Comunidades do Rio de Janeiro viram esconderijo para foragidos cearenses

Suspeitos de ordenar assassinatos no Jangurussu e no Pirambu estão entre os criminosos cearenses que estariam no Rio

Foragidos da Justiça Cearense têm encontrado em comunidades do Rio de Janeiro refúgio para escapar da Polícia do Ceará. Apesar de algumas prisões e mesmo mortes registradas nos últimos anos, informes da Polícia Civil mostram que suspeitos de crimes de grande repercussão no Estado seguem buscando comunidades cariocas dominadas por facções criminosas aliadas para se esconder.

São os casos, por exemplo, de três lideranças da facção Guardiões do Estado (GDE) que, como O POVO mostrou em reportagem nessa segunda-feira, 30, foram até o Rio de Janeiro efetivar uma aliança com a facção Terceiro Comando Puro (TCP). A tentativa de aliança gerou um racha na GDE, que levou a vários homicídios, incluindo a chacina que deixou quatro mortos na comunidade do Lagamar em 18 de fevereiro último.

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Conforme o relatório técnico nº 21/2022 do Núcleo de Inteligência Policial (NUIP), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma das vítimas da chacina, Yuri da Silva Souza, o “Testa”, de 21 anos, havia voltado recentemente do Rio de Janeiro. Lá, ele teria se encontrado com Felipe Bruno Nunes Pereira, o "Boladão", um dos arquitetos do racha na GDE, ao lado de Ismário Wanderson Fernandes da Silva, o "Bacurau" ou "Argentino"; e Aílton Maciel Lima, o "Véi".

Do Rio, o trio teria ordenado o assassinato de Josenildo Marques Palhano, o “Sal”, apontado pelo DHPP como chefe do tráfico de drogas no Conjunto Habitacional Maria Tomásia, no bairro Jangurussu. "Foram usadas 4 (quatro) pistolas novas, na caixa, vindas do Rio de Janeiro, para a morte de SAL”, afirmou uma testemunha no inquérito que investiga a morte de Josenildo. Conforme uma denúncia anônima que consta no relatório técnico nº 21/2022, Boladão se refugia no Complexo da Maré.

Rivais do Comando Vermelho (CV) também estariam se utilizando da estratégia. São os casos, por exemplo, de Carlos Mateus da Silva Alencar, conhecido como “Skidum” ou “Fiel”; e Fábio Almeida Maia, o “Biú”, apontados como chefes do CV no bairro Pirambu. Dentre os crimes pelos quais foram acusados, estão o assassinato do comunicador Givanildo Oliveira da Silva, do portal Pirambu News. Eles também são acusados por dois duplos homicídios ocorridos neste ano: um em 6 de fevereiro e outro em 4 de março.

Conforme investigações da Polícia Civil, os crimes foram ordenados do Rio de Janeiro pela dupla. No inquérito que investiga a morte de Givanildo, uma testemunha afirmou que Carlos Mateus e Fábio se escondem no Morro do Salgueiro. Skidum, inclusive, chegou a gravar lives do Rio de Janeiro ostentando fuzis através de uma conta no Instagram. Por informações que levem a Carlos Mateus, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) paga R$ 7 mil.

O POVO questionou a SSPDS se a pasta mantém contatos com as forças de segurança do Rio de Janeiro e se desenvolve ações visando a captura e localização desses e outros alvos cearenses. Em nota, a secretaria afirmou “que as Forças de Segurança do Ceará mantêm um constante trabalho de inteligência e de comunicação junto às Polícias de outros estados da Federação, visando localizar e capturar suspeitos envolvidos em crimes em território cearense”.

A SSPDS ainda destacou que, somente em 2020, esse trabalho conjunto resultou na captura de 44 foragidos cearenses em diversos estados do País.

Foragidos cearenses já foram mortos em operações no Rio

Outros foragidos da Justiça Cearense já haviam sido identificados no Rio de Janeiro. Há casos de prisões, mas também houve casos em que os foragidos cearenses foram mortos pelas forças policiais fluminenses.

O primeiro caso registrado nos últimos anos data de 31 de julho de 2020. Alban Darlan Batista Guerra, de 25 anos, foi morto em intervenção policial no bairro carioca da Pavuna, após troca de informações entre as polícias civis do Ceará e do Rio de Janeiro.

Darlan era ligado à facção Comando Vermelho (CV), tendo como base de atuação o bairro Padre Júlio Maria, em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza). Na época da morte, Darlan era considerado um dos homens mais procurados do Estado; por informações que levassem a ele, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) pagava R$ 10 mil. Darlan era investigado por vários outros crimes, incluindo mais de dez homicídios.

O fluxo de criminosos do Estado para o Rio teria aumentado quando uma importante figura do tráfico cearense se envolveu em disputas em territórios fluminenses. Max Miliano Machado da Silva, apontado como chefe maior do CV no Ceará, liderava um bando que visava dominar o Complexo das Almas, em São Gonçalo (RJ). O grupo era conhecido como “Tropa do Lampião”. “Nesse contexto, vários subordinados cearenses rumaram para o Estado do Rio de Janeiro e iniciaram uma intensa disputa”, diz uma denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) contra Max Miliano, que viria a ser preso em fevereiro de 2010 no Pará.

Entre os criminosos que teriam aderido à Tropa do Lampião, estão José Erasmo de Sousa Filho e Carlos Menezes Bezerra, mortos em uma operação policial no Complexo do Salgueiro em abril de 2021. Dias depois, viria a óbito em operação policial Lemoel da Silva Santos, o "Panda", no bairro Itaúna, também em São Gonçalo. Lemoel era apontado pela Polícia Civil cearense como chefe do CV no bairro Padre Andrade e já havia sido preso por ameaçar o então secretário da Segurança Pública André Costa.

 

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