'Invocação do Mal 4': a última espremida em algo que já foi bom
Franquia chega ao seu quarto filme com universo popularmente bem-sucedido, mas já caindo em desgastes e pouca inspiração para finalizar a saga
O cosmo de Invocação do Mal conseguiu um feito que merece reconhecimento ao criar uma franquia e um universo compartilhado de histórias de terror. "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" (2025) segue o casal Warren, mas, além disso, foram feitos outros seis filmes com histórias deste mesmo mundo cinematográfico, quase todos com sucesso de público.
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E não foi à toa. O primeiro "Invocação do Mal", executado em 2013, sabia muito bem o que estava fazendo. O roteiro em si pode não ser grandes coisas, aliás, nenhum desta saga é impecavelmente planejado ou quer reinventar a roda - mas tinha James Wan, idealizador do universo, por trás das câmeras.
Wan acertou na ambientação, na criação de personagens interessantes e convincentes, nas cenas de horror de deixar o público impactado e um mal realmente ameaçador. Isso tudo foi replicado, ao menos a partir de tentativas, em todos os longas seguintes, até a fórmula se desgastar no quarto filme.
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Invocação do Mal: Lorraine Warren e Ed Warren
Fica estabelecido desde o início que o casal Lorraine Warren (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) é especialista em enfrentar demônios. São os melhores do mundo para tal. Portanto, é mais comum que eles não cometam os erros que todo personagem de filme de terror comete. Os tais clichês. Porém, isso foi abusado neste quarto longa.
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É de se imaginar que ao acontecer eventos sobrenaturais em sua casa as pessoas passem a desconfiar, assim como acontece com a família que acompanhamos em cenas de "Invocação do Mal 4: O Último Ritual". Mas é de subestimar a inteligência do telespectador acreditar que os personagens agiram tantas vezes da forma retratada no filme.
É curioso como uma casa com oito pessoas está sempre vazia quando algum membro entra em um quarto ao perceber sons estranhos. Nunca há outros moradores por perto. O público já sabe que isso vai acontecer e fica esperando o susto. Os personagens que estão em cena desconfiam de algo, mas precisam ir lá sozinhos para se certificar e causar a cena de tensão. Isso ocorre incontáveis vezes.
Aliás, o filme em sua primeira meia hora dá bastante atenção para a família, mas, quando o tempo passa, é desperdiçado o interesse que existia em apresentar as pessoas ao focar no casal Warren. Não dá tempo de nos importarmos o suficiente com os personagens para vislumbrarmos uma temeridade maior ou entender como os eventos sobrenaturais os estão afligindo de forma mais concreta.
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Aqui vemos Lorraine e Ed ainda jovens grávidos em uma missão que mudou suas vidas, algo que não foi abordado em nenhum outro filme. Diferente dos outros filmes, que focam com ênfase nas investigações, o novo longa insinua um tom mais desafiador. A ameaça parece ser algo pessoal por parte do inimigo, embora a razão por trás desse ataque nunca seja perfeitamente esclarecida.
Digo, nem sabemos dizer direito o que esta nova assombração quer ou qual forma assume de fato. Logo, essa franquia que sempre deixou os aspectos primordiais tão explícitos. Era uma boneca, um demônio antigo, uma freira, um objeto. Certo, sabemos que é um espelho, mas como ele faz o que faz para conseguir os seus objetivos? Ou melhor, qual era o seu objetivo?
Invocação do Mal: a filha do casal Warren
Aqui temos a forte presença da filha do casal Warren, Judy (Mia Tomlison), e o seu namorado/noivo, Tony (Ben Hardy), acrescentando um tom que em tese traz uma carga dramática e representa um perigo maior para o desafio da vez.
Sem aprofundar em detalhes que possam prejudicar a experiência de quem ainda não assistiu, mas Judy é importante para a trama.
Ela é filha do casal especialista em enfrentar demônios e assombrações, mas não é cabível que caia naqueles mesmos clichês citados anteriormente. Se sente uma presença estranha, sabe que existe o sobrenatural, ir lá sozinha no escuro em um ambiente com diversas pessoas disponíveis para auxiliá-la só para cair naqueles sustos manjados: é esgotar a fórmula.
Toda essa condução medíocre do diretor Michael Chaves é pouco originalidade. Ele parece mais querer copiar e colar tudo o que James Wan fez acertadamente. Ele erra muito? Creio que não, mas o cerne desse desgaste é porque estamos falando do quarto filme só de Invocação do Mal. Então, quase nada é novo. E o que ele repete de bom já vimos nos outros longas, inclusive, sendo melhores executados.
Invocação do Mal: qual o veredito?
Como disse no início, é louvável conseguir agremiar uma legião de pessoas para irem aos cinemas assistir filmes de terror interligados com premissas interessantes. E, se a saga conseguiu isso, foi por méritos de fazer produções cativantes, mesmo sendo um gênero não tem um acompanhamento tão forte do público.
"Invocação do Mal 4: O Último Ritual" tem pontos positivos. Um deles é o elenco principal - especialmente o casal Warren, como sempre carismático, embora neste longa os dois protagonistas estejam nas suas versões menos imponentes e mais vulneráveis. Mas há um motivo para isso. A química entre eles parece ser natural e nada forçada.
Porém, o longa escorrega em não ser nada original, repetir com menos talento diversas fórmulas datadas dos filmes anteriores e do gênero na totalidade.
Sendo assim, a saga espreme a toalha até onde dá para lucrar com Invocação do Mal. Espremeu tanto até fazer deste, que deveria ser a grande conclusão, o menos interessante deles. E talvez nem tenham espremido até a última gota ainda, afinal, enquanto estiver dando lucro aos estúdios, imagino ser difícil não vermos mais filmes deste universo.