Tudo que você precisa saber sobre vacinação de adolescentes contra Covid-19

As contradições e as desinformações que circulam dividem pais, responsáveis e os adolescentes. O POVO reúne respostas às principais dúvidas

A orientação do Ministério da Saúde de não vacinar de adolescentes sem comorbidades dividiu municípios e estados. Vários, incluindo o Ceará, decidiram manter a vacinação daqueles acima de 12 anos. As contradições e as desinformações que circulam, até mesmo por parte de autoridades, dividem também pais, responsáveis e os adolescentes.   

O POVO reúne a seguir respostas às principais dúvidas quando o assunto é vacinar adolescentes contra a Covid-19:

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Quais vacinas podem ser aplicadas?

Atualmente, apenas a vacina da Pfizer está autorizada a ser aplicada na população de 12 a 17 anos no Brasil. Isso porque ela é a única que foi testada em estudos clínicos com voluntários dessa faixa etária e provou-se eficaz e segura.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a utilização da vacina da Pfizer para crianças e adolescentes entre 12 e 15 anos em 12 de junho de 2021. Para essa aprovação, foram apresentados estudos de fase 3, dados que demonstraram sua eficácia e segurança.

Para as conclusões sobre eficácia, foram considerados 1.972 adolescentes vacinados. A eficácia da vacina observada foi de 100%. No que diz respeito à segurança, especificamente a eventos cardiovasculares, foram observados casos muito raros (16 casos para cada 1 milhão de vacinados) de miocardite e pericardite após vacinação.

E as demais vacinas trazem algum risco?

"Não é que as outras vacinas trazem riscos, é que elas não foram estudadas nessa população ainda", explica o imunologista Edson Teixeira. Para que o uso de imunizante seja autorizado, é necessário que ele passe por uma série de testes, incluindo testes em voluntários com a faixa etária específica. "Isso quer dizer que elas necessariamente farão mal? Não. Mas tem que testar antes de liberar", enfatiza.

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Fora a Pfizer, o Instituto Butantan foi o único a pedir autorização para uso da Coronavac em populações abaixo de 18 anos. Entretanto, após a análise das informações enviadas, a Anvisa negou o aval. Segundo os técnicos da agência, ainda faltam dados para confirmar segurança e eficácia da aplicação neste grupo. Os documentos do Butantan apresentavam relativamente poucas crianças e adolescentes para uma faixa etária muito ampla.

A Janssen está conduzindo um estudo, autorizado pela Anvisa, para ampliar a indicação de idade de seu imunizante.

Por que os testes das vacinas em adolescentes demoraram?

Os testes das vacinas contra a Covid-19 começaram a ser realizados em adolescentes e crianças depois dos testes com adultos pelo fato de o novo coronavírus apresentar agravamento da doença principalmente em pessoas mais velhas e com comorbidades.

Se adolescentes têm menos riscos, por que devem se vacinar?

Mesmo tendo menos riscos em relação à Covid-19, é sim possível desenvolver complicações graves. Dados mostram que a população infectada é cada vez mais jovem. Além disso, é consenso a importância de que que toda a população se vacine, incluindo crianças e adolescentes. Essa imunização não só protege individualmente como freia a circulação do coronavírus e reduz a possibilidade de surgirem novas variantes. 

A importância fica ainda mais evidente quando olhamos para a pirâmide etária do Brasil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que pessoas de zero a 17 anos totalizem um quarto de toda a população do País.

Devo me preocupar com eventos adversos?

Há alguns meses, autoridades de saúde estadunidenses e israelenses alertaram para casos raros e leves de miocardite (inflamação no músculo cardíaco) e pericardite (inflamação da membrana que cerca o coração) associados a vacinas que usam tecnologia de RNA mensageiro, como a da Pfizer. Os casos eram concentrados em jovens e adolescentes, principalmente homens, após a segunda dose.

