Com Pabllo Vittar, Fresno celebra alta do rock nacional em álbum

Com parceria inédita com Pabllo Vittar, banda Fresno lança décimo disco da carreira e celebra "novo boom" do rock na cena nacional

Atravessar a Praça Portugal era um desafio para Lucas Silveira em meados dos anos 2000. Reduto da juventude roqueira à época, o local entrava na rota do músico nas visitas que fazia à família materna aqui na Capital. “Eu não conseguia andar”, lembra o vocalista da banda Fresno sobre a euforia dos fãs.

Na década seguinte, porém, Fortaleza refletia o cenário nacional: o rock já não estava em alta. Mesmo assim, Lucas, Gustavo Mantovani (Vavo) e Thiago Guerra não arredaram o pé. A Fresno continuou e viu outras bandas, a exemplo de NX Zero e Forfun, pausarem os trabalhos. Agora, num 2024 de “novo boom” para as guitarras e baterias, o trio lança o décimo disco da carreira, intitulado “Eu Nunca Fui Embora”.

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De 1999, quando foi fundado em Porto Alegre, até aqui, o grupo viveu altos e baixos. Filho de gaúcho com uma cearense, Lucas relembra que percorrer o Brasil se tornou “praticamente impossível” para bandas de rock na década passada. “Em 2014, rodamos 40 cidades só a gente (os músicos). Só com um violão. Era o único jeito. A gente achava um técnico de som em cada cidade”, lembra.

Agora o ambiente musical voltou a ser promissor. Uma prova é que, nesta semana, quase 50 cidades (incluindo Dublin, Lisboa e Fortaleza) tiveram festas celebrativas para comemorar e ouvir o novo disco da banda, que é expoente da estética emocore – vertente do rock focada em composições sobre emoções.

"Novo boom" do emo

Novos nomes do rock no cenário internacional, grandes festivais com espaço para o gênero Brasil afora, turnês de retorno de grupos e a curiosidade pelos anos 2000 no TikTok têm contribuído para o emo retornar com força. “A gente se sente sócio desse novo boom porque a gente viu ele sendo construído”, brinca Lucas.

Além disso, conta o músico, antigos “haters” se tornaram fãs. “Com o tempo, a gente viu muita gente dando o braço a torcer (em relação à banda). A gente sofreu muito preconceito musical no começo, porque já chegava pras pessoas como ‘aquele bagulho que a molecada está ouvindo, mas essa molecada não sabe de nada’”, contextualiza.

Ter permanecido na ativa também ensinou a banda sobre sobrevivência na indústria cultural. “A gente sabe o quanto, no dia a dia, o trabalho de um artista pode não ser reconhecido e remunerado”, afirma Lucas.

Representatividade de Pabllo Vittar

Com o novo disco, a banda promove encontro musical inédito: uma colaboração com a cantora pop maranhense Pabllo Vittar. Após feats com Caetano Veloso, Lulu Santos, Emicida e Lenine, a Fresno agora divide os vocais com a drag queen na faixa “Eu te amo/Eu te odeio (Iô-Iô)".

“A música tem muito a ver com a Pabllo. Tem essa energia mais divertida, que é diferente do que costumamos fazer. Somos mais melancólicos”, pontua o vocalista, ressaltando que a canção é uma das “mais roqueiras” do novo trabalho.

Apesar do convite ter motivação “puramente musical”, o cantor evidencia dimensionar o impacto de representatividade que é ter a presença da Pabllo no disco. “Na cabeça de uma pessoa mais conservadora, isso já é uma militância, mas tem a ver com tudo que a gente pensa enquanto banda”, conta.

“A gente sempre procurou se colocar como pessoas bastantes progressistas, simpáticas a qualquer ideia de uma evolução da discussão sobre o lance de ser homem, com o lance de ser roqueiro, com essa falsa virilidade rockista que a gente não compactua”, contrapõe.

Olhar voltado a causas coletivas

Apesar de a discografia da Fresno focar em canções sobre relacionamentos amorosos e questões existenciais, há também espaço para pautas sociais e políticas nas músicas. Em 2022, durante o Lollapalooza Brasil, inclusive, o grupo fez protesto contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL) entoando a música “Fudeu”, um desabafo sobre “extermínio” das ditas minorias.

| Leia também | Expoente da cena emo, Fresno critica governo Bolsonaro em novo disco

No novo disco, a faixa “Quando o pesadelo acabar” tem esse olhar mais voltado a causas coletivas. “Essa música foi escrita quando a gente ainda estava sendo governado pelo Bolsonaro e a eleição dele simbolizou um sentimento que existe numa parcela grande do País”, sustenta o artista, ressaltando que tópicos como “desinformação e preconceito” seguem em alta.

“O governo dele foi uma espécie de pesadelo, mesmo que tudo isso possa ser muito distante para uma pessoa de classe média vivendo a vida dela na Aldeota”, sublinha, destacando as dificuldades do período pandêmico e os impactos dela para além do vírus.

Solidariedade e continuidade

Em 2020, a banda se engajou em campanha de solidariedade e conseguiu “encher caminhões” com 11 mil cestas básicas durante uma live beneficente. “Foi a maior coisa que a gente fez enquanto banda”, se orgulha.

As sete músicas que chegaram aos serviços de streaming esta semana são apenas a primeira parte do álbum – que ganhará uma parte 2 e também dará origem a uma turnê que correrá o País. “Tocamos menos no Nordeste do que deveria”, reconhece, pontuando a forte relação com Fortaleza.

Sobre seguir compondo e produzindo música de amor, Lucas Silveira crava: “Estamos juntos, muitas vezes, sentindo o mesmo sentimento de merda. Todo mundo comendo o pão que o diabo amassou, mas ao mesmo tempo acordando todos os dias”.

Eu Nunca Fui Embora

Onde escutar: disponível em plataformas de streaming de áudio

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