. É descrito como um monstro de orelhas peludas e longas como as de um cavalo.
Seu corpo é cabeludo e disforme nessa versão, mas ele também pode ser um homem comum que apenas se comporta como um lobisomem.
Em ambos os casos, a história do Papa Figo remete a uma pessoa de família nobre que nasceu em meados do século XIX. Vítima de doenças de pele, seu corpo foi consumido por chagas e pústulas, deixando-o em um estado deplorável.
Diz a lenda que um criado foi consultar um pai de santo e ouviu a recomendação de que o menino precisava comer o fígado de crianças para se curar de suas mazelas. Assim, nasceu o Papa Figo, obrigado a caçar crianças para restaurar seu estado de saúde comendo seus fígados, e deixando o corpo para trás.
Alamoa
Uma das lendas mais famosas da Ilha de Fernando de Noronha, a Alamoa é uma das narrativas criadas na época em que o local servia de presídio, simbolizando o medo e o desafio dos presos.
Conta a lenda que a Alamoa é uma mulher branca, loira e muito bonita que aparece nua dançando na praia iluminada por relâmpagos de uma tempestade próxima. Devido à beleza, a Alamoa atrai pescadores e caminhantes hipnotizados por sua beleza.
Nessa hora, ela se transforma em um esqueleto e enlouquece o homem que a seguiu, perseguindo-o se ele tentar fugir. Sua residência é o Pico, uma elevação rochosa de 321 metros de altura.
Lá de cima, a Alamoa joga o corpo dos homens que ameaçam o arquipélago de Fernando de Noronha, matando-os de forma brutal.
Sua lenda, que inicialmente possuía um teor sombrio, passou a ser ressignificada com a Alamoa sendo uma protetora do local.
Por conta disso, pousadas, lojas e restaurantes são nomeados em homenagem a Alamoa, que já foi até inspiração para uma escola de samba no desfile de 1995 da Mangueira, cujo tema foi “Fernando de Noronha: A Esmeralda do Atlântico - suas lendas e suas possibilidades fantásticas”.
A Botija Encantada
Versão nordestina das lendas de tesouros místicos, a Botija Encantada é um mito que trata de ouro, seja em moedas, seja em barras deixadas por holandeses e outros povos.
Diz a lenda que primeiro vem o sonho. A pessoa destinada a encontrar a botija em questão sonha com o tesouro, indicado por almas penadas condenadas a sofrer no inferno enquanto o ouro não for encontrado.
Para desenterrar o tesouro, porém, é preciso obedecer a certas regras. É preciso ir à noite, sozinho, sem falar com ninguém e em silêncio.
Se outra pessoa, além da escolhida, encontrar a botija, verá apenas uma panela de carvão no lugar do ouro.
Todas as lendas terminam com o escolhido frustrando-se ao chegar perto de encontrar a botija, que permanece encantada, longe das ambições mundanas. Assim, o tesouro perdido continua a escolher outra pessoa, para que o ouro seja encontrado e as almas penadas possam descansar de seu sofrimento eterno.