Ao mesmo tempo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) — órgão semelhante à Anvisa — também apontou que os benefícios da imunização para maiores de 12 anos superam muito os possíveis riscos.

Em julho, o estudo que mostra a segurança e a efetividade em adolescentes da vacina da Pfizer foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. A pesquisa seguiu um padrão de metodologia central para estudos confiáveis (randomizada, com grupo controle e com os pesquisadores cegados). Ao todo, 2.260 pessoas de 12 a 15 anos foram voluntárias. Entre elas, 1.131 receberam a vacina e 1.129, o placebo. Os efeitos adversos observados foram transitórios e de leves a moderados, como dor no local da injeção, fadiga e dor de cabeça.

Mas, e a adolescente em São Paulo que morreu após ser vacinada?

Uma jovem de 16 anos, moradora de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, morreu oito dias após ser vacinada contra a Covid-19. O protocolo, nesses casos, é de que haja uma apuração para entender se a vacina teve ou não alguma relação com o óbito.

Nessa quinta-feira, a Anvisa afirmou que os dados disponíveis sobre a morte de uma adolescente de 16 anos, do estado de São Paulo, após receber a vacina da Pfizer não são suficientes para estabelecer que o imunizante tenha causado o óbito. A agência vai se reunir com representantes da Pfizer e com os responsáveis em apurar o caso tanto a nível estadual quanto nacional.

Em nota pública, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) afirma que o óbito "deve ser investigado com rigor, assim como todos os demais casos de possíveis eventos adversos". "Até o momento, no entanto, não foi estabelecida relação causal com a vacina. É necessário cautela para evitar a adoção de medidas precipitadas", enfatiza.

A vacinação de adolescentes já foi autorizada ou já começou em quais países?

Pelo mundo, adolescentes estão sendo vacinados contra a Covid-19 desde meados de maio. Estados Unidos e Canadá foram os primeiros a imunizar esse grupo etário.

A União Europeia autorizou o uso da vacina em adolescentes de 12 a 15 anos em 28 de maio. Antes, os de 16 e 17 anos já podiam ser imunizados. Alemanha, Chile, Cuba, Dinamarca, Equador, França, Hungria, Israel, Itália, México, Noruega, Portugal, Reino Unido e Suécia estão entre os países que estão vacinando crianças e adolescentes.

A maioria usa a vacina da Pfizer, mas outros, como Cuba, aplicam vacinas diferentes: a Soberana 02, no caso cubano, desenvolvida no próprio país. Já a China aplicou a Coronavac em algumas crianças a partir de três anos.

Nos Estados Unidos, a vacina da Moderna também está sendo aplicada nesse grupo etário. No Chile, a Coronavac está autorizada para uso em crianças a partir dos seis anos. 

A OMS liberou a vacinação de crianças e adolescentes?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmou que a vacina é segura para adolescentes. No entanto, a organização argumenta que "é menos urgente vaciná-los do que pessoas mais velhas, com condições crônicas de saúde e profissionais de saúde". Em informações atualizadas em 14 de julho, a organização aponta que:

  • O Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas da OMS (SAGE, na sigla em inglês) concluiu que a vacina Pfizer/BionTech é adequada para uso em pessoas com 12 anos ou mais;
  • Crianças e adolescentes tendem a ter doença mais branda em comparação com adultos, portanto, a menos que façam parte de um grupo com maior risco de Covid-19 grave, é menos urgente vaciná-los do que pessoas mais velhas, com condições crônicas de saúde e profissionais de saúde;
  • Crianças com idade entre 12 e 15 anos que estão em alto risco podem receber esta vacina juntamente com outros grupos prioritários para vacinação;
  • Mais evidências são necessárias sobre o uso das diferentes vacinas de Covid-19 em crianças para poder fazer recomendações gerais sobre a vacinação contra a Covid-19.

A organização acrescenta que os estudos sobre vacinas para crianças estão em andamento e que atualizará suas recomendações quando as evidências ou a situação epidemiológica justificarem uma mudança na política.

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