Idosos enfrentam demora e falhas na vacina domiciliar; secretaria quer aprimorar sistema

Há casos em que a vacinação é confirmada, mas a equipe não aparece. Outro problema tem sido o congestionamento de linhas para quem tenta mudar a modalidade de vacina. Secretaria da Saúde diz trabalhar para corrigir falhas

Enquanto a vacinação de idosos contra a Covid-19 avança no modelo drive-thru, inclusive com deslocamento de táxi ou via transporte por aplicativo custeado pelo poder público a partir de hoje, aqueles que estão acamados ou sem condições de se deslocar enfrentam contratempos à espera da vacinação domiciliar. A possibilidade de idosos acima de 90 anos receberem a imunização em drive-thru sem cadastramento prévio acarretou problemas para o processo de vacina residencial. Além da aflição de aguardar uma mensagem de confirmação que insiste em não chegar, outra parcela da população enfrenta problema diferente.

"Ficaram de vacinar meu pai na última sexta-feira, 5, e não apareceram. Não tive nenhum retorno depois disso. Resolvi levar meu pai para ser vacinado no drive-thru, já que esperar pela Prefeitura não deu resultado", conta o empresário Ricardo Cabral Costa, que levou o pai Francisco Waldir Cabral Costa, de 90 anos, na última segunda-feira, 8, a um local de vacinação.

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A secretária da Saúde do Município de Fortaleza, Ana Estela, reconhece que o processo apresentou problemas nos últimos dias, mas esclarece que medidas estão sendo tomadas.

"Realmente, algumas pessoas que estavam na rota não conseguiram ser atendidas pelas nossas equipes. No último sábado e na segunda-feira, nós procuramos não fazer rotas novas, mas, sim, contemplar as pessoas que não haviam recebido a visita", conta.

O empresário Ricardo Costa acredita que o processo poderia ser mais efetivo caso conseguisse atender uma maior parcela da população. "Eu levei meu pai por volta das 10 horas da manhã. Vi pouquíssimas pessoas na fila, e muita gente disponível para atender. Vendo isso, acredito que muito mais idosos já poderiam ter recebido a vacina. Para mim, é um processo totalmente desorganizado."

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A secretária da Saúde de Fortaleza (SMS) explica que o processo de vacinação não é simples. Os critérios adotados no combate à Covid-19 são diferentes dos demais formatos de vacinação.

"É um processo que é diferente de tudo que já vivenciamos antes. Nas campanhas, nós aprendemos que não se pode perder uma oportunidade de vacinar. Se eu tenho um prédio com 10 idosos acima de 75 anos, eu deveria vacinar todos eles, mas, infelizmente, por falta de vacinas suficientes, muitas vezes vou vacinar um de 90 anos e daqui um mês eu volto, no mesmo local, para vacinar um de 75. São estratégias que estamos aprendendo como fazer", explica Ana Estela.

Segundo a secretária, o município possui 86 mil idosos acima de 75 anos. Originalmente, 25 mil doses foram recebidas para atender esse público.

Tereza de Castro Brito, 92 anos, foi mais uma que enfrentou dificuldades ao escolher a modalidade domiciliar. A idosa tem metade de seu corpo paralisado desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Mesmo sem andar e recebendo alimentação por sonda, Tereza foi levada ao ponto de vacinação disponibilizado na Arena Castelão, já que a equipe não apareceu em sua casa no dia marcado.

"A equipe de vacinação que era pra ter vindo sexta-feira, veio ontem, três dias depois, sem aviso prévio e sem saber que minha mãe tinha sido vacinada no sábado. Com o tempo que eles perderam vindo à minha casa, eles poderiam estar vacinando outro idoso. Eu ainda tenho o privilégio de colocar minha mãe em um carro e levar até o Castelão.", diz o escritor Bruno de Castro.

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Ana Estela esclarece que a Secretaria de Saúde segue trabalhando para evitar que a população sofra com transtornos, além de buscar uma forma de otimizar o tempo gasto pelas equipes na rua.

"Estamos fazendo esse encontro de dados, de quem recebeu a vacina. É uma integração de sistema, para que realmente a gente não perca esse tempo se deslocando para a casa de um idoso que já recebeu a vacina durante a semana. Nós estamos trabalhando nessa situação, que é danosa para o idoso e é danosa para nós", diz.

Segundo Ana Estela, mais de 3 mil idosos já foram vacinados na modalidade domiciliar. O objetivo é fazer com que esse número aumente nos próximos dias. As equipes de saúde também têm enfrentado problemas em campo, o que dificulta o andamento do procedimento.

"Tivemos vários problemas durante as rotas: endereços que não estão corretos, o que leva a equipe a perder tempo tentando localizar, além de problemas de idosos que não estavam em casa. Só como exemplo, uma das nossas equipes ficou 'presa' em um domicílio aguardando que o idoso voltasse", conta.

Processo de vacinação em domicílio deve ser aprimorado nos próximos dias
Processo de vacinação em domicílio deve ser aprimorado nos próximos dias (Foto: Thiago Gaspar/ Prefeitura de Fortaleza)

Mudança de modalidade

Na última quinta-feira, 4, a Prefeitura anunciou que os idosos que desejam mudar de modalidade, seja de drive-thru para domiciliar ou o inverso, poderiam realizar o processo ligando para os telefones (85) 3452 6990 ou (85) 3452 6979. Diante do problema de congestionamento das linhas, a SMS informou que o serviço foi reforçado nos últimos dias.

A secretária da Saúde de Fortaleza, Ana Estela, recomenda que a modalidade em domicílio seja opção apenas de idosos sem possibilidade de locomoção.

"Caso a pessoa não tenha condição de deslocamento, recomendamos que aguarde a vacina em domicílio. Estamos fazendo o levantamento de quem, realmente, permaneceu em domicílio. Acreditamos que quem não fez a mudança é porque não tem condição de deslocamento. Vamos reduzir bastante esse público de domicílio. Com esse novo levantamento, poderemos dar uma estimativa de quanto tempo levará para concluirmos essa etapa. Esses números devem ser passados até esta quarta-feira", conta.

Quando questionada sobre a demora enfrentada pela população em receber a mensagem de confirmação, a secretária explica que o processo segue evoluindo.

"O agendamento está acontecendo, muitos deles (idosos) já receberam a vacina nos drive-thrus. Todos que, inicialmente, fizeram a opção de drive-thru já foram contemplados. Nós já estamos trabalhando com aquele público que migrou do domicílio para o modelo drive", relata Ana Estela.

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Até o dia 8 de fevereiro, 72.250 pessoas do grupo 1 já haviam sido vacinadas em Fortaleza. Todo o grupo de pessoas institucionalizadas (idosos acima de 60 anos e pessoas com deficiência acima dos 18 anos) já recebeu a primeira dose dos imunizantes.

Nos próximos dias, o intuito da SMS é dar celeridade ao processo na Capital. Bairros que apresentem índices mais críticos devem receber prioridade nas rotas que serão traçadas. Segundo Ana Estela, o bairro José Walter é uma das localidades que recebe atenção maior das equipes de saúde desde o início do processo, devido aos índices negativos apresentados na região.

"Já estamos concluindo toda a linha de frente dos profissionais de saúde, aquela que foi estabelecida pelo Governo do Estado. Devemos concluir isso nos próximos dois dias. Estamos traçando estratégias para as novas doses que vamos receber e como vamos destiná- las. Também já iniciamos o planejamento para aplicação da segunda dose nos profissionais de saúde", acrescenta Ana Estela.

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