Assassinato de advogado foi motivado por extorsão, diz denúncia do MPCE

Ministério Público do Ceará ofertou denúncia contra três suspeitos do homicídio de Francisco Di Angellis Duarte de Morais, em maio. Suposto mandante cita ter pagado R$ 800 mil a portal de notícias para o qual advogado trabalhava

Atualizada em 29/9/2023, às 15h14min

O assassinato do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, de 41 anos, teria sido motivado por uma extorsão que a vítima teria intermediado contra o empresário Ernesto Wladimir Oliveira Barroso, 42 anos, apontado como mandante do crime. A informação consta na denúncia ofertada nesta sexta-feira, 25, pelo Ministério Público Estadual (MPCE) à 1ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza.

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Apesar de apontar, em depoimento, que pagou R$ 800 mil para que matérias com denúncias contra ele fossem apagadas do site CN7, para o qual Francisco Di Angellis trabalhava, Ernesto negou ter ordenado o crime.

A investigação da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontou que o valor foi pago em 28 de abril de 2023, durante um encontro entre Ernesto e Morais em uma padaria no Eusébio (Região Metropolitana de Fortaleza). Na ocasião, os ex-policiais militares José Luciano Souza de Queiroz, 42, e Glauco Sérgio Soares do Bonfim, 51, teriam instalado rastreadores no carro do advogado. Os dois são acusados de serem os executores do crime. Ambos negam. Os três foram presos em junho e indiciados em agosto.

Conforme O POVO mostrou em 20 de agosto, o automóvel de Morais foi rastreado por mais de 200 horas antes de o advogado ser morto com 10 tiros no dia 6 de maio deste ano no bairro Parquelândia.

Conforme o MPCE, Ernesto contou que a extorsão teve início após o deputado federal Júnior Mano (PL-CE) procurá-lo pedindo “dinheiro das emendas dele para área da saúde”. O empresário teria negado qualquer valor pecuniário ao parlamentar, afirmando ter deixado o trabalho em cooperativas de saúde. Em seguida, Ernesto disse, segundo a denúncia, que começaram a surgir matérias levantando suspeitas sobre a sua rápida ascensão financeira.

“Foram veiculadas, na internet, por exemplo, as publicações que se referiam ao acusado como ‘ex-motorista de ambulância do SAMU, e hoje, um empresário da Saúde, tem uma história que é um case de sucesso no Ceará’ e ‘milionário em 3 anos, Ernesto, o Rei das Cooperativas, faturou com a sua COOPAMULTI, entre 2020 a 2022 a quantia de R$ 168.839.194,00’”, diz a denúncia do MPCE.

Ernesto ainda afirmou, segundo o Ministério Público, que procurou Júnior Mano para reclamar das matérias e o deputado teria ironizado, afirmando que “iria corrigir o jornalista”, pois o nome do empresário estaria grafado de forma errada. Ernesto também disse, conforme a denúncia, ter entrado em contato com proprietários de outras cooperativas de saúde, que lhe disseram que as matérias seriam apagadas caso houvesse pagamento em dinheiro.

Dessa forma, teria ocorrido um primeiro encontro entre Morais e Ernesto, intermediado pelos empresários, em um café no bairro Dionísio Torres. Na ocasião, Morais teria entregue um papel onde estava escrita a quantia de R$ 1,5 milhão.

Sem poder pagar esse valor, segundo relatou, Ernesto, através dos amigos, negociou o valor, até que fosse aceita a proposta de R$ 800 mil. Paralelo a isso, ele teria buscado começar a rastrear a vítima. Em 24 de abril, por exemplo, homens foram até o local de trabalho da vítima à procura do carro dele. O intuito era, conforme o MPCE, instalar o rastreador veicular.

Entretanto, na ocasião, José Luciano foi reconhecido pelo segurança do local, que o conhecia porque ambos já haviam trabalhado juntos, conforme inquérito da Polícia Civil. O ex-PM, então, teria lhe dito que ele e Glauco Sérgio estavam à procura de um veículo que estava à venda.

“O motivo do delito é de natureza torpe, eis que consistente em vingança devido à extorsão praticada pela vítima”, afirmaram na denúncia os promotores Alice Iracema Melo Aragão, Márcia Lopes Pereira e Ythalo Frota Loureiro.

“A vítima teria exigido a quantia de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), efetivamente pago pelo réu ERNESTO, constituindo o homicídio o justiçamento pela extorsão e um recado de que jamais poderia ser incomodado, dessa forma, outra vez”.

A 6ª DHPP enviou ofícios para as delegacias de Roubos e Furtos (DRF) e de Combate à Corrupção (Decor) para que os crime mencionados durante a investigação do assassinato de Morais fossem apurados.

Em nota, enviada na tarde desta terça-feira, 29, o deputado federal Júnior Mano apontou que a referência a ele "não encontra nenhum respaldo no contexto probatório, tratando-se de uma versão isolada e inverídica apresentada apenas pelo acusado com objetivos políticos e de ofuscar o grave crime pelo qual está preso e respondendo perante a Justiça Criminal". O texto ainda reitera "nosso compromisso com a transparência, a ética e a veracidade dos fatos, e confiamos nos órgãos responsáveis pela persecução penal, dos quais estamos inteiramente à disposição".

O POVO contatou ainda, por email, o portal CN7 e o jornalista Donizete Arruda— proprietário do Don7 Media Group, do qual o CN7 faz parte. Foi enviado um email às 21h26min da sexta-feira, 25, e outro às 12h11min deste sábado, 26. Nenhum dos dois foi respondido. O jornalista e empresário também foi arrolado como testemunha pelo MPCE na denúncia ofertada à Justiça.

Caso respostas sejam enviadas, a matéria será atualizada.

Três suspeitos são denunciados pelo homicídio de advogado

O Ministério Público do Ceará ofertou denúncia contra o empresário Ernesto Wladimir de Oliveira Barroso e os ex-policiais militares José Luciano Souza de Queiroz e Glauco Sérgio Soares do Bonfim pelo homicídio do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, ocorrido na noite de 6 de maio de 2023.

Segundo a denúncia, Ernesto teria encomendado a morte de Morais, contratando Luciano e Glauco. Conforme O POVO antecipou, a arma usada no crime foi usada em pelo menos outros cinco homicídios.

O MPCE requereu citação dos denunciados por homicídio, com agravantes de motivo torpe, recurso que dificultou defesa da vítima, além do crime de associação criminosa.

O Ministério Público requereu ainda indenização de R$ 1 milhão para reparação à família da vítima em caso de condenação.

 

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