"Lei do silêncio"das facções impede debate sobre drogas na escola

"Lei do silêncio" das facções impede que uso de drogas seja discutido nas escolas, afirma promotor

De acordo com promotor de Justiça, o debate sobre uso de drogas e organizações criminosas não acontece porque os alunos têm medo. Projeto "Fala que Salva", do MPCE, tenta mudar essa realidade
Atualizado às Autor Alice Barbosa Tipo Notícia

“Temas como drogas e facções criminosas deixaram de ser discutidos nas escolas por medo de represálias” A afirmação é de um promotor de Justiça sobre os resultados iniciais do Projeto “Fala que Salva”, que visa a prevenção ao uso de drogas e à influência das facções criminosas nas escolas de Fortaleza.

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Em parceria com as Polícias Civil e Militar, o Ministério Público do Ceará (MPCE) visita escolas — localizadas em áreas da Capital com altos índices de violência e homicídios — para realizar palestras com adolescentes. 

A partir da identificação de escolas com registros de violência armada, entre setembro de 2024 e setembro de 2025, os órgãos definiram 20 escolas prioritárias, com foco em turmas do 8º e 9º ano.

O promotor prefere não divulgar os bairros e os nomes das unidades de ensino para evitar que sejam estigmatizados. O nome do profissional também não consta nessa reportagem por motivos de segurança. 

Dentre as 20 escolas, 11 compõem a primeira fase do projeto “Fala que Salva” e sete já receberam ações.  As demais devem ser atendidas até 12 de dezembro, de acordo com o promotor.

O projeto será executado até novembro de 2026, com expansão progressiva para diferentes territórios.

A iniciativa, segundo o promotor, foi motivada pelo relato de professores de escolas públicas em bairros vulneráveis, que se sentiram impedidos de abordar temas como drogas e organizações criminosas devido à “lei do silêncio” imposta pelas facções, que pode ameaçar suas vidas.

“Nas escolas públicas, sobretudo em territórios mais vulneráveis, assuntos sobre drogas e facções criminosas não são mais falados pelos professores, no sentido de orientar e prevenir os alunos. Há a lei do silêncio imposta pelas facções criminosas nesses ambientes escolares”, afirma.

Ele esclarece ainda que o medo de tocar nesses assuntos se intensificou após o assassinato de Geraldo Tapeba, diretor da Escola Índigena Narcísio Ferreira Matos, em Caucaia.

O diretor escolar foi morto, de acordo com o promotor, por disparo de arma de fogo no dia 4 de março de 2024 por proibir o uso e o comércio de drogas na unidade de ensino.

Em razão disso, a ação promove visitas e palestras educativas, distribui materiais informativos e divulga canais institucionais de apoio nas unidades de ensino para aproximar estudantes, famílias e equipes pedagógicas.

Objetivos do "Fala que Salva"

Conforme o representante do MPCE, a meta é reduzir a influência de facções criminosas nas escolas, garantir proteção a professores e ampliar o acesso dos estudantes a informações seguras.

“Às vezes, o jovem no contexto de um bairro dominado por facção criminosa, se sente pressionado a aderir à facção. Mas na escola, ele escuta uma palestra, se sente legitimado e pensa ‘eu não sou obrigado a aderir’. Existem outros caminhos diversos da venda de drogas e das facções”, comenta.

O promotor explica que a ação, embora seja considerada básica, é relevante para oferecer referências positivas e reocupar os espaços escolares que estão sendo dominados pela influência de organizações criminosas.

“Apesar de ser uma visita pontual, ela é bem impactante e a gente acredita que colhe bons frutos, porque depois de uma visita os professores relatam: ‘olha, a turma ficou diferente, estão questionando mais, a turma entendeu o recado.’ Então sabemos que o resultado é positivo”, acrescenta.

Para garantir a continuidade da ação, a expectativa do projeto é fortalecer políticas de prevenção como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência.

Nesse sentido, o promotor defende que “a prevenção é mais eficiente e mais barata do que a repressão”.

“Santa Catarina, por exemplo, é o estado com menor índice de violência no Brasil. E o maior braço da Polícia Militar de Santa Catarina não é o Raio, não é BP (Batalhão de Polícia), não é o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), é o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), que são instrutores nas escolas esclarecendo cidadania e drogas”, comunica.

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