Queiroga diz que sugeriu suspender vacina de adolescentes porque não há "evidências conclusivas"

Ministro da Saúde deu declarações em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira, 16. Pesquisadores criticam mudança na orientação e rebatem argumentos

O titular do Ministério da Saúde, Marcelo Queiroga apelou para que secretários municipais suspendam vacinação de adolescentes sem comorbidades. Ele defende que não existem evidências conclusivas acerca da imunização em determinados subgrupos. Afirmações foram feitas em coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira, 16, após divulgação de nota técnica com a decisão. 

"Então, meus amigos 5.517 secretários de Saúde do Brasil, sigam a recomendação do PNI (Programa Nacional de Imunização). Não dá para o Ministério da Saúde se responsabilizar por condutas que são tomadas fora das recomendações sanitárias do País", disse. 

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Conforme o ministro, a recomendação é que quem já recebeu uma dose não deve tomar a segunda, "por uma questão de cautela".

"Nós já temos evidências científicas com relação às vacinas que tem registro definitivo na Anvisa. As evidências são conclusivas naquele público estudado, mas em relação aos outros subgrupos essas evidências estão sendo construídas", justificou. 

Especialistas rebatem argumentos

Conforme Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia pela Johns Hopkins University e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), "o que o Ministério da saúde fez hoje no Brasil foi uma campanha anti-vacina". A pesquisadora criticou a medida por meio do Twitter.

"Levem seus adolescentes para vacinarem assim que puderem. O problema não é apenas a morte, mas sequelas permanentes que podem acometer esses adolescentes e podem impactar a vida deles. A Pfizer está aprovada pela Anvisa, é segura", defendeu. 

"É verdade que a maioria dos adolescentes não terá caso grave, mas quanto mais gente vacinada, mais difícil pro vírus circular", rebateu o epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O que diz nota do Ministério 

Na nota técnica, o órgão justifica que a Organização Mundial de Saúde (OM) não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades. Entretanto, a entidade internacional afirma, em sua página oficial, que crianças e adolescentes tendem a ter doença mais branda em comparação com adultos, a menos que tenham comorbidades. Dessa forma, a vacinação da faixa é "menos urgente do que pessoas mais velhas, com condições crônicas de saúde e profissionais de saúde".

Outro ponto explorado para justificar a interrupção da imunização de jovens nessa faixa etária é que a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela Covid-19 "apresentam evolução benigna, apresentando-se assintomáticos ou oligossintomáticos". 

No dia 2 de setembro, o MS publicou nota técnica na qual recomendava a vacinação dos adolescentes da faixa etária, mesmo sem comorbidades. Queiroga criticou ainda o fato de alguns municípios terem iniciado a vacinação de adolescentes antes da data prevista pelo Ministério, que seria nesta quarta-feira, 15 de outubro.

Adesão dos estados 

Em São Paulo, a vacinação de adolescentes será mantida. Governo paulista criticou a decisão do Ministério. O Governo do Distrito Federal e as prefeituras de Salvador (BA) e Natal (RN) já anunciaram que vão deixar de vacinar adolescentes sem comorbidades. 

A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) ressaltou que vai realizar uma reunião ainda nesta quinta-feira, 16, com representantes da Saúde dos municípios para avaliar o conteúdo da nota. As reuniões do Comissão Intergestores Bipartite do Ceará (CIB-CE) reúnem gestores da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e das secretarias municipais de Saúde. A previsão é que o Estado se posicione oficialmente após a reunião.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou nota afirmando que a vacinação de todos os adolescentes é "segura e será necessária". O texto ressalta que deve ser priorizado neste momento aqueles com "comorbidade, deficiência permanente e vulneráveis, como os privados de liberdade e em situação de rua". Nesta quinta-feira, 16, o Conselho oficializou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária pedindo explicações sobre a vacinação dos adolescentes.

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