UFC leva projeto de saúde da mulher do Interior do Ceará à China
Fundadora do projeto "Missão Mulher Saudável", a estudante de Medicina Naomi Nascimento Ferreira ganha viagem a China como prêmio após impactar 329 mulheres cearenses
A fundadora do projeto de extensão "Missão Mulher Saudável", criado na Universidade Federal do Ceará (UFC), Naomi Nascimento Ferreira, 23, ganha viagem à China para uma imersão no ecossistema de inovação e liderança.
Viagem acontece após vitória no Prêmio Na Prática: Protagonismo Universitário 2025 na categoria Nordeste, em São Paulo.
O projeto encabeçado por ela leva atendimento gratuito desburocratizado para o sexo feminino nos municípios do Interior do Ceará — regiões onde o acesso costuma ser limitado ou inexistente. É o caso de Quiterianópolis, Crateús e Jaguaretama. Público-alvo são mulheres de 15 a 50 anos, faixa do período fértil.
O "Missão Mulher Saudável" já realizou 329 inserções de Dispositivo Intrauterino (DIU) e 300 consultas clínicas e ações educativas.
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Nascida no bairro Cigana, em Caucaia, Naomi explica que o projeto promove perspectivas diante da violência e da baixa valorização da educação. "Já me disseram que eu me contentasse, que eu não iria crescer na vida e ia acabar engravidando cedo", relembra.
Sob orientação do professor Leonardo Bezerra, a ação, oficializada neste ano, atende casos de endometriose, queixas de dor pélvica crônica, sangramento uterino anormal e outras demandas ginecológicas, além de oferecer orientação em planejamento familiar.
"Uma paciente tinha endometriose e uma dor tão absurda que limitava ela em todas as áreas da vida. Ela se sentia invisível porque a família não entendia, achava que era coisa da cabeça dela. Os médicos também não conheciam, diziam que era besteira. Então, foi durante esse atendimento que a gente conseguiu dar acolhimento", comenta sobre surgimento da proposta.
De acordo com Naomi, 80% das dores crônicas incapacitantes têm a endometriose como causa principal, condição que pode afetar até 20% das mulheres em período fértil.
"Em vez de esperar que elas cheguem até a gente, a gente deveria ir lá orientá-las", destaca.
Para romper com o ciclo de maternidade precoce e levar a mensagem de transformação social por meio dos estudos, o projeto também atua em escolas, onde enfrentam resistências relacionadas ao fundamentalismo religioso e aos tabus que cercam a educação sexual.
Viagem a China
Em janeiro de 2026, ela embarca para a China ao lado de outros cinco universitários brasileiros. "Eu não imaginava ter ganhado, porque não faço meu projeto com o objetivo de ganhar prêmios, mas eu faço para mudar a vida dessas mulheres. Eu me sinto pertencente a esse trabalho", define a discente.
A meta é ampliar o alcance da ação nos próximos anos, levando diagnóstico, informação e atendimento a mulheres de regiões remotas em todo o Brasil.
"Nós fazemos parte de um grupo que entende que a Medicina tem uma função eminentemente social, de cuidado, de transformar a realidade. E no País tão desigual como o nosso, nós temos a oportunidade de ter um governo sensibilizado com a causa social. Podemos ver os olhinhos deles (alunos) brilhando com a possibilidade de crescimento. Ser professor é entender que é um processo de transformação social e educação", destaca o médico Leonardo Bezerra.
Como os municípios podem solicitar a Missão Mulher Saudável
A prefeitura interessada deve procurar a Secretaria Municipal da Saúde, que estabelece o contato direto com a equipe da UFC.
Após a apresentação do projeto e a definição da logística, o município inicia a preparação das unidades básicas de saúde, responsáveis por selecionar as pacientes com indicação para DIU, queixas de dor pélvica ou outras demandas ginecológicas.
Processo pode levar dois meses. Após confirmação, equipe interna de 19 membros atua por cerca de 48 horas na localidade ao lado de profissionais locais. Segundo os responsáveis, Aracati, Limoeiro do Norte e Mombaça já manifestaram interesse.