Josh O’Connor vive ladrão atrapalhado em filme sobre roubo de pinturas
Em "The Mastermind", Kelly Reichardt faz seu próprio "filme de assalto" com um protagonista incompetente – e engraçado.
“Quando vamos ao teatro, muitas vezes nós vemos as versões mais extremas da natureza humana. Eu quero ver o ordinário. Quero ver pessoas ordinárias colocadas em situações extraordinárias”, contou Josh O’Connor ao O POVO na coletiva de imprensa que aconteceu em maio no 78º Festival de Cannes.
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Aos 35 anos, o ator britânico coleciona uma cartela de personagens diversos, mas sempre pautados por certa fragilidade emocional: do camponês reprimido de “Reino de Deus” (2017) ao tenista devasso de “Rivais” (2023), viveu até o Rei Chales em "The Crown", da Netflix, papel que lhe rendeu um Emmy de Melhor Ator.
Ainda em 2025, voltará ao streaming em novembro no papel de um padre que testemunha um assassinato em “Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out”.
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Ele está em cartaz agora nos cinemas brasileiros com “The Mastermind”, novo filme da cineasta americana Kelly Reichardt. Conhecida por tramas introspectivas que buscam a gravidade das relações humanas escondidas nas coisas mais simples, parecia natural que um dia seu trabalho fosse colidir com o de Josh, um ator que sabe inventar um tom muito próprio de melancolia.
A trama de The Mastermind
Na trama que se passa nos anos 1970, ele interpreta Mooney, um carpinteiro quieto que decide tirar proveito da sua aparência inofensiva para encarar um plano sem pé, nem cabeça: roubar quatro pinturas de um museu à luz do dia. Ele convoca outros dois colegas para a missão, traça um mapa do prédio com indicações de rotinas e rotas de fuga, sempre muito certo do que está fazendo.
Mas e depois? O que fazer com os quadros roubados?
Essa história atrapalhada foi levemente inspirada por um roubo real que aconteceu em 1972 no museu de Worcester, em Massachusetts, quando dois assaltantes roubaram quadros de Rembrandt, Picasso e Gauguin – na vida real, diferente do que acontece no filme, suponho que não deva ter tido qualquer dose de humor.
Embora não exista nenhuma grande complexidade dramatúrgica ou cenográfica na condução dessa história, é charmoso o jeito como Kelly filma essa breve aventura com uma tranquilidade tão religiosa ao ponto de deixar sua plateia num ataque de nervos – sentimento completamente oposto ao que seus personagens transparecem em cena.
“Mooney se coloca nessa posição extraordinária. Ele meio que fez isso consigo mesmo”, Josh completa a resposta rindo de si, lembrando para nós naquela sala porque o seu jeito delicado foi tão assertivo na invenção desse criminoso desengonçado que, de repente, se preocupa em roubar arte.
Enquanto protestos tomavam as ruas dos EUA em revelia a Guerra do Vietnã e as posições de Richard Nixon, Mooney existe como se fosse apenas um figurante solitário naquela paisagem urbana e sem graça, alheio ao rumo violento do mundo.
Do começo ao fim, a trilha sonora de jazz insistente nos martela o senso de humor que rodeia o que há de ridículo em cada um dos seus gestos e atos, mesmo quando são “sérios”. Roubar a carteira de uma senhora idosa, de repente, parece para ele o ato mais transgressor da sua vida inteira.
Despreocupado em causar impressões prontas sobre criminalidade, ética, mercado da arte ou até mesmo sobre o contexto político de um país que está sempre em guerra com os outros, mas nunca contra si, a graça de “The Mastermind” é nunca nos deixar desconfiar que seu protagonista terá uma grande lição – ele é patético, e pronto.
Com circuito reduzido, “The Mastermind” estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 16. Em Fortaleza, está em cartaz no Cinema do Dragão.