Chacina do Curió: após delação, advogados de PMs pedem adiamento de júris
Homem que diz ter participado da matança indicou o nome de pessoas que não vieram a ser acusadas. Crime ocorreu em 2015 e deixou 11 mortos
Atualizado às 18h30min desta sexta-feira, 18
Na manhã desta quinta-feira, 17, advogados da Associação dos Profissionais da Segurança (APS) afirmaram que irão pedir o adiamento dos dois próximos julgamentos da Chacina da Grande Messejana, marcados para os próximos dias 25 de agosto e 22 de setembro.
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Em entrevista coletiva realizada na sede da APS, no bairro de Fátima, em Fortaleza, os advogados mencionaram que as informações que constam no depoimento de um homem que afirmou ter participado da matança trazem uma reviravolta nos rumos do caso — o que pode levar, até mesmo, conforme disseram, à absolvição dos policiais militares que foram condenados.
Como O POVO revelou em março, esse homem, em 2023, listou ao Ministério Público Estadual (MPCE) o nome de, pelo menos, seis pessoas que teriam participado da chacina — entre agentes e não agentes de segurança. Nenhum deles, porém, veio a ser acusado de maneira formal pelo crime.
Com base nessa delação, um novo inquérito policial foi instaurado pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), unidade parte da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD). Entretanto, as investigações ainda não foram finalizadas.
Após tomarem conhecimento desse outro inquérito, os advogados da APS, que representam parte dos PMs acusados da chacina, pediram à Justiça que a íntegra da investigação fosse anexada aos autos das ações penais.
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“Esse esse inquérito ficou praticamente engavetado”, criticou Cleyber Araújo, presidente da APS. “A gente veio tomar conhecimento agora. Eu não tenho dúvida que, caso a gente tivesse tomado conhecimento, teria dado um outro rumo e a gente teria poupado a restrição de liberdade, a humilhação e o sofrimento que esses policiais sofreram e ainda sofrem”.
“Toda essa nova prova torna tudo que foi investigado até agora prematuro”, disse, por sua vez, o advogado Cícero Roberto, para quem os julgamentos marcados deveriam ser adiados.
Em nota enviada ao O POVO nesta sexta-feira, 18, o Ministério Público Estadual (MPCE) afirmou que, mesmo sendo provada a participação de novos agentes na chacina, isso não “interfere nos fatos passados, já investigados e julgados no caso”.
O MPCE ainda reiterou que acompanha a investigação e os trâmites processuais do caso. “Caso outros suspeitos sejam identificados, o MP permanecerá atuando em conformidade com a legislação vigente, respeitando o posicionamento da defesa e considerando novas evidências e avanços nas investigações”.
Chacina da Grande Messejana: relembre o caso
A chacina da Grande Messejana, também conhecida como Chacina do Curió, ocorreu na madrugada do dia 12 de novembro de 2015. Onze pessoas foram assassinadas, outras três foram baleadas e mais quatro, conforme a DAI, sofreram tortura.
Conforme a investigação, os crimes foram praticados em retaliação à morte do soldado Valterberg Chaves Serpa, assassinado durante um assalto na noite do dia 11 de novembro de 2015 no bairro Lagoa Redonda.
Agora, com a revelação desse novo depoimento, os advogados dos réus questionam essa motivação apontada pelo MPCE.
Ao todo, 44 policiais militares se tornaram réus acusados de envolvimento com a chacina. Dez deles foram impronunciados, enquanto outros três tiveram as acusações desclassificadas para crimes militares em decisões de tribunais superiores.
Ainda houve o caso de Daniel Campos Menezes, que morreu durante o andamento do processo. Dos 30 réus restantes, 20 já foram julgados: seis foram condenados e 14 foram absolvidos, sendo que um desses absolvidos teve uma das acusações desclassificada para crime militar.
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