Demóstenes Torres: saiba quem é, casos e frases do advogado

O advogado Demóstenes Torres defende réus do 8 de janeiro em audiências que marcam o início do julgamento; conheça

20:05 | Set. 03, 2025

Por: Luciana Cartaxo
Advogado Demóstenes Torres tem passagens pelo Ministério Público e atuou em casos históricos no País (foto: Rosinei Coutinho/STF)

Conhecido pela oratória combativa e pelo envolvimento em escândalos que marcaram o Congresso na década passada, o advogado Demóstenes Torres ressurgiu no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 2, como um dos nomes de destaque na defesa dos réus acusados de arquitetar uma tentativa de golpe de Estado no Brasil.

A audiência, que marca o início do julgamento mais aguardado do ano, reuniu uma série de advogados de figuras militares e políticas ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Entre eles, Demóstenes assumiu a defesa do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, e não poupou recursos retóricos, elogios aos ministros da Corte e provocações bem-humoradas.

 

Durante sua sustentação oral, Torres ocupou quase 40 dos 60 minutos que lhe cabiam, fez declarações que rapidamente se espalharam pelas redes sociais e pautaram o debate político.

“Se o Bolsonaro precisar de eu levar cigarro pra ele em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto”, afirmou.

Em outro momento, resumiu sua posição de forma peculiar: “É possível gostar do ministro Alexandre de Moraes e, ao mesmo tempo, gostar do ex-presidente Bolsonaro? Sim, sou eu essa pessoa”.

Essas frases marcaram a primeira sessão do julgamento e expuseram o estilo que tornou Demóstenes uma figura difícil de ignorar na cena pública brasileira. O julgamento segiu nesta quarta-feira, 3, com as defesas dos generais envolvidos.

Demóstenes Torres: o caminho até o STF

Nascido em Anicuns (GO), em 1961, Demóstenes Lázaro Xavier Torres formou-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e ingressou no Ministério Público em 1983.

Ascendeu rapidamente à função de Procurador-Geral de Justiça do Estado e, no final dos anos 1990, chefiou a Secretaria de Segurança Pública e Justiça do governo goiano.

Eleito senador em 2002, Demóstenes rapidamente se projetou nacionalmente como um parlamentar técnico, rigoroso com a moralidade pública e ferrenho crítico da corrupção.

Presidia comissões estratégicas, era consultado pela mídia e, em determinado momento, foi cotado até para o Supremo Tribunal Federal. Reeleito com folga em 2010, parecia consolidar uma carreira sólida e inabalável.

Mas tudo mudou em 2012, quando veio à tona sua ligação com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A Operação Monte Carlo revelou centenas de ligações entre ambos, negociações obscuras, uso do mandato para favorecimento e até intermediação de interesses privados em votações e decisões do Congresso.

Em plenário, ao tentar se defender, Demóstenes chegou a implorar: “Por favor, me deem a oportunidade de provar minha inocência. Não acabem com a minha vida, nem me deixem disputar outra eleição em 2030”.

Seu mandato foi cassado por 56 votos a 19, sob acusação de quebra de decoro parlamentar.

Sem foro privilegiado e com a reputação arruinada, o ex-senador voltou ao Ministério Público, onde enfrentou resistências e processos disciplinares.

Reabilitado judicialmente em 2014 e reintegrado em 2017, ele se aposentou em 2019 e passou a dedicar-se exclusivamente à advocacia, fundando o escritório que leva seu nome em Brasília.

Desde então, atua em causas de alto impacto e grande repercussão midiática, entre elas a defesa de João de Deus e de manifestantes presos por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Demóstenes Torres: julgamento de Bolsonaro e réus

Sem esconder sua simpatia por Bolsonaro, a quem chamou de “pessoa que eu gosto”, nem esconder o apreço por Alexandre de Moraes, a quem elogiou como “homem de coragem”, Demóstenes fez questão de se apresentar como alguém que transita bem entre opostos.

Usou parte do seu tempo para desqualificar a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e classificou-a como “frágil” e “imprestável”. Segundo ele, a delação contém “inverdades escandalosas” e deve ser “anulada” por falta de elementos objetivos.

Em tom mais descontraído, citou que “o rádio de Cachoeira é o maior advogado que tenho”, uma lembrança irônica de sua própria história.

Aos ministros do Supremo, dirigiu-se com reverência, chamando-os de “garantidores da democracia” e “pessoas de formação ilibada”. Não poupou elogios, mesmo enquanto desferia críticas à condução da investigação por parte da Polícia Federal e do Ministério Público.

“A PF e o MP não estavam interessados na verdade”, disse, ao comentar trechos do processo.

Julgamento de Bolsonaro: confira andamento do processo

O julgamento dos envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado foi iniciado oficialmente nesta terça-feira e deve se estender pelos próximos dias.

O STF reúne provas colhidas ao longo de dois anos de investigação, incluindo delações, trocas de mensagens, registros de reuniões e documentos militares.

Entre os réus do chamado "núcleo crucial" estão:

A expectativa é de que o julgamento leve pelo menos duas semanas para ser concluído, com sessões intensas e foco constante da opinião pública. O Ministério Público Federal pediu penas que somam mais de 100 anos para os principais réus, e o ambiente entre ministros é de alta tensão.

Enquanto isso, os advogados de defesa tentam minimizar os efeitos da delação de Mauro Cid e apontar supostas falhas nas investigações. E nesse cenário, Demóstenes Torres se posiciona como uma das vozes mais expressivas, e polêmicas, entre os defensores.