Mães do Curió pedem justiça em último julgamento
Sete réus serão julgados por omissão em agosto e outros três em setembro pela articulação da chacina na Grande Messejana; mães evitam generalização da PM, mas ressaltam que envolvidos devem ser condenados
Restando um mês para para o último bloco de julgamentos da Chacina da Grande Messejana, o movimento Mães do Curió, encabeçado pelas mães das 18 vítimas do massacre, reforçaram o pedido de justiça bradado durante os últimos dez anos.
Em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira, 15, na sede da Defensoria Pública do Ceará (DPCE), em Fortaleza, as matriarcas negaram que haja um sentimento de vingança contra a Polícia Militar do Ceará (PMCE), mas exigiram a responsabilização dos envolvidos.
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Ao todo, três blocos de julgamentos já foram realizados, findando na condenação de seis acusados e 14 absolvições. Após os resultados obtidos nos últimos dois anos, as famílias das vítimas ressaltaram a importância dos júris para o debate sobre violência policial no Estado, negando também qualquer felicidade ou frustração diante dos resultados.
“Nosso sentimento não foi de alívio, muito menos de alegria. Teve as condenações, mas não ficamos alegres com isso. As absolvições menos ainda. Mas, tivemos uma cadeia de resultados gigantescos. Nosso objetivo não era só as condenações, era vir à tona todo esse lado podre que a gente sabe que tem. É exatamente esse lado que a gente tem que tirar fora”, pontuou Suderli de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos na chacina.
Dez anos após os assassinatos, o movimento afirma conduzir ações para mitigar o estigma de violência na Grande Messejana. Entre estas ações estão corais para jovens do Curió, a fim de mantê-los em atividade e evitar que sejam cooptados pelas organizações criminosas.
O objetivo agora é, além de preservar a memória dos que se foram, garantir o futuro dos que ainda vivem na comunidade, e evitar que outras famílias possam compartilhar a experiência que as Mães do Curió não tiveram a oportunidade de viver com seus filhos.
“O que as mães e familiares do Curió querem é justiça. E uma polícia saudável para entrar nas nossas periferias e deixar os nossos filhos puderem seguir suas vidas… e a gente um dia poder ser avó. Eu não posso ser avó do meu filho. Essas mães não poderão ser avós dos seus filhos. A gente não poderá ir para uma colação de grau, uma formatura dos nossos filhos. Isso é cruel”, lamenta Edna Carla, mãe de Álef Sousa Cavalcante, morto também aos 17 anos.
Os próximos julgamentos ocorrerão nos dias 25 de agosto e 22 de setembro deste ano. No primeiro, sete réus responderão às acusações de omissão, enquanto em setembro, serão julgados os possíveis orquestradores da retaliação no Curió.
Estes serão os últimos dos 34 policiais acusados pelo Ministério Público do Estado do Ceará no caso Curió. Destes, três tiveram os processos transferidos para a Vara de Auditoria Militar e um morreu, sobrando 30 a serem julgados.
O caso, entretanto, pode não ser encerrado após o fim dos novos júris, já que a Defensoria Pública, junto com o MPCE, está recorrendo de todas as oito absolvições concedidas pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) no segundo bloco de julgamentos.
“No segundo processo aconteceram absolvições, então essas absolvições houve recurso do Ministério Público, que a defesa adere a esse recurso, e estão para apreciação do Tribunal de Justiça”, pontua o defensor geral em exercício, Leandro Bessa.
Caso Curió ganha novos suspeitos
Além dos 30 pronunciados durante os últimos dois anos, o caso da Chacina do Curió ganhou novos suspeitos durante os últimos meses. Isso graças ao depoimento de um civil, onde ele afirma que ele e outros três policiais não denunciados pelo MPCE atiraram contra vítimas da Chacina.
Conforme noticiado pelo O POVO em março deste ano, a denúncia foi investigada pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI) da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) e pelo MPCE.
À época, a CGD informou que o inquérito sobre o caso foi finalizado e enviado ao Tribunal de Justiça. O MPCE, por sua vez, afirmou que o caso estava em sigilo e não iria comentar as investigações.
Questionado sobre a inclusão de possíveis novos suspeitos durante a coletiva desta terça-feira, Bessa ponderou que a veracidade do depoimento precisará ser comprovada, para que só então, possa ser considerado como prova e motive novas acusações.
“Como todo elemento de prova que surge, ele [o inquérito] vai ser submetido ao crivo do poder judiciário. Inicialmente é preciso indagar a autenticidade dessa eventual prova. Qual a validade que esse elemento pode ter para então ser incorporado ao processo e analisado se há a possibilidade de serem abertas novas frentes de investigação para identificar novas participações”, pontuou o defensor público.
Por meio de nota, o Tibunal de Justiça disse que a participação de outros policiais envolvidos na chacina está sob investigação da Policia Cívil e que até o momento, não há informações sobre a conclusão das investigações. Veja a nota completa:
"A suposta paticipação de outros policiais na Chacina do Curió está em investigação, por meio da instauração de Inquérito Policial, cuja responsabilidade é da Polícia Civil. Segundo a 1ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, onde o caso tramita, até o momento, não há informações sobre a conclusão das investigações, com apresentação de relatório final pela autoridade policial".
O POVO procurou novamente a CGD e o MPCE para atualizar o andamento sobre o caso e aguarda retorno. Em resposta, a Controladoria informou que novas diligências estão sendo realizadas pela DAI à pedido da justiça, enquanto o órgão ministerial sinalizou aguardar a conclusão do inquérito policial.
Atualizada às 11 horas de 17 de julho de 2025
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