Superman de James Gunn une o melhor de dois mundos com esperança

Superman de James Gunn une o melhor de dois mundos com esperança

Em 'Superman', James Gunn entende a essência do personagem e conecta características ousadas que deram certo e outras não em adaptação dos novos tempos

“É um pássaro? É um avião? Não, é o Superman”. Imortalizado e icônico, a imagem do homem de capa vermelha que podia voar se tornou um marco no que conhecemos como super-heróis e histórias em quadrinhos. Tratando de temas como patriotismo, “ideal americano” e trazendo elementos bíblicos do messias, a figura do herói teve que se adaptar.

Em “Superman”, dirigido, escrito e produzido por James Gunn, mente por trás de toda a estrutura da DC Comics nos cinemas a partir de agora, o personagem que era a cara do sonho americano vive dilemas atuais geopolíticos sobre imigrantes e ódio ao diferente, respeitando a essência do homem que veio do espaço.

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Essa ousada abordagem foi arriscada em “O Homem de Aço” (2013) de Zack Snyder, com um Superman mais alienígena e estranho aos olhos da humanidade, bem como todas as suas discussões sobre como reagiriam a isso, em relação que o clássico “Superman” (1978) estrelado por Christopher Reeve que foca na imagem do ideal americano.

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Estas duas obras distintas em foco e período de tempo falam do mesmo personagem, mas de maneiras diferentes. Já James Gunn consegue unir os dois mundos, herói e estrangeiro, Terra e Krypton, em uma versão mais próxima da perfeita e definitiva do homem que veio de outro planeta.

James Gunn une Terra e Krypton em novo 'Superman'

Desde o primeiro minuto, o filme mostra que o universo está estabelecido, existem deuses e monstros e a figura do Superman é controversa. As cores são bem vivas, as botas, a cueca por cima da calça, tudo isso engrandece um mundo adaptado muito bem dos quadrinhos, estando nem um pouco preocupado em tentar ser realista. Ainda bem.

O filme fala muito mais do Ka-El do que do Clark. São poucas as cenas em que David Corenswet está longe de sua capa vermelha e seu disfarce humano. Mas em todos os momentos vemos sua batalha em se entender como a figura que quer ser, de herói e salvador da humanidade.

Neste longa, o diretor e o roteiro não tentam contar e explicar a gênese do kryptoniano. Afinal, já vimos isso muitas vezes no cinema, já que não é um filme de origem, mas sim da transformação de um símbolo. E nisso, “Superman” é certeiro.

David muito bem encara a postura do herói, desde salvador de animais nas ruas, como alguém preocupado em parar guerras e com o bem-estar de cidadãos de países distantes. Já seu Clark Kent, pouco abordado, esconde a figura do deus em alguém atrapalhado e pouco visto. Não é só colocar os óculos, como o filme explica, mas de fato são pessoas diferentes.

Ódio ao imigrante e conflitos geopolíticos são abordados em novo 'Superman'

O elenco de apoio tem principalmente o destaque de Rachel Brosnahan como Lois Lane, a repórter inquieta e incessante. Ela brilha bem mais do que só fazer o papel de par romântico do protagonista e conduz a trama sendo olhos e ouvidos como grande jornalista investigativa que é. Além dela, os holofotes caem também para Nicholas Hoult, o Lex Luthor.

Caricato bilionário, gênio e vilão clássico, aqui ele não quer apenas dominar o mundo, mas é a incorporação do intolerante com o diferente, imigrante, trajado de um falso nacionalismo e moralismo para expor todo o seu ódio cego ao que não entende, culpando-o assim por seus problemas locais e inveja.

Ao colocar o Superman lidando em um mundo de redes sociais, onde as críticas e elogios são importantes perante a imagem dos nossos heróis e vilões em suas construções e julgamento na sociedade, aproxima ainda mais esta abordagem do personagem para uma visão atual de Kal-El.

O filme expõe à ficção elementos reais como o ódio ao imigrante, conflitos geopolíticos, empresários poderosos e líderes mundiais. O presidente de Boravía, país fictício para o longa, é uma caricatura do presidente argentino Javier Milei.

As imagens e cenas de luta parecem ter saído diretamente dos desenhos e quadrinhos, dando esse tom mais cartunesco durante todo o filme, além da presença de diversos personagens que, por meio de estereótipos e diálogos expositivos, por vezes necessários para ser ágil, não deixam a trama enrolada. Cada um tem o seu papel e o cumpre corretamente.

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James Gunn entende mais do que qualquer outro cineasta que se propôs a falar do Superman no cinema; por isso, consegue fazer um personagem que é, sim, vindo de outro planeta, portanto distinto dos demais, mas que tem humanidade, erros e acertos, que o fazem ser além de um kryptoniano, um americano do Kansas.

Este universo mais fantasioso é bem contemplado com heróis de roupas coloridas, monstros destruindo a cidade e uma ótima abordagem de Krypto, o cachorro com superpoderes, dando suas caras pela primeira vez nas telonas.

Unindo assim todas as controvérsias e diferenças que fazem o Superman ser um herói tão importante para tratar de temas complexos e atuais, o longa de estreia dessa nova estrutura da DC Comics no cinema não poderia começar melhor. Dando assim esperança para uma nova era de super-heróis.

Com cenas de ação bem coreografadas e empolgantes, trilha tirada diretamente do clássico de John Williams, associação direta ao herói e uma das mais marcantes do cinema, com carga de emoção genuína, a obra é um filme de quadrinho perfeito.

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