Desnível do mar: risco de afogamentos preocupa banhistas na Praia de Iracema

Falta de sinalização sobre a profundidade e águas mais violentas no início da praia aumentam insegurança dos frequentadores da orla de Fortaleza

Os banhistas convivem, atualmente, com uma realidade diferente no Aterro da Praia de Iracema, em Fortaleza. No trecho entre os espigões da Rui Barbosa e João Cordeiro, os frequentadores compartilharam, no último sábado, 22, o medo relacionado ao risco de afogamentos. A falta de segurança acontece devido ao desnível do mar no começo da praia, onde nota-se maior profundidade da água com movimentação mais violenta das ondas.

Além disso, a falta de sinalização do local aumenta a insegurança dos banhistas. A situação é observada pelos frequentadores desde a conclusão do aterramento da Praia de Iracema, em 2019, devido às obras de requalificação da Beira Mar, entregues no ano passado. Na manhã do sábado passado, O POVO constatou a falta de placas de sinalização sobre o desnivelamento das águas e de rondas de monitoramento por guarda-vidas.

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No local, há posto de guarda-vidas da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), com a presença dos profissionais, mas poucas pessoas se arriscaram a entrar no mar. O cenário antigo de tranquilidade no trecho agora tem atenção redobrada. Para o representante de vendas e nadador Anderson Messias, 28, a mudança do mar acendeu um alerta.

“Não tinha essa quebra de onda. Antigamente, você conseguia nadar partindo logo aqui no início, mas hoje como a onda está mais alta você fica um pouco mais receoso. O nível de atenção é bem maior do que antes. Só entra quem realmente sabe nadar”, diz o frequentador.

Ainda segundo Anderson, quando traz o seu filho de 2 anos à praia, não se arrisca ao entrar no mar. O banhista destaca que tem medo da força das ondas e do risco de afogamento logo no início da praia. Ele relembra que, antigamente, como a água era mais tranquila era uma boa opção de lazer para a criança.

“Antes, você entrava, brincava de bola e deixava a criança livre. Hoje, se eu resolvo chegar mais perto com ele, é sempre pegando na mão, mas nunca deixando totalmente livre, o que antes não era uma preocupação”, lamenta.

O professor do Departamento de Geografia e pesquisador dos programas de Doutorado em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, avalia que as obras do local proporcionaram as mudanças na dinâmica das ondas.

"As profundas alterações na faixa de praia com o acréscimo de sedimentos entre os diversos espigões perpendiculares e curvados à faixa de praia foram indutoras das transformações artificiais da batimetria próxima à zona de estirâncio (setor entre as marés baixa e alta) com areias provenientes das dunas e das faixa de praia de outros setores", explica.

O sentimento de insegurança no local é compartilhado pelo professor Renato Silva, 31. Ele conta que, em comparação a outras praias cearenses, onde a profundidade da água é menor logo no começo do mar, o trecho da Praia de Iracema, agora, assusta quem frequenta.

Para ele, que costuma trazer o filho Benjamin Adeonato, de 4 anos, é preciso uma maior circulação de informações sobre o cenário da orla para orientação dos banhistas. “A gente fica só no início. Não levei ele para dentro do mar justamente por conta de como o mar está”, relata. 

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O comandante da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), da Guarda Municipal de Fortaleza, inspetor Anísio, informa que, na Praia de Iracema, dois postos com guarda-vidas são responsáveis pelo monitoramento e ações de prevenção. "Eles estão orientados a orientar os banhistas que não conhecem a área. A prevenção é feita todo dia", garante.

Em relação aos cuidados com crianças, o inspetor alerta aos pais e responsáveis que evitem deixar os menores sozinhos, principalmente devido à situação das ondas.

“Quando a maré está subindo, e a maré sobe muito rápido, as ondas são muito fortes. Ela pode arrastar uma criança para o fundo se não tiver um adulto com a atenção dobrada. Corre o risco de ter um acidente muito grave com essas crianças”, alerta o comandante.

A falta de orientação sobre o atual cenário cria uma lacuna na insegurança dos banhistas. “Ficou muito fundo e a gente tem receio”, comenta a advogada Vitória Cavalcante, 24. Segundo ela, já observou muitos relatos de afogamento no trecho da praia. “Mesmo que você saiba nadar, você não tem coragem de avançar muito”, comenta.

A advogada destaca que é necessário uma maior prevenção com os riscos de afogamentos no trecho, como a instalação de placas sinalizadoras e ações de conscientização na orla para orientar os banhistas que não tem informações sobre o cenário da praia.

A Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec) informou ao O POVO, em nota, no sábado, 22, que a ISA, da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), atua para garantir a segurança dos banhistas na orla de Fortaleza, na área que vai da Barra do Ceará ao Mucuripe.

