PM é condenado a 16 anos por matar jovem algemado dentro de delegacia no Ceará
O Conselho de Sentença reconheceu que o crime foi praticado por motivo fútil e meio cruel. Juiz determinou a perda do cargo e a prisão imediata do réu
O Tribunal do Júri da Comarca de Fortaleza condenou, nesta segunda-feira, 24, o policial militar George Tarick de Vasconcelos Ferreira a 16 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão pelo homicídio qualificado de Mateus Silva Cruz.
O crime, registrado em fevereiro de 2022 na cidade de Camocim, chocou por ter sido cometido dentro de uma delegacia de Polícia, enquanto a vítima estava algemada e sob custódia do Estado.
O julgamento ocorreu na 3ª Vara do Júri de Fortaleza. O Conselho de Sentença acolheu integralmente a denúncia do Ministério Público, condenando o réu por homicídio triplamente qualificado. Os jurados reconheceram as qualificadoras de motivo fútil, emprego de meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Conforme a sentença obtida pelo O POVO, na dosimetria da pena, o juízo destacou a gravidade das circunstâncias. "A culpabilidade do réu foi acentuada pelo fato de o crime ter sido praticado "por policial militar, dentro da Delegacia de Polícia", local onde a vítima aguardava a atuação da autoridade policial.
No dia do crime, o policial 33 anos e a vítima, de 19, se desentenderam dentro de uma boate. Após entrarem em vias de fato, a Polícia Militar foi acionada para atender a ocorrência.
O jovem foi conduzido à delegacia pela equipe policial que estava de plantão e o agente, que estava de folga, seguiu a viatura no carro particular. Em depoimento obtido pelo O POVO, o acusado alegou que, já no interior da unidade policial, Mateus o teria encarado e desafiado por duas vezes. O policial confessou a autoria dos disparos e afirmou estar arrependido.
O magistrado ressaltou que a vítima era um preso que estava algemado, o que evidencia "a absoluta incompatibilidade da conduta do soldado da Polícia Militar com o exercício da função pública".
Além da pena de prisão em regime inicialmente fechado, a Justiça decretou a perda do cargo público de George Tarick. O juiz fundamentou que o réu, valendo-se de sua posição funcional, violou deveres de proteção e legalidade, atingindo o núcleo da atividade estatal de garantir a integridade física de pessoas privadas de liberdade.
Com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) foi decretada a execução provisória imediata da pena, negando ao réu o direito de recorrer em liberdade.
O crime
06 de fevereiro de 2022 (crime): durante a madrugada, Matheus Silva Cruz, 19 anos, e o policial militar George Tarick se envolvem em uma discussão em uma festa e, posteriormente, em uma via pública de Camocim. Matheus é detido por uma composição policial e levado à Delegacia Regional de Camocim. Já dentro da unidade, enquanto Matheus estava algemado aguardando procedimentos, George Tarick (que estava de folga) entra na sala e dispara diversas vezes contra o jovem, que morre no local. O PM é preso em flagrante.
Fevereiro de 2022 (prisão): a prisão em flagrante de George Tarick é convertida em prisão preventiva pela Justiça. O caso gera grande comoção em Camocim, com protestos da família e da população exigindo justiça.
Dezembro de 2023 (demissão administrativa): a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) do Ceará decide pela expulsão de George Tarick dos quadros da Polícia Militar em processo administrativo, independentemente do julgamento criminal.
Anos 2024/2025 (desaforamento): devido à forte comoção social em Camocim e visando garantir a imparcialidade dos jurados e a segurança, o julgamento é transferido da comarca de Camocim para a capital, Fortaleza.
24 de novembro de 2025 (julgamento): o 3º Tribunal do Júri de Fortaleza condena George Tarick a mais de 16 anos de prisão. A sentença confirma judicialmente a perda do cargo e determina o cumprimento imediato da pena.