Gramado: Bella Campos e Xamã montam engrenagem em ação policial
Em competição no 53º Festival de Gramado, "Cinco Tipos de Medo" encerrou a Mostra de Longas-Metragens. Filme é estrelado por Bella Campos e Xamã
Quando pensamos nos filmes de ação realizados no Brasil, especialmente os coproduzidos com canais de televisão ou streaming, quase sempre vamos parar em tramas policiais com dramas reciclados de classe e poder com forças “oficiais” que duelam com a criminalidade em bairros periféricos - por isso mesmo, quase sempre têm grande dificuldade de ultrapassar a superfície. Não é diferente com “Cinco Tipos de Medo”, dirigido por Bruno Bini.
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Embora seja o primeiro filme do Mato Grosso a concorrer na principal mostra do Festival de Gramado, não há nada em forma ou texto que o distancie do que é produzido no eixo Rio-São Paulo. Na trama, histórias se cruzam à margem: Marlene (Bella Campos) se vê refém do namorado Sapinho (Xamã) quando se relaciona com um jovem de um bairro distante (João Vitor Silva). Nessa teia, Sapinho é perseguido pela policial Luciana (Bárbara Colen) que busca vingar a morte do seu filho.
A direção entende a confusão que conecta esses conflitos e opta por contar em pedaços, como se fossem pontos de vista que se cruzam para montar um quebra-cabeça aos poucos.
Apesar de causar curiosidade pela forma como as coisas vão se revelando, o saldo final ainda é muito indigesto pela constante sensação de reciclagem e pelo descaso com a repetição dos estereótipos de personagens negros e da população pobre.
A narrativa de "Cinco Tipos de Medo"
Não há nuance em nenhum personagem, cenário ou sequer no texto, tratando uma realidade tão cruel de tal forma para servir à sanguinolência que costuma ser usada para atrair audiência.
Talvez inspirado por narrativas como ‘Tropa de Elite’ e ‘Cidade de Deus’, o roteiro tenta impressionar pela fisicalidade dos tiros, da penitenciária e das perseguições que ganham relevância quando isoladas.
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Há certa coragem estética na condução das sequências de ação, principalmente a do tiroteio central, mas uma série de coincidências vão se sucedendo para enfraquecer a importância individual dessas histórias. À medida em que tudo vai se amarrando é que as ambiguidades se tornam cada vez mais grosseiras.
Embora baseado em histórias reais, a impressão geral é que esse filme parece nascer de um compilado de todas as ações policiais lançadas no Brasil. Histórias como essas fazem parte da percepção de sociedade e não podem deixar de serem contadas, mas a repetição rasa esvazia qualquer propósito justo. O Cinema Brasileiro precisa entender como fugir disso.