Lagoa da Parangaba: aguapés tomam parte do espelho d'água

Moradores da região, em Fortaleza, afirmam que o problema se repete anualmente. Plantas são indicativo de poluição e problemas na rede de saneamento básico

O píer de concreto e madeira instalado em 2019 na Lagoa da Parangaba, em Fortaleza, já não cumpre a  função de servir como ponto de contemplação do espaço. Boa parte do espelho d'água está tomado por aguapésSão plantas aquáticas conhecidas pela alta absorção de poluentes. É considerada uma espécie invasora . Quem chega ao local pelas avenidas Carneiro de Mendonça ou Américo Barreira facilmente visualiza o "tapete verde".

A situação já não surpreende moradores do bairro homônimo à lagoa. É o que conta João de Deus, 60, que vive na região desde 1985. "Todo ano é a mesma coisa, sempre fazem uma limpeza na lagoa, mas os aguapés voltam com tudo", comenta.

De acordo com o Canal Urbanismo e Meio Ambiente, da Prefeitura de Fortaleza, a Lagoa da Parangaba é a maior da Capital em volume hídrico, e possui um espelho d’água de aproximadamente 470 mil m². Nos arredores da lagoa, a quantidade de lixo e vegetação impressiona.

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Para Antônio Gomes, 64, que trabalha como vendedor há oito anos na região, a falta de educação das pessoas piora a situação. "Não adianta só colocar culpa na Prefeitura, as pessoas também precisam cuidar. Todo dia você encontra gente jogando lixo aqui", reclama.

 

De acordo com o biólogo e doutor em Biologia Vegetal Marcelo Freire Moro, professor do curso de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC), o aguapé é uma planta aquática, que tende a se multiplicar quando está em um ambiente poluído.

"O aguapé é beneficiado pelo excesso de poluição, o que gera um processo chamado de eutrofização, devido ao aumento de nutrientes na água. Quando a água tem uma quantidade saudável de nutrientes, o aguapé não se multiplica dessa forma", explica o especialista.

Ainda segundo o biólogo, a situação da água fica ainda pior quando os aguapés morrem. "O fato de o ecossistema receber poluentes já torna a demanda elevada por oxigênio, mas a decomposição aumenta ainda mais, e acaba gerando a mortalidade dos peixes".

Moro destaca que os aguapés devem ser vistos como um sintoma do problema, já que, na avaliação do especialista, o descarte incorreto dos esgotos é tido como o ponto chave da situação. "É necessário fazer a retirada dos aguapés, mas é preciso despoluir. Fortaleza tem que avançar em saneamento básico, não só fazer coleta, mas tratar o esgoto de forma eficiente para que não volte a poluir".

Em nota, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger), informou que, no primeiro trimestre deste ano, realizou a limpeza de dez lagoas, 84 canais e mais de 1.500 bocas de lobo, estando a Lagoa da Parangaba entre as áreas contempladas no mês de janeiro.

Ainda de acordo com a nota, a Prefeitura realiza o monitoramento dos espelhos d 'água para a elaboração de um novo cronograma de limpeza do local. Segundo o Poder Público, 18 equipes com apoio de equipamentos como retroescavadeira, pá carregadeira, escavadeira e caminhão multiuso participaram do processo, que é intensificado durante a quadra chuvosa.

Sobre a poluição da água, a gestão municipal afirma que a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) realiza o monitoramento da qualidade da água da Lagoa da Parangaba e dos principais recursos hídricos existentes na cidade.

Por fim, sobre os aguapés, a nota ainda reconhece que "a eventual presença de poluentes presentes no esgoto doméstico e industrial lançados clandestinamente na drenagem de águas pluviais pode agravar o quadro", além de destacar que a situação se agrava durante o período das chuvas.

Por outro lado, plantas também podem ser utilizadas de forma positiva, como nos Parques da Criança e Rachel de Queiroz. Elas auxiliam a filtragem da água, em um processo chamado fitorremediação. A técnica é utilizada pela Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor), responsável pela gestão dos parques.

 

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