Carro de advogado morto foi rastreado por mais de 200 horas pelos assassinos

Dispositivo fez mais de 700 registros de localizações da picape da vítima, entre 28 de abril e 6 de maio deste ano, quando o crime foi cometido. Dois ex-PMs e empresário estão presos. Relatório da investigação tem mais de 2 mil páginas

Por onde dirigiu nos nove dias que antecederam seu assassinato, o advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, de 41 anos, já estava com todos os trajetos monitorados pelos homens que o executaram. Sem saber, ele circulava desde a manhã do dia 28 de abril de 2023 com um rastreador instalado na parte traseira de sua Jeep Cherokee. Até a noite de 6 de maio, por volta das 20h15min, quando o crime foi consumado - seis tiros à queima-roupa, em frente à casa da vítima, no bairro Parquelândia -, o rastreador chegou a marcar mais de 700 localizações da picape de Morais, por 203 horas.

A inserção do equipamento no veículo aconteceu no estacionamento de uma farmácia na cidade de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. Naquele 28 de abril, o advogado estava numa padaria ao lado, se encontrando pessoalmente com o empresário Ernesto Wladimir Oliveira Barroso, 42. Ele é o dono de uma cooperativa de saúde e apontado como o mandante do homicídio. Desde o dia 10 de abril, Ernesto havia buscado contato com Morais, tentando falar com ele via mensagens, pedindo retorno de ligações que não aconteceram de imediato. O empresário negociava sobre matérias no grupo de comunicação onde Morais trabalhava.

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As câmeras do estacionamento mostraram a sequência da aproximação de um Ford Focus ao lado do carro do advogado. Dois homens desceram desse veículo e instalaram o rastreador próximo à roda traseira direita da Cherokee. Eram José Luciano Souza de Queiroz, 43, e Glauco Sérgio Soares Bonfim, 51, ex-policiais militares apontados como os matadores de Morais.

O dispositivo havia sido ligado, para testes, desde o dia 22 de abril, seis dias antes de passar a monitorar diretamente a vítima. Os pontos mapeados eram acompanhados a partir de um celular. O rastreador só foi encontrado pelos peritos 13 dias após o crime, em 17 de maio. Nos registros de localizações, via GPS, há momentos do carro parado e em movimento. A lista completa chega a 1.070 pontos onde o aparelho esteve, passando pelas cidades de Maracanaú, Caucaia, Fortaleza e Eusébio. Nem todos foram de fato relevantes para o trabalho policial.

Mas a análise do rastreador alcançou pontos importantes da investigação, como coincidências de rotas e horários entre a vítima e os indiciados. O chip cadastrado no dispositivo acabou associado a um celular com identificador (IMEI) e emails ligados a Luciano. São informações que constam no relatório do inquérito nº 322-443/2023, concluído pela 6ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Ernesto, Luciano e Glauco estão presos desde o dia 17 de junho, acusados pela trama e execução da morte de Morais. O documento policial, com o indiciamento dos três e as informações divulgadas nesta reportagem, tem mais de 2 mil páginas. Foi enviado no dia 10 de agosto para o Ministério Público Estadual (MPCE), para possível denúncia à Justiça. Se for acatado, eles viram réus pelo crime de homicídio. O caso irá tramitar na 1ª Vara do Júri de Fortaleza.

A DHPP indica no relatório que houve uma tentativa anterior de fixar o rastreador. No dia 24 de abril, os mesmos ex-PMs foram ao estacionamento da torre comercial onde Morais trabalhava, no bairro Cocó. Chegaram no local, no mesmo Ford Focus, perguntando sobre uma Cherokee preta de um advogado que teria sido anunciada para venda. Morais foi avisado da procura pelos desconhecidos no prédio. Chegou a dividir com amigos seu estranhamento pela procura ao seu carro, mas achou ter se tratado apenas de um engano. Curiosamente, o mesmo rastreador já estava na mão dos acusados e, por estar ligado naquele 24 de abril, ajudou a Polícia a confirmar a própria ida deles ao edifício onde o advogado trabalhava, por volta das 9h30 daquele dia.

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