As equipes de Salvamento Aquático, segundo a pasta, estão a postos de domingo a domingo, das 8 às 17 horas, nas localidades da Barra do Ceará, Carapebas, Praia dos Crush, Jangada, Praia de Iracema, Ponta Mar e Náutico, com a média de 2 a 3 guardas por posto. 

A Guarda Municipal foi questionada sobre a falta de placas de sinalização sobre o desnível do mar no trecho do Aterro da Praia de Iracema. 

Em nota, ao O POVO, na segunda-feira, 24, a Inspetoria de Salvamento Aquático da Guarda Municipal informou que está em processo a aquisição de nova sinalização para as áreas de banho da orla da Praia de Iracema.

"As antigas sinalizações instaladas sofreram avarias com o tempo e ação de vandalismo e, por isso, estão sendo substituídas e serão instaladas junto à requalificação da Praia de Iracema", disse o órgão..

O POVO procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) na última sexta-feira, 21, solicitando um levantamento de mortes registradas em decorrência de afogamentos na Praia de Iracema, em Fortaleza, nos anos de 2023 e 2022, assim como quais o perfis das vítimas, e aguarda resposta.

Fortaleza tem aumento de 11% no resgate de afogamentos em 2023

No primeiro semestre deste ano, de janeiro até o fim de junho, o número de pessoas salvas de afogamentos chegou a 151 na orla de Fortaleza. Ao todo, no ano passado, foram 136 pessoas salvas. A Capital registra, até o momento, um aumento de 11% no resgate de banhistas em comparação ao ano anterior.

No balanço dos últimos três anos, de 2020 a 2022, foram 356 vidas salvas, ao todo. Os dados são da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), enviados ao O POVO, no sábado passado. 

Três pessoas morreram afogadas na Praia de Iracema neste ano

Um homem, de 19 anos, morreu afogado nas proximidades da Ponte Metálica (Ponte Velha), do Poço da Draga, na Praia de Iracema, em Fortaleza, na tarde do último domingo, 23, sendo a terceira vítima de afogamento registrado no local neste ano.

Os demais casos registrados na região aconteceram nos meses de janeiro e março. Os dados são de um levantamento feito pelo O POVO, na terça-feira, 25.

A SSPDS informou, em nota, que a vítima foi resgatada por guarda-vidas municipais, que realizaram os primeiros socorros. O homem, no entanto, não resistiu e faleceu. O caso foi registrado no 2º Distrito Policial (2º DP), unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE).

Em nota, a Guarda Municipal, informou que há uma equipe de plantão da ISA, composta por três guardas, todas as sextas-feiras, sábados e domingos, das 8 às 17 horas, na Praia do Hawaizinho.

"A disponibilidade da equipe foi uma demanda atendida pela Prefeitura de Fortaleza a partir da solicitação da comunidade do Poço da Draga e visa garantir a segurança dos banhistas na área nos horários de maior fluxo de pessoas no local", disse.

Ainda de acordo com a Guarda Municipal, foram executadas, em 2022, mais de 510 ações preventivas de caráter educativo, com orientações e abordagens a banhistas.

O órgão ainda recomenda que os banhistas procure os guarda-vidas antes de entrar no mar para saber os melhores locais e receber dicas para um banho seguro e consciente. 

Confira dicas de banho seguro na orla da Capital

- Procurar sempre locais para banho próximos de onde tenha a presença de guarda-vidas.

- Sempre andar com a distância de um braço, no máximo, de crianças, mesmo que elas saibam nadar, e nunca deixá-las sozinhas na água.

- Nadar sempre acompanhado é importantíssimo, pois, em caso de ocorrências, a outra pessoa poderá ser apoio e acionar uma equipe de guarda-vidas.

- Na execução de atividades esportivas aquáticas ou no uso de embarcação, sempre deve-se usar coletes salva-vidas.

- Tomar conhecimento e obedecer as sinalizações vigentes no local é dever de todos. Pulos na ponte não são recomendados, conforme sinalização.

- Evitar mergulhos de cabeça. Acidentes embaixo d'água podem ocasionar em afogamentos e em outros acidentes como machucados, fraturas e até paralisias e morte.

- Em caso de encontrar crianças desaparecidas, as leve para um dos postos de guarda-vidas. Os pais e responsáveis serão localizados.

- A ingestão de bebidas alcoólicas e alimentos muito pesados antes do banho também devem ser evitados.

- O uso de bóias inapropriadas podem promover uma falsa sensação de segurança e facilitar acidentes.

- Competição de jogos de não-oxigenação (segurar fôlego embaixo da água) não devem ser realizados.

- Nunca superestimar a natação ou subestimar o local de banho. Isso é responsável por grande parte dos acidentes com afogamentos, pois as vítimas envolvidas em salvamentos alertam, ao serem resgatadas, que achavam que sabiam nadar.

- Em caso de ocorrência e não houver guarda-vidas no local, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado pelo número 193.

(Fonte: Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF))

 

Veja a movimentação dos banhistas no último sábado, 22

 

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