Karine Teles: "Maternar e paternar é uma opção"

Karine Teles e Klara Castanho colidem em suspense sobre adultização de crianças

O POVO conversou com a diretora Susanna Lira e a protagonista Karine Teles sobre "Salve Rosa", thriller que se comunica diretamente com a realidade virtual da juventude
Atualizado às Autor Arthur Gadelha Tipo Analise

"A ideia não era ser tão literal”, conta Susanna Lira sobre a abordagem do seu discurso no filme "Salve Rosa". “À medida que a pesquisa avançava, porém, ficou impossível ignorar o que estava diante dos meus olhos: meninas cada vez mais jovens sendo empurradas para um universo de consumo, exposição e performance”.

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Estrelado por Karine Teles e Klara Castanho, a trama gira ao redor de Dora e Rosa, mãe e filha que têm uma vida muito reservada. Apesar de ser uma youtuber muito popular entre as crianças, divertida e espontânea, seu semblante desaparece quando as câmeras desligam – pelo avesso, ela é acanhada, tímida e pouco fala.

Quando questionada pelos vizinhos, a mãe se recusa a dar qualquer detalhe que os façam entender suas vidas.

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Numa primeira camada, a história se comunica diretamente com a realidade ao nos fazer lembrar de crianças e adolescentes da mídia que tiveram suas vidas invadidas por pais e tutores profissionais sem escrúpulos - basta ver o que aconteceu a Larissa Manoela, Lindsay Lohan, Justin Bieber ou Macaulay Culkin, para citar alguns exemplos.

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Com ampla carreira de curtas, séries, documentários e ficções, Susanna demonstra interesse em abordar discussões que estão em crise no Brasil e no mundo. Em setembro, ela venceu o Troféu Mucuripe de Melhor Direção no 35º Cine Ceará pela codireção de “Réquiem para Moïse” com Caio Barretto Briso, filme sobre o assassinato do imigrante congolês Moïse Kabagambe.

“No caso de 'Salve Rosa', o horror está travestido de cotidiano, presente no universo aparentemente inofensivo das redes sociais e na forma como elas transformam a infância em espetáculo e mercadoria”, contou em entrevista ao O POVO.

A direção de "Salve Rosa"

A diretora lembrou também de como esse mergulho dependia da construção com as atrizes protagonistas: “Karine é uma atriz de uma entrega visceral, acostumada a trabalhar a partir de uma densidade emocional profunda. Klara, por outro lado, tem uma sensibilidade quase intuitiva, um olhar que comunica antes da palavra. Eu precisava que as duas habitassem o mesmo tom, o do desconforto, da tensão silenciosa”.

Assim como Susanna, Karine também se preparou para essa personagem olhando para a realidade. “Eu mesma sou mãe de adolescentes, e esse assunto me interessa. Aqui em casa é uma negociação o tempo inteiro em relação ao uso da internet”, ela conta.

O filme estreou em outubro no 27º Festival do Rio, saindo com dois prêmios que podem sinalizar um bom lançamento nos cinemas: além de Melhor Filme pelo Júri Popular, venceu também o Troféu Redentor de Melhor Atriz para Klara Castanho, que dá vida a uma personagem mais complexa do que parece.

Karine lembra que a conexão com a atriz foi fundamental para que a relação conturbada em tela soasse real: “Às vezes, a pessoa ser talentosa não significa que ela vai ser compatível com outra pessoa talentosa. Às vezes o jeito de trabalhar não funciona. Mas a gente se entendeu muito rapidamente”.

“Não acho que ela seja mãe”, ela continua com detalhes da sua caracterização vilanesca. “A habilidade de gerar uma vida não garante que você seja pai ou mãe. Maternar e paternar é uma escolha. Eu não acho que a Dora é mãe, apesar da Rosa ser filha dela”.

"Salve Rosa" está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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