Crime sexual: ativistas tentam barrar shows da banda alemã Rammstein
"Não celebramos criminosos", consta de petição assinada por quase 100 mil contra apresentações lideradas por Till Lindemann, que é acusado de agressão sexualComo parte de sua turnê pela Europa, os alemães do Rammstein incluíram três shows em Berlim, o primeiro a ser realizado nesta quarta-feira, 12 – todos com ingressos esgotados há bastante tempo.
Ativistas se articulam para barrar as apresentações. "Berlim não deve ser ponto de exploração sexual”, consta das duas petições, endossadas até agora por cerca de 100 mil pessoas. "Não celebramos criminosos.”
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A banda foi envolta em um escândalo após o vocalista, Till Lindemann, 60, ser acusado de abusar sexualmente das fãs nos bastidores dos shows – com o conhecimento e ajuda dos demais membros do grupo e da organização dos eventos. Todos negam as acusações.
Após diversas denúncias formais contra Lindemann, o caso agora está sob investigação da Promotoria de Berlim. Procurado pela DW, o órgão afirmou que ainda não é possível prever quando as investigações estarão concluídas.
A crítica não arranha o sucesso do Rammstein, que ainda figura nas paradas de sucesso com seis dentre os 100 discos mais ouvidos – a banda tem oito álbuns gravados em estúdio.
Cancelamento de shows é apoiado também por representantes do governo alemão
Encarregado do governo alemão do combate ao antissemitismo, Felix Klein manifestou-se de forma crítica à ideia de manter os shows do Rammstein no Estádio Olímpico, que é administrado com dinheiro público pelo governo estadual de Berlim.
"Deveríamos levar a sério as mulheres que fizeram as denúncias, assim como deveríamos levar a sério judias e judeus quando o assunto é antissemitismo”, afirmou Klein ao Funke Mediengruppe. "Não podemos permitir que os limites do que pode ser dito e feito sejam continuamente testados – mesmo quando isso acontece sob o pretexto da liberdade artística.”
Ainda que o cancelamento dos shows pareça improvável – acusado de ser antissemita, Roger Waters também foi alvo de petições que pediam o cancelamento da sua turnê, mas acabou subindo ao palco após uma decisão judicial –, certo é que não haverá festa após os shows (os chamados "after”). O comunicado foi feito na semana passada pela Senadora de Berlim para Assuntos Internos e Esporte, Iris Spranger.
Solidariedade com as mulheres que acusam Lindemann
A defesa do vocalista Till Lindemann nega veementemente que o artista tenha dopado mulheres para abusar delas sexualmente e passou a enviar notificações extrajudiciais às que alegaram ter sido vítimas de abuso.
Em resposta, famosos como o YouTuber Rezo, a atriz Nora Tschirner e a comediante Carolin Kebekus, iniciaram campanhas de financiamento coletivo para prover apoio jurídico adequado a essas mulheres. "Para que exista pelo menos um pouco de igualdade”, justificou Tschirner.
"Botaram a minha cabeça a prêmio”, diz uma das mulheres que acusou Lindemann
Várias mulheres acusaram Lindemann nas últimas semanas. Uma delas, Shelby Lynn, da Irlanda do Norte, relatou à DW ter sofrido diversas tentativas de intimidação após revelar sua versão sobre uma festa nos bastidores de um show da banda na Lituânia.
"Botaram a minha cabeça a prêmio e me ameaçaram – coisas do tipo ‘vou te encontrar e te estuprar', ‘tomara que você morra' e ‘mentirosa, puta, groupie, se vestiu assim e tava esperando o quê?'”
Lynn diz que não vai se deixar intimidar pelas ameaças. "O que me interessa é que essas vozes sejam realmente ouvidas. Não me importa se isso significa que eu tenho que ser a pessoa que se opõe a essa tempestade de ódio.”
Outros veículos de imprensa alemães, como o Süddeutsche Zeitung e o Norddeutscher Rundfunk (NDR), publicaram relatos de outras mulheres que dizem ter sido aliciadas com o propósito específico de manter relações sexuais com o cantor. Duas mulheres afirmam terem sido coagidas a atos sexuais contra a vontade delas. Todas as acusações são refutadas pela banda.
Estariam os famosos praticando abuso sistemático de poder?
Ministra alemã da Família, Lisa Paus afirmou não acreditar que o caso Rammstein seja o único. "Sem fazer pré-julgamentos sobre esse caso concreto: me parece que temos um problema estrutural da cena musical sobre o qual as pessoas finalmente estão falando”, declarou Paus ao tabloide Bild am Sonntag.
Segundo a ministra, quem organiza os shows tem o dever "de proteger principalmente o público jovem”, mas o caso Rammstein revelaria que "alguns eventos não são organizados de forma que mulheres e meninas possam se sentir seguras”.
Outro problema, de acordo com Pau, é que alguns famosos "abusam da sua posição de poder em relação às mulheres”. Autor: Suzanne Cords
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